Negócios

Humanização nos negócios – ponto e contraponto

Humanização nos negócios – ponto e contraponto

“Humanizar o humano” é um termo recorrente diante de um cenário com fatos entristecedores de crises pessoais e globais que assolam o nosso planeta: guerras, fome, desrespeito ao humano e à natureza.

Nesse viés, o ponto de partida para uma conversa sobre o tema proposto no presente artigo é iniciar com grandes perguntas sobre o SER humano. São grandes porque nos proporcionam uma visão mais ampla de realidades e opções maiores do ainda não instituído.

Humanizar é estar coerente com os valores, é afirmar o humano nas ações e não nos discursos. Será uma vantagem estratégica se houver uma comunidade coerente com valores, vibrante, que carrega o verdadeiro conceito de humanidade nas ações e sustentada por uma teia de relações partícipe, forte e saudável.

Palavra puxa palavra e o contraponto nessa proposta é um olhar para a relação entre humanização e negócios. Todo negócio é idealizado, desenvolvido, executado por humanos e para humanos. Portanto um organismo vivo, composto por valores, pensamentos e sentimentos de todos os envolvidos nessa teia, ressaltando os valores como a semente da alma do negócio.

Tom Johnson, pensador de sistemas e estudioso do modelo Toyota, argumenta que ver os negócios como sistemas vivos oferece um propósito oposto à visão linear mecanicista e representa o único caminho para a melhoria sustentável.

Em oposição à visão mecanicista que vê o negócio como um conjunto de áreas divisíveis e usa ideias simplistas de como adaptá-las para gerar lucro, na visão humanizada, o negócio é visto como uma rede de elementos humanos, tecnológicos e processuais inter-relacionados, o que permite uma panorâmica mais complexa e completa de onde se está e do que precisa acontecer para melhorar o sistema real.

Cabe nesse contexto um pouco da literatura de Guimarães Rosa: “Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas”. “O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia”. É nessa travessia que novos rumos e paradigmas se delineiam, com as organizações entendendo a necessidade de uma profunda transformação cultural em sua essência e a importância de sua participação ativa no desenvolvimento da humanidade.

Como exemplo, menciono a Natura que, conforme publicação da Exame News publicado em 05/07/22, apurou por meio de sua ferramenta de gestão integrada IP&L (Integrated Profit and Loss) que a cada R$1 em vendas é gerado R$1,5 em benefícios para os capitais humano, social e ambiental associados a suas operações.

O conceito de humanização, que norteia a condução de um negócio consciente e fortalece todo o ecossistema, está em alinhamento com os pilares do Capitalismo Consciente. Apoiador e direcionador desses novos rumos, tendo como objetivo elevar a consciência das lideranças para práticas baseadas na geração de valor alicerçadas em seus pilares – propósito maior, cultura e liderança consciente e orientações para os stakeholders – numa abrangência intelectual, físico, ecológico, social, emocional e ética, sem prejuízo à geração de lucros.

A palavra diz, mas o exemplo arrasta. Humanizar, nutrir e cuidar do humano é tarefa de cada um de nós. Humanizar a si, com o outro, pelo outro, pela preservação dessa casa que habitamos – nosso planeta.

Compreender a unicidade do ser humano, seu patrimônio exclusivo, encontra-se nessa percepção de um acoplamento socioestrutural. Sair do que, até pouco tempo atrás, parecia invisível ou intransponível para uma perspectiva mais abrangente, integradora e sustentável, compreendendo que, como seres humanos, só temos o mundo que criamos com o outro.

Segundo o Capitalismo Consciente e as melhores práticas ESG, podemos entender a sustentabilidade como a capacidade de suprir as necessidades do presente sem comprometer as próximas gerações, estando atrelada ao cuidado social, ambiental e na manutenção do lucro.

O universo das possibilidades está dentro de nós. A intencionalidade criativa, a sabedoria e determinação transformada em ação. A evolução da humanidade veio por meio das pessoas que ousaram e grandes tempos requerem tanto grandeza de espírito como grandeza de ação. Nossa missão como humanos é procurar o real significado da vida.

Para Galeano, “Viver está muito mais além da compreensão. Este mundo possível está na barriga deste, esperando. Este mundo diferente, de nascimento difícil.” Utopia? “Ela está no horizonte (…) Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei.” Para que serve a utopia? Serve para isso, para caminhar.

Nosso desafio é nos transformar em seres multidimensionais totalmente despertos, que não são mais enfeixados pelas ilusões de tempo, espaço e matéria.

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