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Gestão de “Pessoas” ganha página exclusiva e estreia com o tema: trabalho presencial versus remoto

Nessa primeira edição, será discutido o dilema pós-pandemia entre o presencial e o remoto na Era da Flexibilidade
Gestão de “Pessoas” ganha página exclusiva e estreia com o tema: trabalho presencial versus remoto
As empresas, passado o terror da pandemia, tentam retomar modelos “mais confiáveis”, entre eles o presencial e/ou híbrido | Crédito: AdobeStock

Após séculos voltado para as tecnologias, métodos, insumos, processos produtivos e clientes, o mundo corporativo descobriu que a diferença entre uma empresa e outra está nas pessoas. Seja lá como são chamados(as) – funcionários(as), empregados(as), mão de obra, colaboradores(as), associados(as), pessoal e, mais recentemente, talentos – o certo é que, mais do que “por a mão na massa”, são as pessoas – com corações e mentes – que promovem inovação, resolvem problemas complexos e são capazes de tornar os negócios perenes.

E, por isso, o DIÁRIO DO COMÉRCIO inaugura a sua página “Pessoas”. Com cobertura especial, esse é um espaço dedicado a “quem faz acontecer” dentro das empresas. Choque de gerações, tendências em gestão, compliance, legislação, novos modelos de trabalho e, principalmente, ética, entre outros temas, fazem parte desse universo que trataremos a fundo, do recrutamento à pós-demissão.

Nessa primeira edição, investigamos porque as empresas estão voltando ao modelo presencial se as “Pessoas” desejam modelos flexíveis. Achar o equilíbrio não é uma tarefa fácil. E você, o que prefere?

De um lado, os profissionais querem qualidade de vida e buscam horários flexíveis e enxergam possibilidades de trabalho remoto. De outro, gestores cada vez mais cansados, querem a segurança de ter suas equipes fisicamente próximas. O certo é que nessa batalha entre os formatos de trabalho presencial e remoto, muitos modelos estão sendo testados, mas nenhum foi plenamente aprovado.

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Os defensores dos modelos híbridos e remoto se baseiam em estudos como o realizado em 2023 pela Scoop Technologies e pelo Boston Consulting. Segundo os dados divulgados, as empresas que são totalmente remotas ou que permitem que os funcionários escolham quando vão para o escritório, obtiveram um aumento de vendas de 21% entre 2020 e 2022, superando um crescimento de 5% das empresas híbridas ou totalmente presenciais.

Mais um argumento a favor vem da 24ª edição do “Índice de Confiança Robert Half” (ICRH) divulgada em junho de 2023. O estudo mostra que do lado dos profissionais, a modalidade híbrida é a preferida: 76% a consideram como o modelo ideal de trabalho; 18% indicam o home office integral; e somente 6% preferem o modelo presencial full time.

Outro ponto cada vez mais discutido dentro das companhias, mas pouco testado, é a semana de quatro dias. Enquanto os trabalhadores anseiam pela oportunidade, as empresas resistem. Pesquisa publicada pela Catho este ano revela que 72% dos trabalhadores apoiam a semana de quatro dias, atualmente em tramitação no Congresso. Corroborando com esse número, uma pesquisa da WeWork e da Page Outsourcing feita com 10 mil profissionais de cinco países da América Latina, incluindo o Brasil, aponta que oito em cada dez profissionais brasileiros gostariam de adotar a semana de trabalho de quatro dias. Cerca de 76% acredita que seria mais produtiva com o modelo.

Já as empresas, passado o terror da pandemia – quando boa parte delas foi obrigada a enfrentar algum tipo de restrição de mão de obra -, tentam retomar modelos “mais confiáveis”.

Um argumento forte a favor do trabalho presencial é a criação e fortalecimento da cultura corporativa. Gestores como Aluísio Cirino, CEO da Lecupon, plataforma especializada em tecnologia para gestão de benefícios corporativos, entendem que a convivência favorece a identificação das equipes com a empresa e o desenvolvimento de soluções inovadoras. 

“É muito difícil você formar uma cultura sem o encontro, sem a convivência. Mesmo em equipes seniores, que já estiveram juntas por muito tempo, é complicado manter uma coesão apenas por plataformas e contatos on-line. Além disso, sabemos que a inovação acontece, principalmente, em momentos informais nos quais as pessoas se encontram e conversam sem pressão. Esses momentos não acontecem quando só nos relacionamos intermediados por telas”, pondera Cirino.

Também segundo o ICRH, 59% das empresas estão funcionando em modelo híbrido; 33% exigem a presença diária no escritório; e apenas 8% seguem totalmente em home office.

A tendência é puxada, ironicamente, pelas big techs. Gigantes da tecnologia, que tanto lucraram ao longo da pandemia com soluções para atender às necessidades de quem estava cumprindo o distanciamento social, estão chamando seus colaboradores de volta aos escritórios sem dar muitas chances de negociação aos profissionais. Empresas como Google, Amazon e Zoom, entre outras, estão fazendo esse movimento em diferentes ritmos. O certo é que a era do “100% remoto” ficou para trás até que outra tragédia sanitária aconteça.

A pesquisa “Tendências e Perspectivas do Trabalho”, da WeWork Latam em parceria com a Page Outsourcing, apontou que a modalidade presencial aumentou de 10% para 18% na América Latina em 2022. O trabalho no modelo híbrido reduziu em 14 pontos percentuais, passando de 78% para 64%, mas continua representando o maior contingente entre os entrevistados. O número de profissionais que trabalham de casa passou de 12% para 18%. Revelou também que 94% dos trabalhadores entrevistados não gostariam de trabalhar exclusivamente de maneira presencial.

Para o instrutor da Call Daniel – consultoria especializada em produtividade e liderança -, Thiago Alves, a resistência em adotar o trabalho remoto ou híbrido está ligada a uma falsa sensação de que os modelos passados eram mais seguros.

“Algumas empresas ainda têm resistência em adotar o híbrido porque o gestor quer acompanhar de perto as equipes e entende que isso pode potencializar quem já produz bem no remoto. Mas, no dia a dia, isso não se mostra tão viável. O número de interrupções no ambiente dos escritórios é muito maior do que acontece no ambiente residencial. O que vale aqui é o estabelecimento dos canais de comunicação e as regras que essa comunicação vai seguir para evitar sobrecarga de mensagens e ruídos”, explica Alves.

Valores como segurança e liberdade fortalecem modelo híbrido

Em maio de 2023, uma pesquisa com profissionais americanos feita pela The Harris Poll concluiu que 69% dos profissionais que trabalham ou já trabalharam de forma remota consideram que a independência decorrente do trabalho remoto é mais importante do que os benefícios profissionais do trabalho presencial. A flexibilidade do trabalho remoto significa também que eles conseguem falar com mais liberdade (74%) e estão mais satisfeitos com seu próprio trabalho (72%).

Para o especialista, o aumento da produtividade nas experiências híbridas ou remotas tem a ver com o aumento da qualidade de vida dos trabalhadores.

“A empresa deve avaliar a entrega do profissional, quantos objetivos ele ajuda a empresa a executar no trabalho presencial e no remoto. As pessoas não são iguais e nem desempenham as tarefas do seu dia do mesmo jeito. O mesmo profissional pode render mais em um tipo de tarefa no escritório e outro em casa. Por isso, híbrido parece ser a melhor opção, mas, mesmo assim, vai variar de pessoa para pessoa”, pontua o instrutor da Call Daniel.

Segundo o gestor de RH do Grupo Selpe, Douglas Gradim, a volta das big techs ao presencial tem relação com as estruturas físicas erguidas antes da pandemia.

“Essas empresas já vinham crescendo muito antes de 2020 e criando grandes estruturas, sedes e escritórios regionais suntuosos. Esses espaços ficaram vazios durante a pandemia e agora é preciso justificar a existência deles enchendo novamente de gente. Vender essas estruturas ficou praticamente impossível porque as empresas que poderiam se interessar estão passando pelo mesmo fenômeno”, pontua Gradim.

Segundo o CEO da Mission Brasil – plataforma de digital outsourcing (B2B) e renda extra (B2C) – Thales Zanussi, o trabalho sob demanda, também chamado de staff on demand, é outra alternativa para aqueles que desejam abraçar modelos profissionais flexíveis. As funções presenciais ou virtuais são disponibilizadas aos usuários de várias áreas segundo as suas necessidades e das marcas, sem o comprometimento de tempo e local. 

Relatório da empresa de pesquisa Future Market Insights revela que o setor deve atingir US$ 1,1 bilhão até 2032, crescendo o valor de US$ 387 milhões estimado, em 2022, em 11,7% ao ano.

Fundada em 2016, o Mission Brasil possui mais de 450 mil usuários cadastrados, está presente em mais de 5 mil municípios brasileiros e já tem mais de 300 mil missões concluídas. Em 2023, a empresa quadruplicou de tamanho e a expectativa é repetir o desempenho esse ano.

“Existe muita perfumaria no debate dos grandes cenários de transformação. As empresas não estavam preparadas, não tinham processos e perderam a cultura organizacional e, por isso, começaram a voltar para os processos antigos. Precisamos entender quais as funcionalidades para cada modelo, seja presencial, híbrido ou remoto. Cada vez mais pessoas vão trabalhar na internet e através de aplicativos. O trabalho sob demanda se encaixa bem para as empresas que não precisam de uma mão de obra fixa e estacionada e para os profissionais que lidam bem com o remoto. Mas para descobrir qual o modelo ideal, gestor e colaborador devem analisar o propósito da empresa. O líder precisa saber o que as suas pessoas querem. Além disso, a nossa legislação precisa avançar e deixar claro deveres e direitos para proteger os trabalhadores e empresas”, completa Zanussi.

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