Franqueadoras decidem abrir mão de receitas

Para se manter de pé, franqueadoras reavaliaram a rota e ficaram mais próximas dos franqueados, abrindo mão de receitas previstas em contrato e lançando novas ferramentas e canais de venda. Acostumado a resistir às mais severas crises econômicas e intempéries políticas, nem mesmo o franchising brasileiro passou incólume aos efeitos devastadores da pandemia.
O balanço divulgado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) revela que em 2020 o faturamento geral recuou quase três anos. Em 2017, o faturamento foi de R$ 163,319 bilhões. No ano passado, o faturamento foi de R$ 167,187 bilhões, contra R$ 186,744 bilhões, em 2019. Queda apurada de 10,5% no último exercício.
As novidades parecem ter surtido efeito. A boa notícia é que o setor de franquias manteve sua curva de recuperação no 4º trimestre de 2020, se aproximando dos níveis pré-Covid-19. Segundo o mesmo estudo da ABF, o setor registrou uma receita apenas 1,8% menor no período, comparado ao 4º trimestre de 2019, que foi de R$ 54,966 bilhões para R$ 53,976 bilhões.
Negociando sua primeira unidade em Minas Gerais – em Pouso Alegre, no Sul de Minas – a Micropro Desenvolvimento Profissional e Comportamental, parcela a taxa de franquia em três vezes para novos candidatos interessados em abrir uma microfranquia ou franquia de sua marca.
De acordo com o fundador e CEO da MicroPro, Fábio Affonso, a rede – que tem 35 escolas profissionalizantes no Estado de São Paulo – aprimorou seu sistema híbrido de aulas presenciais e on-line; apoiou os franqueados que decidiram reformar as escolas ou mudá-las de ponto e conseguiu atravessar o período com excelentes resultados.
Numa microfranquia (escola física para cidades de 70 mil habitantes), o investimento médio é de R$ 89 mil, com taxa de franquia de R$ 10 mil. Numa franquia, o investimento médio é de R$ 120 mil, com taxa de franquia de R$ 30 mil.
“Em 2019 mudamos o método de ensino. Quando veio a pandemia já tínhamos esse produto e já estávamos reduzindo os custos com professores. Assim, mesmo com a diminuição no número de matrículas, as escolas tiveram um saldo positivo e passamos praticamente ilesos por esse período. Nesse começo de ano o baque voltou a ser grande. E já estávamos com os custos chegando ao limite. Forçamos mais o custo de implantação para baixo e a operação passou de R$ 300 mil para R$ 88 mil. Foi uma reviravolta”, relembra Affonso.
Considerada uma das “rainhas do interior”, a franquia de restaurantes Água Doce – Sabores do Brasil também abriu mão de receitas previstas em contrato e se aproximou ainda mais dos franqueados. A cobrança dos royalties, que antes era de 5%, mudou para 3% e houve a suspensão da cobrança de fundo de propaganda em 2020. Houve também negociações com fornecedores e junto com os franqueados com o parcelamento de fundo e royalties.
Segundo o diretor de franquias da Água Doce, Julio Bertolucci, as unidades da rede ampliaram o delivery para novos horários, inclusive na hora do almoço, já que alguns restaurantes funcionavam apenas no período do jantar. A marca também ampliou sua presença digital com a implantação de cardápio digital para facilitar o acesso do cliente aos itens da Água Doce.
“Quando a crise começou não tínhamos outro caminho a não ser o delivery. Já vínhamos antes trabalhando embalagens, fizemos uma parceria forte com o Ifood. Fizemos ações como o delivery de bebidas. Como os nossos espaços são grandes, eles ficaram ociosos. Instruímos os franqueados para tentar renegociar aluguéis, por exemplo. Diminuímos taxas, essa é hora da parceria. Suspendemos o fundo de propaganda, os royalties foram suspensos por três meses e depois reduzimos o percentual de 5% para 3%. Sentir as dores do franqueado é muito importante, por isso é importante o franqueador ter loja própria. Existe com isso um efeito psicológico também, as pessoas se sentem melhor, acolhidas, registramos 97% de satisfação do nosso franqueado com a franqueadora”, explica Julio Bertolucci.
Todo esse esforço valeu a pena e a marca não registrou nenhum fechamento desde o início da pandemia. A rede tem quatro unidades em Minas Gerais – Frutal e Uberlândia, no Triângulo; Pouso Alegre e Varginha, no Sul de Minas – e prevê avançar sobre o Estado em 2021.
“Durante a pandemia falamos muito com potenciais franqueados no Estado. Nossas lojas em Minas performam muito bem. A expansão vai depender muito do interesse, queremos crescer no Estado correndo, até pelo potencial econômico. Reduzimos 30% na taxa de franquia e temos bastante interessados”, destaca o diretor de franquias da Água Doce.

Empresa dá apoio por meio da capacitação dos gestores
Para garantir a sustentabilidade da rede, a Bibi Calçados seguiu passos parecidos aos das suas colegas franqueadoras, dando suporte financeiro e capacitando seus franqueados. A marca sediada no Rio Grande do Sul e planta produtiva em Parobé (RS) e Cruz das Almas (BA), hoje tem mais de 130 lojas espalhadas pelo Brasil e exterior. Logo no início da pandemia, se manteve no mercado por meio do e-commerce e de serviços de delivery em todo o Brasil.
De acordo com a presidente da Calçados Bibi, Andrea Kohlrausch, entre as medidas tomadas pela empresa para auxiliar os franqueados, em casos específicos, foi conversado diretamente com a unidade para entender cada situação até as aberturas de lojas; houve a isenção da cobrança do fundo de marketing enquanto as lojas estiverem fechadas, auxílio na revisão de fluxo de caixa da unidade e contato com os shoppings para auxiliar com negociação de aluguel junto com as lojas.
“Ninguém esperava todos esses fechamentos e restrições em 2021. Consideramos que temos uma curva de aprendizado nesse um ano de pandemia e estamos sempre muito abertos a nos reinventarmos. Implementamos coisas novas: como as lives shopping, ano passado foi a venda por Whatsapp, com a venda-link, que poucos usavam anteriormente. Dessa vez não teve MPs, então tentamos trabalhar muita capacitação. Também auxiliamos muito negociando um a um. Não dava pra fazer uma receita pra todos, porque as situações eram diferentes”, afirma Andrea Kohlrausch.
Há 72 anos no mercado, a Bibi tem planos para abrir 20 lojas no Brasil e outras 12 no exterior ainda em 2021. Parte dessas inaugurações pode ser em Minas Gerais. o recém-lançado modelo light – com investimento médio de R$ 300 mil – pode ser uma das alavancas desse crescimento.
“Os planos para o primeiro semestre ainda são conservadores por conta dessa primeira metade em que a crise sanitária voltou com ainda mais força. Mas acreditamos em um segundo semestre de forte recuperação, contando que a vacinação avance. Minas Gerais está mapeada para essa expansão e pode receber até mais unidades”, completa a presidente da Calçados Bibi.
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