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Filme “As órfãs da rainha” triunfa mundo afora; confira trailer

Produzido entre 2017 e 2023, longa-metragem de Elza Cataldo enfrentou muitos desafios para sair do papel
Filme “As órfãs da rainha” triunfa mundo afora; confira trailer
Elenco de "As Órfãs da Rainha" | Crédito: Jonathas Marques Abrantes

Produzido entre 2017 e 2023, o longa-metragem “As órfãs da rainha”, dirigido pela cineasta Elza Cataldo, revela as dificuldades e as oportunidades do setor audiovisual no Brasil e, especialmente, em Minas Gerais.

Parte da cadeia produtiva da economia criativa, o audiovisual é um setor com grande impacto socioeconômico e potencial de retorno aos cofres públicos. Segundo o estudo “Impacto socioeconômico no setor audiovisual de 2015 a 2021”, realizado pela SPcine – empresa de cinema e audiovisual da Prefeitura de São Paulo -, divulgado no ano passado, para cada R$ 1 investido na produção de um filme ou série na cidade, o retorno médio é superior a R$ 20.

E, segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), o Valor Adicionado do audiovisual à economia brasileira supera o das indústrias farmacêutica, têxtil e de equipamentos eletrônicos. São cerca de 13 mil empresas, 300 mil empregos gerados e R$ 25 bilhões por ano.

Gravada no município de Tocantins, na Zona da Mata, a ficção “As órfãs da rainha” relata a vida das irmãs Leonor (Letícia Persiles), Brites (Rita Batata) e Mécia (Camila Botelho), órfãs portuguesas enviadas à então colônia brasileira no século 16 com a ordem de que elas se casassem com pretendentes já determinados.

“Comecei a trabalhar antes de 2017, pesquisando sobre o tema. Li mais de 300 livros, viajei para Portugal e Espanha e vivi um tempo na Bahia. O marco de qualquer produção é quando a gente consegue o primeiro investimento. No nosso caso, ele veio por meio da Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, com patrocínio da Energisa. Assim, consegui contratar parte da equipe, trabalhar no roteiro e começar a produção de arte. A partir disso nos aproximamos do Polo de Cataguases, que também tem o apoio da Energisa”, relembra Elza Cataldo.

Max

Em 2018, o projeto foi apresentado na rodada de negócios da Max – um dos maiores eventos do setor de audiovisual do Brasil, realizado em Belo Horizonte desde 2016, promovido pelo Sebrae Minas. O pitching da produção despertou o interesse de investidores, garantindo parte do orçamento para a produção do filme.

Na edição do ano passado, a Max recebeu 459 projetos audiovisuais de longas-metragens, séries, programas de TV, documentários e reality shows de várias partes do País foram inscritos na rodada de negócios. A versão 2023 do evento está marcada para os dias 7, 8 e 9 de novembro.

Na época, a diretora consolidou uma parceria com a Cineart e entrou em um edital para obter os recursos por meio da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Outra parte do orçamento das filmagens foi assegurada pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, com recursos do ICMS Cultural.

Após peregrinar por diferentes estados em busca da locação ideal para “As órfãs da rainha”, ficou decidido que seria construída uma cidade cenográfica. E a escolha recaiu sobre a Fazenda Brasileira, em Tocantins, Zona da Mata mineira, terra natal da cineasta. A cidade foi, então, integrada ao Polo de Cinema de Cataguases.

“As Órfãs da Rainha” | Crédito: Jonathas Marques Abrantes

Ao longo desses seis anos, a cineasta se dedicou também a outros projetos como o documentário “Silêncio de Eva”. Rodou, no ano passado, seu terceiro longa, “A pedra do sino”. Novamente ficção histórica com protagonista feminina na Minas Gerais de outrora: no caso, uma jovem que, no Serro do século 19, começa a ter visões. O próximo projeto é “Maria, a rainha louca”, sobre Maria I, rainha de Portugal.

“As Órfãs da Rainha” | Crédito: Jonathas Marques Abrantes

“As órfãs da rainha” foi premiado na 14ª edição do Toronto International Women Film Festival, no Canadá. O longa também foi selecionado para o Festival Judaico de Washington e recebeu duas premiações em Los Angeles.

“As Órfãs da Rainha” | Crédito: Jonathas Marques Abrantes

“Sempre tive interesse pela história do Brasil e o cinema, como indústria, tem uma grande possibilidade de levar discussões importantes para um grande número de pessoas. Uma obra histórica só cumpre seu papel quando faz a ligação com o presente. Ao mesmo tempo, o cinema é arte, tem um fazer manual, artesanal, o que faz dele um setor que emprega muita gente que precisa ser capacitada”, destaca a diretora.

Setor surge como via para ampliar base econômica

Em Minas Gerais, o audiovisual desponta como um dos caminhos possíveis para a diversificação da base econômica. O “Diagnóstico Socioeconômico do Setor Audiovisual em Minas Gerais”, realizado pela ONG Contato e pelo Sebrae Minas, em parceria com a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Face/UFMG), divulgado em julho de 2022, descortinou um setor pujante, mas que ainda carece de organização e políticas públicas permanentes. O mapeamento analisou dados econômicos de 2014 a 2021.

Belo Horizonte se destaca nacionalmente. Nesse período, entre 2014 e 2021, o audiovisual brasileiro apresentou uma expansão de 30,72%. Em Minas Gerais, esse crescimento foi ainda maior (52,21%), provavelmente impulsionado pela evolução bastante significativa na Região Metropolitana de Belo Horizonte (104,96%) e, sobretudo, em Belo Horizonte com taxa de 110,71%. Quando se analisa por capitais, os vínculos formais em Belo Horizonte apresentam bom desempenho, atrás de Porto Alegre (RS) e de São Paulo (SP).

Cataguases

Distante 290 quilômetros de Belo Horizonte e 230 quilômetros do Rio de Janeiro, o Polo é sediado em Cataguases e abarca 67 cidades da região da Zona da Mata. Segundo o presidente da Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais (Apolo), César Piva, atuando a partir de três eixos – Governança, Formação e Mercado – o Polo cria novas oportunidades de qualificação profissional, trabalho e renda, promovendo impacto na economia local, honrando o legado de Humberto Mauro, considerado o pai do cinema nacional.

“A diversidade da região é um trunfo que permite que ela se passe por outra região de qualquer lugar do mundo sem que seja preciso construir estúdios. Além disso, estamos bem localizados, relativamente perto das principais cidades do Brasil. A nossa batalha, no início, há dez anos, era dar continuidade, sustentabilidade ao polo, garantindo as produções e a formação de uma geração de profissionais que já são requisitados por produções do País inteiro”, explica Piva.

Nesse tempo, marcado pela pandemia e por trocas de governos que alteraram substancialmente as políticas públicas de incentivo à cultura, o Polo conseguiu produzir 28 longas e duas séries de TV, entre mais de 60 produções.

A próxima obra produzida no Polo já tem data de estreia: em 6 de junho chega às salas de cinema do País o longa “Derrapada”. A comédia dramática, com direção de Pedro Amorim, foi gravada em 2019, em Cataguases e Leopoldina. O longa mobilizou diretamente 70 profissionais do audiovisual, do Rio de Janeiro e da Zona da Mata mineira, além de figurantes, fornecedores e prestadores de serviços.

Em setembro de 2023, Cataguases comemorou a abertura do Curso de Graduação em Tecnologia de Cinema e Animação, resultado de uma parceria estratégica entre a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), o Instituto Fábrica do Futuro e a Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata. E, em maio de 2023, foi a chegada da Escola Senai de Audiovisual.

“A escola Senai vem ao encontro desse movimento, completando a formação e a integração profissional. Até aqui trouxemos filmes para serem realizados no Polo, agora temos uma nova agenda, vamos gerar demanda”, pontua.

E o próximo passo é a inauguração do Anima Park, no final do ano. O investimento de R$ 3 milhões, oriundos de patrocínio incentivado da Energisa, dá origem a um centro de excelência em criação, formação e produção em animação.

“Vamos apostar em animação porque ela reúne a tecnologia tradicional e as novas tecnologias, como robótica e inteligência artificial, que estão inseridas em outras indústrias, como a de games, por exemplo”, avalia o presidente da Apolo.

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