Forecasting avalia ciclos socioeconômicos

A primeira edição do Forecasting 2023/2024, promovido pelo Sindicato da Indústria de Software e da Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Sindinfor) em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), realizou a leitura de cenários socioeconômicos capazes de gerar insights que ajudam empreendedores de diferentes setores e portes a atravessar, não só 2023 de maneira mais fácil, mas também a prever os ciclos que desembocam em grandes crises e os possíveis caminhos para superá-las.
De acordo com o presidente do Sindinfor, Fábio Veras, os convidados conseguiram levar ao público o que existe de melhor em previsão econômica para os próximos 24 meses.
Compuseram o evento o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Sérgio Telles; o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) especialista em macro-cenários estratégicos, Paulo Vicente; o CEO da Kace.AI e ex-diretor de Negócios da Gartner, Adriano Taveira, além do presidente do Sindinfor.
“Os especialistas trouxeram diferentes e importantes reflexões sobre os impactos reais da tecnologia sobre o dia a dia e os resultados dos negócios porque ela está sempre no contexto da economia. Por isso era importante que fizéssemos a integração entre essas faces e eles conseguiram. Saímos daqui com uma bagagem muito mais rica do que quando chegamos”, avalia Veras.
Avaliando os ciclos econômicos históricos, destacou o papel da tecnologia como motor do desenvolvimento econômico e social sem deixar de levar em conta como o quanto ela tornou e ainda torna obsoletos não apenas o modo de produzir, mas também atividades e profissionais.
“Esse não é um processo novo. Isso ocorre regularmente na economia sempre que a tecnologia dá um salto. Ela destrói certos empregos e barateia as coisas – de certa forma democratizando o acesso a produtos – , consequentemente mais gente tem acesso e consome. Um exemplo é a telefonia: os empregos da telefonia fixa foram extintos, mas muito mais empregos foram criados pela telefonia celular. Na prática isso modifica o ambiente produtivo e econômico positivamente, gera mais empregos, mas não necessariamente para as mesmas pessoas. E aí temos um problema”, analisa Vicente.
E, se as crises são cíclicas – mesmo que impactadas por eventos não previstos como a pandemia de Covid-19, em 2020, por exemplo -, é possível construir um planejamento estratégico mínimo para superar os momentos mais difíceis.
Para o CEO da Kace.AI, Adriano Taveira, é impossível dissociar tecnologia, economia e sociedade. Para traçar metas e tornar os negócios competitivos e perenes é preciso não apenas avaliar, como compreender a interação entre essas três dimensões.
“Buscamos aqui falar sobre o planejamento estratégico das organizações e da sociedade. Não é possível pensar em um sem o outro. Isso mostra o quanto é importante analisarmos isso sob o ângulo da economia, da sociologia e da tecnologia. Os ciclos econômicos têm impacto sobre os ciclos sociais – que modificam o comportamento e nos levam à adoção de determinadas tecnologias. Falamos muito sobre o uso da inteligência artificial que se propõe a ser o vetor do incremento da produtividade, que é o que os sistemas econômicos mais estão buscando atualmente”, explica Taveira.
Inteligência Artificial
As polêmicas do ChatGPT e os rumores e temores quanto ao desenvolvimento da inteligência artificial não poderiam ficar fora do encontro. Para os painelistas, tentar impedir o desenvolvimento de uma determinada tecnologia é um esforço perdido.
O que importa é conduzir o seu uso para um resultado ético e justo para a sociedade. O gap tecnológico vivido pelo Brasil ao longo da história e que explica em boa medida os vergonhosos índices de produtividade e competitividade ostentados pelo País precisam ser rapidamente encurtados. Para isso é necessário esforço conjunto das iniciativas pública e privada.
“Isso é uma coisa que preocupa muito. De um tempo pra cá, observando a realidade de outros países, podemos perceber que a exponenciação da produtividade a partir da tecnologia que está sendo buscada está mais avançada em outros países do que no Brasil. Precisamos de esforço da iniciativa privada em parceria com o poder público para que a gente amadureça muito rápido a capacidade de uso dessas tecnologias sob o risco de amargarmos índices cada vez piores de produtividade em uma economia conectada”, pontua o CEO da Kace.AI.
Todo planejamento exige visão de curto, médio e longo prazos, ainda que esses conceitos estejam cada vez mais apertados. Sobre o Brasil, a avaliação é que mesmo que desorganizado, o desenvolvimento do País, pelas suas dimensões, potencialidades naturais e população interessa ao mundo.
“Se existe um plano de tirar as indústrias da Ásia e trazer para o Ocidente, não dá para desviar do Brasil. Em algum momento vai ser preciso encarar e melhorar as condições do País. Uma revolução tecnológica e uma revolução cultural levam a uma revolução econômica, que desemboca em uma revolução política”, prevê o professor da FDC.
Assim, o conselho para o Brasil no curto prazo, do professor Paulo Vicente é: cautela. Para o médio prazo: absorção das novas tecnologias e capacitação das pessoas e para o longo prazo, diversificação dos parceiros econômicos.
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