Gestão financeira determinou crescimento de médias empresas durante a pandemia

Isolamento, inflação, falta de suprimentos. As médias empresas não se curvaram mesmo diante de desafios como esses – impostos pela pandemia da Covid-19 e suas consequências em todo o mundo. É o que mostra o relatório Radar de Mercado das Médias Empresas, desenvolvido pela Fundação Dom Cabral (FDC). Com base em dados de 2.700 empresas de médio porte (faturamento entre R$ 4,8 milhões e R$ 300 milhões), o estudo destaca o papel de gestões saudáveis sobre custos e despesas no enfrentamento do cenário nos últimos dois anos.
Segundo o documento, indústrias de médio porte tiveram um salto 7,9% em suas receitas líquidas entre os anos de 2020 e 2021. Enquanto isso, aquelas empresas em que as áreas de atuação são os serviços emplacaram crescimento de 20,71%.
Na contramão, empreendimentos de igual porte, do setor de comércio, registraram queda de 37,89% no mesmo período. A explicação está não somente nas medidas de restrição à circulação da população, impostas para controle da doença. Mas também naquelas de distribuição de renda.
De acordo com o professor da FDC e responsável pelo estudo, Eduardo Menicucci, a provável explicação para a queda da receita líquida do comércio está no efeito do auxílio emergencial. Em 2020, conforme pontua o professor, o valor do benefício era maior que aquele pago em 2021. Além disso, o auxílio foi reduzido também em número de beneficiários. Essa receita, quando repassada à população, se transformava, principalmente, em compras no comércio.
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Crescimento das empresas
Enquanto o desempenho do comércio decresceu, a fase vivida na indústria e nos serviços demonstram as diversas faces da inflação. “O crescimento da receita é explicado, em parte, pelo preço dos produtos e serviços. É a chamada inflação de demanda. Houve um aumento de preço tanto da indústria quanto do setor de serviços, que justificou uma parte do crescimento desses dois setores”, explica Menicucci.
Como exemplo, o especialista cita a forte demanda de turismo, no setor de serviços, já em 2021. No ano passado, vale lembrar, muitas das atividades que ficaram restritas parcial ou integralmente foram liberadas. Com o novo momento de abertura, das atividades relacionadas a viagens e ao lazer, o avanço da vacinação e o abrandamento da Covid-19, desembocaram na procura pelos serviços.
Redução de despesas
As boas notícias em meio à crise também alcançaram o comércio. Conforme apurado no levantamento da FDC, a margem do indicador Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Lajida – ou Ebitda na sigla em inglês – do setor aumentou.
Em 2020, a margem do setor era de 9,32%. No encerramento do ano passado, o indicador saltou para 11,68%. De forma mais robusta, as empresas de médio porte da indústria e de serviços fecharam 2021 com margens de 24% e 41,20%, respectivamente. O destaque, portanto, ficou mais uma vez para o setor de serviços.
No caso da indústria, vale ressaltar que a pressão sobre os custos (logísticos e de suprimentos) suprimiu a elevação da mesma margem.
Eduardo Menicucci explica que o Lajida representa a diferença entre a receita líquida menos os custos e as despesas. Em termos práticos, o indicador mostra o quanto o negócio está gerando em termos de resultados. Nesse sentido, margens maiores significam que a empresa está funcionando bem. Além disso, aquelas empresas que conseguem manter a receita líquida crescente e controlar, ao mesmo tempo, custos e despesas são também aquelas que potencializam a margem Lajida.
Desafios e oportunidades
O grande desafio das empresas em meio ao cenário atual é minimizar os impactos da inflação. “As empresas têm que ficar atentas a isso, ao quanto essa inflação está impactando o custo e a despesa. E, infelizmente, (observar) o quanto eles devem repassar no preço dos seus produtos e serviços”, afirma o professor.
A capacidade de repasse parcial de preços é citada no relatório da Fundação como uma das prováveis razões para a melhoria nas margens das médias empresas. Gestão de compras, negociações com fornecedores e controle de despesas também são apontadas como fundamentais para a resiliência. No caso de empresas cujas áreas administrativas podem seguir em regime de trabalho remoto, a manutenção do modelo também auxilia na redução de custos.
Para a administração das empresas, Menicucci lembra que é necessário, ainda, gerir os estoques, observando, principalmente, os movimentos da cadeia de suprimentos mundial.
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