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Funed retoma produção de soros antipeçonhentos com reinauguração de fábrica em BH

Os soros devem reforçar o abastecimento nacional por meio do Ministério da Saúde e garantir mais segurança para a população atendida pelo SUS
Atualizado em 25 de março de 2025 • 17:14
Funed retoma produção de soros antipeçonhentos com reinauguração de fábrica em BH
Crédito: Divulgação Funed

Foi reinaugurada, nesta terça-feira (25), a Fábrica de Produção de Soros Hiperimunes, da Fundação Ezequiel Dias (Funed), no bairro Gameleira, na região Oeste de Belo Horizonte. O fármaco é essencial para o combate aos efeitos do envenenamento por animais peçonhentos no Brasil.

Com a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Funed retoma a produção de soros antipeçonhentos e reforça o abastecimento nacional por meio do Ministério da Saúde. Os soros devem estar disponíveis na rede pública ainda em 2025, garantindo mais segurança para a população atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A produção própria de soros teve início em 1935 e, com investimentos do Programa de Autossuficiência Nacional em Imunobiológicos (Pasni), atingiu a marca de 150 mil ampolas anuais na década de 1980.

Em 2016, a produção foi interrompida para adequações às Normas de Boas Práticas de Fabricação. A retomada só foi possível com melhorias na unidade fabril e na Fazenda Experimental São Judas Tadeu, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A autorização da Anvisa, conquistada no final de 2024, foi o último passo para a volta da produção.

Funed
Crédito: Divulgação Funed

De acordo com o presidente da Funed, Felipe Attiê, a Fundação possui registro para a produção de oito tipos de soros, entre eles os antipeçonhentos (antiofídicos e antiescorpiônicos), antitóxicos (antitetânico) e antivirais (antirrábico).

Segundo o vice-governador Mateus Simões, a retomada da produção, por enquanto, não deve gerar novos postos de trabalho.

“Estamos falando do uso da mão de obra já instalada da Funed, que vinha sendo comprimida pela falta de funcionamento da fábrica. Mas cada um dos novos contratos celebrados geram novos empregos, não necessariamente através de concursos dentro da Funed, mas, muitas vezes, através dos laboratórios consorciados que vão se instalando”, afirma Simões.

Produção de soros na Funed deve suprir 40% da demanda nacional

Em 2025, a previsão é produzir soros antibotrópico (pentavalente), anticrotálico (cascavel) e antiescorpiônico, ampliando a variedade nos anos seguintes conforme os contratos firmados com o Ministério da Saúde. Os soros passam por rigoroso controle de qualidade interno antes do envio ao ministério, que distribui os produtos para armazenamento em Guarulhos (SP) e posterior destinação aos estados e municípios, garantindo acesso rápido e seguro aos pacientes do SUS.

“Em agosto vamos entregar as primeiras ampolas para o Ministério da Saúde, que vai fazer a distribuição. A produção anual, que será de cerca de 150 mil ampolas, deve suprir até 40% das necessidades do País. Esse ano entregaremos cerca de 36 mil ampolas porque estamos no reinício das operações”, explica Attiê.

Para o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, a fábrica de soros da Funed é uma contribuição fundamental de Minas Gerais para salvar vidas e evitar sequelas em vítimas de envenenamento por animais peçonhentos.

Dados do Ministério da Saúde revelam que em 2023 o Brasil registrou 341.806 acidentes envolvendo animais peçonhentos, um aumento de 16,4% em comparação com o ano anterior. Dentre esses eventos, 32.514 ou 9,5 % do total foram causados por serpentes.

Mundialmente, entre 4,5 e 5,4 milhões de pessoas são vítimas de acidentes ofídicos anualmente. Destes, entre 1,8 e 2,7 milhões desenvolvem sinais clínicos de envenenamento, e aproximadamente 100 mil pessoas evoluem para óbito, sobretudo no norte da África, Oriente Médio e sul e sudeste da Ásia. Tais acidentes também podem deixar sequelas por deficiência física e psicológica e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), acarretam anualmente cerca de 400 mil amputações e outras deficiências permanentes. 

“Logo não haverá outro produtor de soro no Brasil que não seja a Funed. Essa é uma questão de decisão estratégica. A produção de soro não é lucrativa, mas é necessária. Nós temos o mais difícil: talentos. E a nossa obrigação como gestores é dar condições para os talentos trabalharem”, destaca Baccheretti.

A expectativa é que a fábrica 5 da Fundação, construída entre 2005 e 2011 e que nunca funcionou, entre em atividade em 2028, aumentando a capacidade de produção dos soros e outros equipamentos como o Laboratório Central (Lacen) também sejam reformados e ampliados. Para permitir a expansão das atividades da Funed, o governo do Estado estuda uma mudança no status jurídico da instituição.

“Há um estudo sendo contratado para definição do melhor modelo de funcionamento da Funed enquanto planta industrial. O presidente da Funed tem alertado que enquanto fundação, ela não tem a agilidade, como a Fiocruz que tem um braço privado para produzir medicamentos. Então, a estrutura de Fundação não é a melhor quando se precisa produzir medicamentos em escala industrial. A consultoria já deve começar no mês de maio e teremos resultados no segundo semestre para que a gente já possa encaminhar a proposta para a Assembleia”, pontuou o vice-governador.

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