Famílias empresárias crescem com base em governança sólida

Berço da maioria das empresas de todo o mundo, as famílias seguem como molas propulsoras da economia no Brasil e no mundo. Responsáveis por 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e 75% dos empregos do País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pequenas empresas familiares raramente são longevas. O Índice Global de Empresas Familiares, da PwC, aponta que apenas 7% desses negócios chegam à quarta geração da família. O problema pode estar na clássica falta de governança das empresas familiares.
Definida como um sistema que estabelece regras e estruturas para orientar e controlar as organizações, visando à gestão ética, responsável e transparente, e ao alinhamento dos interesses de todos os envolvidos (acionistas, diretores, empregados, clientes, entre outros), a governança corporativa promove a geração de valor sustentável para a empresa, seus sócios e a sociedade, equilibrando os interesses de todas as partes interessadas.
Por isso, o Capítulo Minas Gerais do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) promoveu o Fórum Temático de Famílias Empresárias, em Belo Horizonte, na quarta-feira (28). O evento trouxe como caso a história da rede de hospitais Mater Dei, sediada na capital mineira.
Criada há 45 anos, no bairro Santo Agostinho (região Centro-Sul), hoje o Mater Dei possui 10 unidades espalhadas por Belo Horizonte, Betim e Nova Lima, na Região Metropolitana da Capital, Uberlândia (Triângulo Mineiro), Feira de Santana e Salvador (BA), Goiânia (GO) e está construindo uma unidade em São Paulo (SP).
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Presidente do Conselho, Henrique Moraes Salvador Silva, membro da segunda geração, foi durante 12 anos presidente da rede.
“Essa é uma indústria dinâmica, sujeita a muitos fatores externos. Quantos planos econômicos, movimentos políticos passamos ao longo da história, mas, independentemente disso, o setor passou por mudanças muito grandes, assumindo mais responsabilidades e custos. Então, para passar por tudo isso, precisamos de um propósito. E, desde sempre, a nossa missão é o compromisso com a qualidade e segurança do paciente. E uma visão de futuro. Quando compramos o terreno para o primeiro hospital, ele era muito maior do que precisávamos. Mas ele foi comprado já visando uma expansão futura, que aconteceu 20 anos depois”, relembra Salvador.
Um dos pontos-chave, segundo o executivo, para o sucesso e expansão da rede foi o precoce estabelecimento de regras de governança corporativa e a preparação do processo de sucessão. Apesar de trazer executivos de mercado para compor a diretoria, ficou estabelecido que a presidência deve permanecer sempre com um membro da família, que passa por um intenso processo de formação ao longo da vida e de seleção dentro do conselho familiar.
“No nosso caso, a governança foi sendo estruturada aos poucos. Até 2011, havia uma centralização muito grande das decisões, o que é natural numa empresa familiar em que o fundador está à frente. Depois, passamos por uma fase de crescimento, com a inauguração de mais unidades. Naquele momento, trouxemos do mercado um executivo que havia sido CEO de uma indústria de refratários, e ele trouxe muitos insumos importantes, inclusive na área de governança. Uma coisa que sempre fizemos foi nos assessorar com pessoas que pudessem nos apoiar. Quando demos os primeiros passos da nossa governança, buscamos apoio da Fundação Dom Cabral. Então, na verdade, a governança foi amadurecendo aos poucos, e a gente foi aprendendo ao longo do caminho”, explica o presidente do Conselho.
Para o palestrante do IBGC e conselheiro Thiago Salgado, o exemplo do Mater Dei como empresa familiar de sucesso está ligado à compreensão de que a família precisava se profissionalizar e, para isso, era necessário estabelecer processos de governança com critérios claros e objetivos, especialmente no processo sucessório.
“O que vemos no Mater Dei é um exemplo raro de compreensão precoce da importância da governança para uma empresa familiar. Não existe uma receita infalível, mas eles encontraram um modelo que atendeu às necessidades da empresa e às expectativas dos membros da família, porque era um modelo transparente e objetivo. A sucessão deve ser um processo de continuidade. Ela não é um evento, mas sim um processo construído com diálogo e com vistas ao futuro da companhia, como aconteceu aqui”, avaliou Salgado.
A realização do Fórum Temático de Famílias Empresárias, em Belo Horizonte, faz parte de um planejamento do Capítulo Minas Gerais do IBGC para expandir os ambientes de divulgação e discussão sobre governança corporativa no Estado.
O próximo encontro está marcado para a sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), no dia 1º de julho. O evento contará com painéis sobre os temas Sustentabilidade e Cenário Geopolítico Global e mais um caso mineiro de governança corporativa. Na ocasião, também será lançado o Pacto Estadual pela Governança, com adesão da Fiemg e da Fecomércio.
“O nosso objetivo é fortalecer a agenda de governança em Minas Gerais. Para isso, o Pacto é muito importante, porque ele leva a governança para o nível institucional, indo além da vontade de um ou outro líder, que pode deixar a companhia em algum momento. Começamos muito bem com a adesão da Fiemg e da Fecomércio-MG (Federação do Comércio, Serviços e Turismo de Minas Gerais), e aproveitamos para convidar outras entidades do Estado”, completa o coordenador-geral do Capítulo Minas do IBGC, Luís Gustavo Miranda.
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