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Festivais de gastronomia movimentam interior mineiro

Nova página abre espaço para o setor
Festivais de gastronomia movimentam interior mineiro
A gastronomia mineira se consolida entre as mais originais do mundo e encanta especialistas de todo o Brasil e fora daqui | Crédito: Divulgação / Vinícola Santa Maria

Há quem identifique “um certo ar de soberba”, mas o que existe é orgulho. O certo é que a gastronomia mineira se consolida entre as mais originais do mundo e encanta especialistas, profissionais e simples gulosos mundo afora e se multiplica através dos festivais espalhados pelo Estado.

O mais recente reconhecimento veio por meio de uma pesquisa feita pelo “Guia Viajar Melhor”, em conjunto com a Travel Media PR, agência global de marketing turístico e análise de dados. O levantamento apontou a cozinha mineira como a melhor do País, seguida da baiana e da paraense.

Mistura de sabores, temperos, cores, tradições, inventividade e profissionalismo, a culinária revela a identidade e modo de vida de um povo. E, por isso, estreamos hoje a página especial “Gastronomia”. Nela, vamos revelar os negócios por trás da melhor comida do mundo, carro-chefe das políticas públicas de fomento ao turismo no Estado e da internacionalização de Belo Horizonte.

O sucesso da cozinha mineira não é pontual. A gastronomia do Estado já foi reconhecida por eventos como o Fusion Madrid, em 2013, e a Capital recebeu da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o título de “Cidade Criativa pela Gastronomia”, em 2019.

Festivais de gastronomia

Uma frutinha tão brasileira que virou até sinônimo de coisas que só existem no Brasil, a jabuticaba tem um festival para chamar de seu em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Fonte de vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina E, fibras, ferro, potássio e selênio, a jabuticaba tem ação antioxidante e contém poucas calorias. Por isso, é considerada uma fruta muito benéfica para a saúde.

O festival acontece há 38 anos, sempre na segunda quinzena de novembro, em meio à safra da fruta. Em 2023, foram 140 mil visitantes e a expectativa é manter o número, já que a cidade estabelece uma capacidade máxima de frequentadores com o intuito de proteger e preservar o patrimônio arquitetônico barroco.

Segundo o coordenador do Concurso do Festival da Jabuticaba de Sabará e Head da M21 Eventos, Bruno Bethonio, o festival começou a partir da união das senhoras que faziam produtos baseados na fruta – licores, bolos, biscoitos, sucos, geleias, entre outros – para as suas famílias e vendiam o excedente para familiares e amigos. Elas criaram a Associação dos Produtores de Derivados de Jabuticaba (Asprodejas)

“Hoje, o festival é a grande vitrine desses produtos, atraindo visitantes de todo o País. Com o concurso, promovemos a adoção de boas práticas, inovação e a valorização desse saber ancestral que marca a identidade de Sabará e de Minas Gerais. A cidade tem uma grande tradição em festivais gastronômicos, com destaque para o Festival do Ora-pro-nobis, e o da Banana, no distrito de Ravena. Isso ajuda a movimentar a economia, valorizar a nossa identidade e vocações e levar o nome de Sabará para o mundo”, explica Bethonio.

Jabuticaba leva gastronomia mineira para a Europa

Mais do que reunir milhares de admiradores e criar público para aquele produto em especial, o grande papel dos festivais de gastronomia é perpetuar o interesse por histórias, produtos e destinos.

A tradição dos produtos de jabuticaba de Sabará está pronta para atravessar o Atlântico e desembarcar em Portugal para o Brasil Origem Week, entre 6 e 9 de junho, na cidade do Porto.

O evento deve percorrer o continente europeu ao longo de 2024, com o objetivo de apresentar marcas, produtos e projetos brasileiros a investidores, traders, empresários e imprensa.

“Selecionamos três produtoras a partir do concurso. Além da qualidade e originalidade dos itens, identificamos esses produtos com potencial para exportação. Em Portugal, elas vão participar de rodadas de negócios com o apoio da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos)”, anuncia o coordenador do concurso.

Festival na Serra da Mantiqueira reúne gastronomia de três estados

Já no Sul de Minas, o Festival Sabores da Montanha ultrapassa as divisas estaduais e reúne cidades e tradições das três faces da Serra da Mantiqueira: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

festival gastronômico Congonhas
Há 22 anos, Congonhas apresenta os segredos das cozinhas da cidade em um grande festival | Crédito: Divulgação / Prefeitura de Congonhas / Daniel Silva

A segunda edição está marcada para o período de 7 de junho e 28 de julho de 2024. A edição anterior incluiu 72 estabelecimentos de 29 municípios. A expectativa, de acordo com o gestor do Grupo Sabores – que gerencia o festival – para este ano é de que cerca de 100 restaurantes participem do evento. No Montanha e Sabores da Praia, segundo Reginaldo Pupo, participaram 45 estabelecimentos de 18 municípios de Minas Gerais, com destaque para Andradas, que teve 15 restaurantes no evento, sendo a cidade que teve o maior número de participantes.

“Não existe um perfil específico para participar, pois a ideia do festival é justamente mostrar a rica e diversificada gastronomia da Mantiqueira. No ano passado, participaram desde pastelarias localizadas em mercados municipais a vinícolas conceituadas. Ou seja, as opções são voltadas a todos os gostos e bolsos. O único critério é que os estabelecimentos estejam situados em cidades serranas. Também não houve uma seleção. Aceitamos todo tipo de estabelecimento, desde que esteja em cidade serrana”, pontua Pupo.

A descentralização do festival de gastronomia que se espalha por uma grande extensão geográfica dificulta a contagem de visitantes. Mas a data escolhida no período do inverno se beneficia da maior concentração de turistas na região. A temporada de frio é a preferida dos turistas que vão para a Serra da Mantiqueira atrás de sossego e comida quentinha feita com os produtos típicos da região: café, queijo, laticínios, entre outros.

“O evento acontece na temporada de inverno, quando a região da Mantiqueira recebe uma média de 2,5 milhões a 3 milhões de visitantes. Para a edição de 2024, a expectativa é de crescimento de 20% em relação à edição anterior. Queremos superar o número de municípios e a quantidade de inscritos. Para os pequenos municípios dos três estados, o festival deu visibilidade para um público que desconhecia seu potencial gastronômico, atraindo turistas apaixonados pela boa comida, ávidos por novidades no setor”, afirma.

O festival tem o objetivo de divulgar a gastronomia típica da Mantiqueira. Na edição passada, participaram cidades sem nenhuma tradição culinária, como Bom Jardim de Minas, Cristina, Itamonte, Passa Vinte, Piranguinho, São Thomé das Letras, entre outras, mas que viram no festival um importante mecanismo de divulgação de sua gastronomia.

“Em Minas Gerais, a utilização de insumos frescos de produtores locais ou regionais valoriza a produção artesanal. Os restaurantes apostaram bastante na chamada ‘comida típica caipira’, como carne de lata, stinco de porco, ‘mexidão mineiro’, entre outras iguarias”, destaca.

Quitandeiras de Congonhas revelam ancestralidade da gastronomia mineira em festival

Há 22 anos, as matriarcas de Congonhas apresentam os segredos das cozinhas da cidade que é Patrimônio Cultural da Humanidade em um festival que reúne mais de 30 mil pessoas em um só fim de semana.

O município, pérola do barroco que fica na região Central do Estado, faz parte do Circuito Turístico do Ouro. Lá, biscoitos, rosquinhas, pães e outras delícias abrigadas sob o título de “quitandas” fazem parte da tradição e ajudam as mulheres da comunidade a ganhar dinheiro desde a época do Brasil Colônia.

Para o superintendente de Desenvolvimento Econômico de Congonhas, Geordane Luciano da Silva, o festival de gastronomia é um ponto de contato com o público externo. Realizado na Romaria, o Festival de Quitandas está marcado para os dias 18 e 19 de maio.

“O evento é muito importante em termos de turismo, indo além do que a Igreja pode ofertar. Ele faz o turista revisitar a cidade. O Festival de Quitandas nasceu de um projeto da Fundação de Cultura (FunCult) para que depois fosse criada a Associação das Quitandeiras. Essa é uma história muito antiga na cidade e o festival é uma forma de dar visibilidade a essas mulheres que carregam a nossa tradição e identidade”, avalia Silva.

Desde a primeira edição, são convidadas quitandeiras das cidades próximas. O evento também promove um concurso com o objetivo de provocar a melhoria da qualidade dos produtos. A última edição contou com cerca de 60 barracas.

Rota das quitandas

O projeto, recém criado, tem por principal objetivo dar protagonismo aos quitandeiros e quitandeiras de Congonhas. A ideia, inspirada na “Rota do Pastel de Angu”, desenvolvida em Itabirito, também na região Central, promete divulgar o trabalho delicado das cozinheiras da cidade.

O cubu – broa de milho assada na folha de bananeira – também conhecido como “João Deitado”, “Pau a pique”, entre outros nomes, é, talvez, a principal atração do festival de gastronomia. Símbolo da mestiçagem brasileira, a quitanda remete ao início da colonização do território que viria a ser Minas Gerais no futuro.

“Não temos tantos lugares vendendo quitandas fora de período do festival. A ideia da rota é dar visibilidade para quem já vive dessa produção em um caminho que possa ser percorrido pela população e pelos turistas com facilidade. Vamos potencializar a imagem das quitandas e das quitandeiras. O cubu, talvez o maior símbolo da nossa identidade, já foi apontado por estudos como um item que agrada os turistas, que pode ser facilmente vendido. O nosso papel é esse – identificar antigas e novas vocações que valorizem os saberes e as nossas pessoas”, completa o superintendente de Desenvolvimento Econômico de Congonhas.

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