Fechando o ciclo da complementaridade
No artigo anterior abordamos a integração de metodologias e tecnologias sociais, cuja complementaridade contribui com a blindagem de públicos alvos, desde a trajetória escolar dos jovens até sua emancipação, dando suporte à sustentação econômica de seus tutores e famílias, através do empreendedorismo e do Desenvolvimento Local das comunidades. Mas, quais as alternativas quando houver insuficiência nos filtros de proteção e alguns jovens acabarem entrando em conflito com a lei, por exemplo?
E por que uma empresa deveria se preocupar com isso? Há conflitos leves, de ordem patrimonialista (furtos) e outros mais complexos, como tráfico de drogas e crimes tão graves quanto, como o assalto, o sequestro e o homicídio. Cumprir medidas socioeducativas (jovens)ou penas (adultos) é inevitável em caso de crimes, sendo a justiça e a segurança pública as responsáveis pela condução do processo. Nos institutos socioeducativos e nos presídios há projetos da própria esfera pública, além de alguns com apoio da iniciativa privada, que, por inspiração dos Direitos Humanos, buscam uma passagem mais digna do infrator em sua privação de liberdade. Algumas iniciativas aproveitam esse tempo para promoverem educação, capacitação, reflexões pessoais e atividades culturais.
Outros, normalmente em casos de conflitos/crimes menos graves, preparam o menor/adulto para seu retorno à sociedade. Duas das metodologias mais utilizadas nessa esfera demonstraram êxito na recondução desse público ao mercado de trabalho e à reinserção social. O Modelo Pedagógico Contextualizado (MPC), método incremental e escalável, aplicado em Centros Socioeducativos na América Latina – CSE’s permitiu aos jovens a passagem por módulos de aprimoramento até galgarem o último nível, com a possibilidade de Liberdade Assistida, e, posteriormente, da liberdade sem o Estado. No caso de adultos, a metodologia APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (usada em São Paulo e Minas Gerais, pioneiramente), também tem níveis de escalabilidade de acordo com o comportamento individual do detento, oportunizando seu acesso ao regime semiaberto e oferecendo-lhe oportunidades profissionais.
Muitas empresas recebem ‘egressos’ tanto das casas de socioeducação (normalmente como menores aprendizes, inicialmente), quanto das prisões, com monitoramento de seus especialistas jurídicos e de suas áreas de RH, além do suporte das esferas públicas responsáveis (Ministério Público Estadual, MP do Trabalho, Poder Judiciário e Secretarias de Estado). Alguns empresários optaram por manter Unidades Produtivas dentro dos próprios presídios, adquirindo os produtos por menor custo e com maior agregação de valor social. Em ambos os casos, busca-se a profissionalização dos internos, sendo bem-vindos tanto o apoio das empresas a projetos das instituições de justiça e segurança pública, quanto a absorção do contingente em reabilitação social.
Isso também ajuda na imagem e na reputação das organizações. Esse processo pode ser mais complexo se incluir dependência química, o que requer maior atenção biopsicossocial. Uma empresa, ente social por excelência, precisa de um tecido social saudável para se instalar, operar e prosperar. Por isso, é crucial participar de iniciativas que promovam o aprimoramento local – tanto em termos de prevenção e empoderamento comunitário quanto de regeneração social. É importante também o apoio privado à melhoria de logradouros para o lazer comunitário; de infraestrutura e da gestão educacional, hospitalar e da própria segurança pública, incluindo contribuições em campanhas de comunicação, esportes, saneamento básico, logística, etc.
Um razoável caminho é a promoção de fóruns na própria empresa, para a destinação de seu investimento social, contando com seus gerentes e empregados, além de agentes externos (tribunais, ministérios, polícias, educadores, secretários, terceiro setor, empreendedores, academias e demais elos), integrando-se olhares de múltiplas perspectivas da questão social para que se elejam intervenções mais assertivas no tecido social. Assim tem-se um autêntico ‘pensar coletivo’ e a mais efetiva Responsabilidade Social Empresarial. Ganha a empresa, a sociedade e a todas as dimensões da Sustentabilidade, a partir da complementaridade.
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