Gestão de stakeholders promove engajamento e resultados

O despertar de uma economia responsável, que vise o bem comum e valorize a criação de valor no longo prazo, é um objetivo que tem, cada vez mais, norteado as estratégias das empresas, independentemente do seu porte ou setor. Esse novo modo de produzir e consumir considera as necessidades de todas as partes interessadas e a promoção do bem-estar social. É o chamado capitalismo de stakeholders.
Mas para que isso seja possível é condição básica fazer a gestão desses públicos. A tarefa, complexa pela própria diversidade humana, se tornou ainda mais desafiadora a partir do cenário pandêmico entre 2020 e 2022. A digitalização das relações, os traumas, os novos modelos de trabalho, entre outros fatores, colocaram definitivamente o velho modelo de “comando e controle” em xeque.
O assunto será debatido em uma das mesas do Hu Summit 2023, evento on-line e gratuito, realizado pela Humanizadas, hoje, 23 de agosto, sobre Gestão de Stakeholders, Propósito e Liderança, Desafios da Agenda ESG, Cultura Organizacional, Futuro do Trabalho e Futuro do Capitalismo.
Uma das integrantes da mesa é a diretora-executiva do Instituto Coca-Cola, Daniela Redondo. Para ela, um dos primeiros desafios da gestão de stakeholders é compreender que toda empresa é essencialmente formada de pessoas. São elas que não só produzem, mas também que geram inovação.
“Parece complexo, mas é da natureza humana. A gente tem mania de colocar a empresa como uma coisa que não é feita de seres humanos. Quando a gente percebe o que existe de comum entre as pessoas, é possível destravar oportunidades. O Instituto tem o propósito de impactar jovens em situação de vulnerabilidade. Querendo trazê-los para o mundo do trabalho e da geração de renda, fazer a ponte entre essa juventude e o mercado de trabalho. Esse ano vamos capacitar 100 mil jovens e a meta para 2030 são 5 milhões. Só é possível fazer isso contando com parcerias, engajando pessoas. É preciso buscar interesses e valores comuns entre os nossos diferentes públicos”, explica Daniela Redondo.
O êxito do projeto passa, obviamente, pelo investimento financeiro, mas, segundo ela, não é só isso. Para que tudo dê certo é preciso o compartilhamento de conhecimentos, experiências, expertises. A visão não pode ser simplesmente de um projeto, ela precisa ser abrangente, sistêmica.
“É assim que ganhamos eficiência e velocidade. No nosso caso, são mais de 200 empresas, incluindo as de pequeno e médio portes. Ninguém é tão pequeno que não possa contribuir. Não tem certo ou errado. Só o fato de a gente conseguir abrir portas de um para outro tem muito valor, tem efeitos secundários muito importantes. As redes são, de fato, um ativo. Os parceiros criam uma relação de confiança e chancelam reciprocamente. Quando existe uma boa gestão, o processo continua por si”, avalia a diretora-executiva do Instituto Coca-Cola.
Complexidade do ambiente
Segundo a conselheira de organizações Tarcila Ursini, a complexidade do ambiente deve ser vista como um ativo capaz abrir novos pontos de vista, gerando inovação e garantindo capacidade de competir e lucro para as empresas.
“Não podemos mais nos dar ao luxo de praticar um capitalismo ensimesmado, que só olha para o acionista. Precisamos perceber e integrar toda a cadeia: colaboradores, fornecedores, as relações com o governo, os diferentes consumidores, entre tantos outros. Hoje, com o advento digital, temos o reforço das mais diversas tribos. Isso é muito mais rico. E essa riqueza quando bem gerida, traz muito mais valor. Não é fácil ser líder. Ele precisa ter autocontrole, entender esse mundo volátil e incerto, olhando as oportunidades na nova economia, mais inclusiva e orientada para o propósito. Precisamos de menos ego e mais eco para viver esse capitalismo de stakeholders”, pontua Tarcila Ursini.
Ecoar a diversidade
Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o diretor-geral da Rede de ensino Apogeu, Makerley Arimateia, sente o peso da história e escolheu ampliar a diversidade dentro do negócio como estratégia. Hoje ele comanda mais de 500 pessoas distribuídas por cinco cidades mineiras.
“É uma tarefa árdua porque não fomos criados para isso. Diariamente o propósito comum tem que ser lembrado. Fiz uma opção pela distribuição da propriedade da empresa. Hoje são seis sócios e estamos preparando 25 pessoas que vão virar sócios em um prazo de cinco anos. Dividindo a gente cresce mais. Para fazer essa gestão de stakeholders é preciso ter a alta liderança engajada e decidida a trabalhar dessa forma. Enquanto cultura, vai caber ao executivo principal propagar essa estratégia”, afirma Arimateia.
A governança corporativa se apresenta como uma das ferramentas mais eficientes para as empresas que buscam fazer uma gestão de stakeholders de sucesso diante de um quadro de escassez de mão de obra qualificada e êxodo de talentos.
“Estamos começando a encarar a nossa história. Somos um país preconceituoso. Os movimentos sociais estão trazendo os dados. Apenas os modelos de negócios mais autônomos, que respeitam a integralidade do ser humano, vão conseguir reter os talentos. E para isso é preciso ouvir as pessoas. O líder deve atender a urgência e continuar construindo a visão de futuro”, completa a conselheira de organizações.
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