Franquias e shopping centers: uma relação de cooperação

Uma volta qualquer por um shopping, seja ele dos mais tradicionais, strip ou especializados, revela ao consumidor a forte relação entre o empreendimento e o modelo de franquias. De acordo com a pesquisa “Mix dos shoppings: impacto das franquias”, realizada pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), em parceria com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), no meio do ano passado, as franquias representam 27% das lojas nos shoppings.
O estudo ainda mostra que entre as 50 marcas mais presentes nos shoppings, destaca-se a forte presença das franquias, com 36 das principais (72%), o que evidencia a relevância do modelo dentro dos empreendimentos.
Para a consultora de varejo, Uana Amorim, essa relação é simbiótica. Se, para os shoppings, é ter no mix marcas já experimentadas e grupos empresariais consolidados; para as franqueadoras, é estar em empreendimentos bem estruturados e com público fiel; e para os franqueados, a oportunidade de fazer boas negociações e ter o custo fixo reduzido.
“As marcas internacionais de varejo chegaram ao Brasil por meio das franquias e ocupando espaço nos shoppings que começaram a surgir. Isso se mantém e é uma tendência mundial. Além disso, estamos vivendo um momento em que as marcas nativas digitais estão buscando oportunidades também no mundo físico. Muitas têm optado pela franquia como modelo de expansão e os shoppings têm se mostrado, novamente, um espaço privilegiado para isso”, afirma Uana Amorim.
A diversidade de espaços – lojas âncora, satélites, quiosques, espaços nos jardins, áreas abertas, sacadas, terraços, estacionamentos, entre outros – oferecidos pelos shoppings também agrada ao sistema de franquias, que busca novos formatos – standard, express, home based, compartilhado, store in store, entre outros – para atender às necessidades e desejos dos seus franqueados e consumidores.
“A franquia é um investimento muito mais seguro do que o comércio independente. E elas têm ficado mais baratas. Os quiosques são uma boa opção para quem está começando. Os shoppings estão trabalhando o marketing, criando o desejo não só pelas marcas, mas também pelos serviços. A partir de 2023, começamos a ver influenciadores falando sobre os shoppings e não só sobre as marcas”, pontua a consultora.
Dentre as 1.395 marcas filiadas à ABF, 530 têm presença em shoppings (38%). O estudo destaca ainda que, das 13 marcas que estão presentes em mais de 50% dos shoppings, nove são franquias. Além disso, entre as categorias, considerando o total de lojas em shoppings, observa-se que as categorias com maior peso das franquias são: calçados (55%), alimentação (48%) e perfumaria e cosméticos (44%).
Em termos de representação de franquias nos empreendimentos, O Boticário lidera, estando presente em 76% dos shoppings em operação no País. Em seguida, destacam-se Cacau Show (71%), Chilli Beans (62%), Burger King (61%), McDonald’s (58%), Lupo (55%), Espaço Laser (54%), Havaianas (52%), Hering (50%) e CVC (48%).
De acordo com a diretora adjunta de Expansão da ABF, Renata Rouchou, a relação entre shoppings e franquias é marcada pela organização e mitigação de riscos para o empreendedor que os dois sistemas oferecem.

“É interessante notar como todos os segmentos do franchising estão inseridos nos shoppings e como eles estão distribuídos. A média de lojas por franquia no segmento de brinquedos, por exemplo, chega a 91,3; e no segmento de calçados, 79,4. Isso mostra que as franquias fazem parte de categorias imprescindíveis para os shoppings”, explica Renata Rouchou.
Outro ponto destacado pela executiva é o movimento de interiorização dos shoppings e de crescimento dos shoppings de conveniência em diferentes regiões das grandes cidades. A crescente prosperidade do interior nas últimas décadas, têm exigido não só a construção de shoppings, mas a presença de marcas de renome nacional.
“Mais uma vez o movimento é simbiótico. As pessoas não querem qualquer marca. Elas querem as suas marcas de desejo em lugares que ofereçam uma boa experiência. Então as franquias ajudam os shoppings a chegarem ao interior e vice-versa. A isso, soma-se a relação cada vez mais estreita entre as duas entidades e outras, aliando expertise e acelerando o movimento de modernização dos shoppings e das franquias”, analisa a diretora adjunta de Expansão da ABF.
Shoppings mineiros valorizam relação com franquias
Criado há 34 anos, o Shopping Cidade, no hipercentro de Belo Horizonte, tem um dos maiores índices do Brasil de vendas por metro quadrado de área bruta locável (ABL), segundo dados da Abrasce. São 21,8 mil metros quadrados (m²) de ABL distribuídos por seis andares e mais de 170 lojas e quiosques.
De acordo com a superintendente do Shopping Cidade, Luciane Starling, o índice de unidades franqueadas no mall alcança a marca de 37% e poderia ser ainda maior.
“Temos casos de marcas que, mesmo sendo franquias, escolheram ter no Cidade lojas próprias. É o caso da Cacau Show, por exemplo. Havia uma unidade franqueada que ocupava uma loja de 35 metros quadrados. A franqueadora recomprou a unidade e abriu uma loja conceito de 304 m² – a maior de Minas Gerais -, que é um sucesso absoluto. Como a Cacau Show existem outros exemplos de franqueadoras que escolheram ter lojas próprias conosco”, explica Luciane Starling.
Para a gestora, o sucesso do shopping, que tem administração própria, está ligado à inteligência na composição do mix de lojas. A vacância é extremamente baixa e estratégica. A ocupação se dá pela prospecção do próprio centro de compras, que identifica as marcas desejadas pelos seus consumidores; pelas marcas que identificam entre os consumidores o desejo pelo shopping e também pelos candidatos a franqueado.
A marca de moda íntima Hope, por exemplo, escolheu o Shopping Cidade antes de ter o franqueado. Já a rede de academias Smart Fit é um exemplo de “casamento perfeito”, em que shopping e franquia já haviam mapeado o interesse de um pelo outro.
“Tínhamos sempre o pedido para ter uma academia. Buscamos a Smart Fit. Ela detectou que eles também tinham o pedido de vir pra cá. Foi o encontro ideal. Ela ocupa dois andares e está sempre lotada. Temos uma vacância programada. Hoje, por exemplo, temos o Parque do Enaldinho, uma atração de férias sensacional e já temos um contratado para o lugar dele. Muitas vezes é preciso deixar que a vacância aconteça para oxigenarmos o mix”, pontua a superintendente do Shopping Cidade.
Com 11 anos de atuação no mercado, focada no desenvolvimento e rentabilização de ativos imobiliários, a GSA Ativos, sediada em Belo Horizonte, tem no portfólio sete centros de compras de diferentes portes e perfis na Capital e sua região metropolitana.
Segundo a executiva comercial da GSA Ativos, Ludmila Mendonça, a proporção de unidades franqueadas nos shoppings da rede segue em linha com a apurada pela pesquisa realizada pela Abrasce. E, na média, essas unidades têm desempenho superior às lojas independentes.
“Percebemos que as franquias dão mais certo que as lojas próprias pela experiência da marca. Quando a franquia já é conhecida no mercado, ela tem 80% mais chances de dar certo, tanto em lojas âncora como nas lojas satélite”, avalia Ludmila Mendonça.
Na categoria “power”- tipo de shopping focado em grandes lojas de varejo. É um conjunto de lojas âncoras e megalojas, com poucas lojas satélites -, o Centerminas (região Nordeste) é um caso emblemático entre os empreendimentos da GSA, com vacância próxima a zero a maior parte do tempo.
“A relação entre os shoppings e as franqueadoras é frutífera porque os dois conseguem atingir o desempenho desejado. No pós-pandemia as pessoas querem a experiência do presencial e a comodidade do digital. A variedade de oportunidades oferecidas pelos shoppings permitem até que a mesma marca tenha diferentes operações no mesmo mall”, completa a executiva comercial da GSA Ativos.
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