Franchising segue confiante em 2025, diz presidente da ABF

Ele foi reeleito para comandar a segunda maior associação de franquias do mundo, a Associação Brasileira de Franchising (ABF). Nos próximos dois anos, o CEO e sócio do Grupo Trigo – que é o controlador das marcas China In Box, Spoleto, Gendai, ASA Açaí e Koni Store –, Tom Moreira Leite, tem a missão de conduzir mais de 1700 associados e representar um mercado que movimenta mais de 2% do PIB brasileiro.
Você já tem experiência à frente da ABF, estando lá, inclusive durante a pandemia e foi vice-presidente da entidade entre 2019 e 2022 e presidente do último biênio (2023 e 2024). Quais os principais desafios da gestão que começa no início do ano que vem?
Quando olhamos séries históricas de desempenho macroeconômico pós crise, sempre vemos o franchising se recuperar mais rápido. O que tem de mudança está nos hábitos dos consumidores. Nesses últimos anos alguns hábitos foram incorporados pelas famílias brasileiras. No setor de alimentação, por exemplo, o delivery passou a integrar a vida do brasileiro. Isso fez com que os operadores tivessem que adotar uma série de soluções tecnológicas para permitir que esse novo hábito de consumo e as transações digitais que permitem que esse serviço seja prestado se dessem em um ambiente seguro e eficiente. Esse tema de multicanalidade e de virtualização impacta todos os segmentos do franchising. Toda essa mudança é puxada pelo consumidor e os ciclos de mudança estão cada vez mais curtos. O empresário que está mais em cima do espírito do tempo é capaz de incorporar isso ao negócio. O franchising tem uma característica que nos coloca numa posição de maior avanço nessa agenda que é ser um sistema em que tem, de um lado, o franqueador pensando nas estratégias de longo prazo, nos próximos ciclos de inovação e renovação da marca; e o franqueado, de outro, que está na ponta, solucionando os problemas do dia a da e levantando informações e insights para a franqueadora.
O franchising é um modelo de expansão considerado seguro porque é feito com capital de terceiros, do lado do franqueador, e, do lado do franqueado, é um negócio já testado. Mas como nada é perfeito, para quem, tanto de um lado, como de outro, o modelo de franquias não é indicado?
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O franchising, realmente, não é para todos. O franqueador tem que ter uma postura humilde e saber que existem melhores práticas que serão trazidas por esse parceiro de negócios, que é o franqueado. E esse franqueado tem que gostar de seguir regras e padrões. Claro que ele pode propor inovações, mas ele não pode fazer tudo do jeito dele.
Ainda não temos, claro, os resultados de 2024, mas o que foi divulgado sobre o terceiro tri foi muito bom, com crescimento de 12,1% na comparação com o terceiro tri do ano passado. Qual a expectativa para o balanço do ano? Devemos ultrapassar a estimativa feita no fim de 2023 que era de 10%?
Os resultados até aqui estão muito acima do que nós esperávamos. Quando olhamos o acumulado dos últimos 12 meses, estamos um pouco acima de 14%. A minha expectativa é que a gente encerre acima da expectativa inicial. Sobre 2025 ainda não fechamos a análise. Temos fatores muito positivos e outros de preocupação. Falando sobre os fatores macroeconômicos, temos assistido um PIB (Produto Interno Bruto) acima do esperado no início do ano. O franchising, embora tenha o poder de exponencializar a retomada da economia, não é uma ilha isolada. Sem sombra de dúvidas, esse crescimento do PIB que deve ficar acima de 3%, em 2024, e que nesse último trimestre também surpreendeu os analistas com 0,9%, com um impacto positivo em indústria, varejo e serviços – o que engloba todo o franchising brasileiro, é um indicador que nos anima. Existe uma expectativa positiva para uma boa safra no início de 2025. O bom desempenho do agro tem levado as redes de franquia a se estabelecer em polos e cidades no entorno dessa regiões onde a agropecuária é muito forte, contribuindo para o crescimento do franchising. Por outro lado, todo empresário olha com cuidado para essa curva ascendente da (taxa) Selic, que guarda da relação direta com o tema da inflação. Claramente a atual política monetária tenta conter os efeitos inflacionários. Trazendo uma perspectiva bem pessoal, a inflação é sempre algo que me preocupa porque ela tem um efeito nefasto sobre o poder aquisitivo, em especial, sobre as classes econômicas menos favorecidas e a classe média, que são os grandes consumidores do franchising brasileiro. Por outro lado, é claro que uma taxa de desocupação baixa em níveis recordes, é positiva. Eu digo que quero ver os brasileiros empregados, estudando, sendo educados, isso aumenta o consumo. O emprego permite que eles consumam e realizem os seus sonhos. Isso traz alguma eventual dificuldade de contratação mas, nesse sentido, o franchising sai mais uma vez na frente. 17% da nossa força de trabalho, que já está em 1,7 milhão de pessoas trabalhando nas unidades franqueadas, é de primeiro emprego, somando quase 300 mil brasileiros. Não podemos esquecer que está no DNA do franchising a educação e capacitação empreendedora. Então, capacitação, educação e um terceiro elemento, o ambiente de trabalho, uma cultura organizacional positiva, são elementos que atraem e permite que as pessoas fiquem muito tempo nas empresas. Se um desses elementos não está na mesa, fatalmente, em um mercado aquecido de trabalho, a pessoa vai procurar outra oportunidade e vai encontrar. Outra crença pessoal minha é que o empreendedorismo é uma força transformacional, em especial, o empreendedorismo que embarca nos temas de capacitação e educação. Isso, junto com boas políticas públicas é muito poderoso. Sigo enxergando em 2025 um franchising forte e robusto, com um crescimento em todos os segmentos. Nesse momento os 12 subsegmentos descritos pela ABF crescem.
A recente pesquisa feita pela ABF que mostra as cidades que mais crescem ilustra bem o que você está falando sobre o resultado e sobre como o agro está dinamizando o franchising não só em áreas onde ele não estava, mas também atendendo necessidades e nichos que ele não atendia antes. No passado a gente viu isso com algumas indústrias. Siderúrgicas, por exemplo, abrindo redes de lojas. Talvez o maior benefício para essas marcas não seja a venda, mas sim o relacionamento com diferentes públicos. Faz sentido?
De fato, quando a gente vê indústrias investindo em canais proprietários de varejo – claro, sem abandonar a cadeia de distribuição tradicional – o tema de contato direto com o consumidor é fundamental. Quando a gente vê uma grande indústria de chocolate, por exemplo, investindo em uma rede de varejo, ela aumenta a capacidade de perceber as mudanças nos hábitos de consumo, a capacidade de se conectar através do franqueado, isso é muito poderoso. Essa é uma tendência mundial e o franchising se apresenta como canal para diferentes indústrias. Temas de impacto, como o da responsabilidade ambiental e economia circular, por exemplo, são puxados pelo consumidor, mas eles também apresentam oportunidades de negócios. A gente já começa a ver, por exemplo, no franchising redes que vendem itens de vestuário de segunda mão. Esse é um negócio intimamente ligado à uma nova consciência do consumidor que se reflete em novos hábitos. Então eu queria ressaltar que o tema de ESG é muito importante e traz oportunidades de negócios também.
Já falamos sobre a interiorização do franchising brasileiro e agora precisamos falar de outro fenômeno que é a internacionalização das marcas. Estamos vivendo um bom momento para apresentar as marcas brasileiras no exterior através do franchising?
Temos essa oportunidade e o franchising tem a característica de fazer a expansão de forma mais acelerada. Temos dentro da ABF um programa em colaboração com a Apex, que é o Franchising Brasil. Hoje temos 205 marcas em 125 países. No nosso mapeamento, são 2 mil operações fora do Brasil. Claro que nem todos os modelos de negócios tem potencial de se internacionalizar porque alguns estão muito ligados ao contexto brasileiro, mas muitos – lembrando que são mais de 3 mil marcas franqueadoras – são bastante desejados fora do Brasil. Fazendo dois comentários: o Brasil ainda é uma oportunidade de crescimento gigantesca para qualquer negócio. Agora, quando você atingir um nível de maturidade como franqueador, seja porque você já ocupou o território ou porque o modelo é facilmente replicável em mercados internacionais, eu diria que o franchising é um modelo de transferência muito vigoroso. E agora começamos a abrir uma outra agenda: a China se abrindo a receber produtos brasileiros por meio dos marketplaces que vendem produtos para chineses. Essa é uma oportunidade para os empresários brasileiros testarem o mercado chinês sem precisar abrir uma unidade física. Quero dizer que internacionalizar usando o franchising ficou uma coisa mais simples e a inteligência artificial favorece muito o processo. Antigamente, a tradução dos manuais, por exemplo, era demorada e cara. Hoje, ficou muito mais fácil. As fronteiras estão mais próximas e o franchising mais maduro.
Falando de Minas Gerais, qual a importância do Estado para o setor de franquias e do acordo assinado entre a ABF e o Governo de Minas?
Falando da importância histórica do Estado para o franchising brasileiro, é extremamente significativa não só porque abraça as marcas, mas também como berço de grandes franqueadoras como Localiza, Depyl Action, Acquazero, entre outras. Minas sempre foi o quarto mercado para o Grupo Trigo. Minas não só é um polo extremamente relevante como o Governo de Minas tem se mostrado sensível e entusiasta dessa agenda de fortalecer o franchising entendendo que o modelo é uma alavanca de desenvolvimento importante para o Estado. Temos como diretor regional o Antônio Bortoletto, que é franqueador do Clube de Permutas, um modelo que nasce em Minas e já está se internacionalizando. Ele tem sido capaz de fortalecer essa interlocução com o Governo de Minas. Estamos firmando esse acordo de cooperação com elementos relacionados com os temas de financiamento, capacitação, atração de empresas que desejam se estabelecer, tanto franquedoras como unidades franqueadas. Esse conjunto de elementos e esse entendimento do governo nos enche de otimismo. Tudo que falei sobre as possibilidades para o Brasil, tenho certeza que vai ser ainda mais forte em Minas Gerais.
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