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IA pode ser aliada de investidores

Apesar disso, especialistas alertam para as limitações existentes no uso dessas plataformas
IA pode ser aliada de investidores
Crédito: REUTERS/Florence Lo/Ilustração/Arquivo

São Paulo – Plataformas de inteligência artificial como o ChatGPT podem ser aliadas da educação financeira e funcionar como fonte de informação para melhorar investimentos, dizem profissionais do mercado. Eles, porém, fazem o alerta de que as ferramentas não devem ser utilizadas para recomendações diretas de investimentos.

O maior trunfo do ChatGPT é que ele pode oferecer informações diretas sobre a dúvidas de usuários sobre investimentos. Um iniciante no mercado financeiro pode perguntar diretamente ao chatbot o que são títulos públicos, fundos de investimento, CDB, CDI e qualquer outro tipo de aplicação que esteja analisando no momento.

Mais que isso, a plataforma pode mostrar ao usuário passo a passo como investir em determinado ativo. Ao lhe ser perguntado sobre como investir em renda fixa, por exemplo, o ChatGPT lista as opções de investimentos na modalidade, orienta o usuário a definir objetivos e seu perfil de investidor e o instrui a pesquisar e comparar os aspectos de cada ativo.

Sobre renda variável, além das orientações anteriores, o chatbot também aconselha que o usuário pesquise sobre as empresas em que está interessado em investir, considerando fatores como saúde financeira, histórico de desempenho, perspectivas de crescimento, concorrência e governança corporativa da companhia.

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Ele diz, ainda, que o investidor deve diversificar os investimentos em diferentes empresas, setores e regiões geográficas para reduzir exposições ao risco e aconselha que o usuário acompanhe notícias sobre o mercado. E também alerta sobre os riscos da renda variável, citando as flutuações significativas nos preços das ações no mercado.

Em nenhum dos dois casos o ChatGPT dá recomendações específicas de onde alocar recursos. Com um comando mais específico, porém, a ferramenta é capaz de montar carteiras de investimentos.

Dicas de finanças

Pesquisa do finder.com mostrou que cerca de 19% dos adultos entrevistados pela plataforma afirmaram que considerariam receber conselhos financeiros do ChatGPT, e 8% já usaram o chatbot para obter dicas de finanças.

Esse tipo de experimento pode ser usado, por exemplo, para obter mais informações sobre companhias que se destacam na bolsa. O usuário pode perguntar ao ChatGPT por que cada uma dessas empresas foi escolhida para compor a carteira, dando uma base para pesquisas do mercado de renda variável brasileiro.

A ferramenta não deve ser utilizada, no entanto, para alocação direta de recursos nos papéis mencionados por ela. Apenas profissionais credenciados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) podem oferecer recomendações de aplicações financeiras e operações no mercado de valores mobiliários, e consultar um especialista é fundamental antes de alocar recursos.

A recomendação de profissionais, aliás, é que o ChatGPT seja utilizado como aliado da educação financeira, em especial nos primeiros passos no mundo dos investimentos.

O sócio da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, diz que a ferramenta pode, por exemplo, auxiliar o usuário a entender melhor qual o seu perfil de investidor e saber em quais aplicações ele se sentiria mais confortável ao investir.

“O ChatGPT pode ler um histórico de investimentos que o cliente já fez na vida e tirar conclusões baseadas na maneira como ele investiu ao longo do tempo, comparando cenários e provendo conteúdo específico para quem precisa entender sobre determinado assunto”, explica.

Ele aponta que esse processo seria vinculado à experiência pessoal do usuário, tornando-se uma maneira de tratar cada investidor de maneira individualizada de forma gratuita e rápida.

O presidente-executivo da FMB Investimentos, Fernando Bento, aconselha que o ChatGPT seja utilizado para obter informações sobre aplicações de seu interesse, como uma forma de busca mais direta.

“O ChatGPT vai discorrer sobre os tipos de investimentos, quais têm mais risco, quais têm menos risco, mas sempre adverte que não pode fazer nenhum tipo de indicação individualizada, e que o investidor deve procurar um profissional para se informar. Ele pode ser bom para explicar um título público, uma ação, mas não para o novato investir diretamente no mercado financeiro”, diz Bento.

Finchat oferece informações sobre companhias

Nos Estados Unidos, há um chatbot específico para finanças, o chamado Finchat, que oferece informações sobre empresas de capital aberto do mercado americano. É possível pedir à plataforma um resumo do balanço de uma empresa e solicitar análises de um aspecto específico de seus resultados trimestrais.

Após a solicitação de um resumo do mais recente balanço trimestral da Microsoft com foco no segmento de nuvem da companhia, por exemplo, o Finchat não apenas resume os principais pontos como também projeta gráficos com os números da companhia ao longo dos últimos anos, que podem ser alterados de acordo com a preferência de visualização do usuário.

A plataforma recomenda que os comandos dos usuários sejam específicos e lista quais são os mais utilizados. Para ter um nível do detalhe utilizado pelo chatbot, um dos prompts recomendados dizia: “Forneça uma lista de dez ações dos EUA que têm crescimento anual de receita maior que 10% nos últimos cinco anos, fazem recompra de ações e têm menos de US$ 100 bilhões em valor de mercado”.

Produtos adequados

A inteligência artificial também é usada por empresas do mercado financeiro para oferecer produtos mais adequados a seus clientes.

A plataforma de investimentos Gorila, por exemplo, usa a IA generativa para separar, filtrar e resumir notícias e cartas de gestoras, além de classificar por relevância os conteúdos, entregando a seus usuários textos personalizados conforme seus interesses.

Com essa classificação por inteligência artificial, o usuário consegue enxergar direto o que é relevante de forma assertiva. À medida que começamos a utilizar essas ferramentas de desenvolvimento de linguagem e enxergar os resultados, ficamos impressionados com o potencial, e ainda estamos no começo das possibilidades”, diz Assis.

Já a Quantum Finance usa a inteligência artificial para cruzamento e análise de dados para oferecer informações a profissionais do mercado financeiro. Segundo o presidente-executivo da fintech, Maxim Wengert, a tecnologia contribui para a assertividade dos cálculos e gera ganho de eficiência ao automatizar tarefas e rotinas operacionais da companhia.

Mesmo com a automatização, Wengert destaca que os processos de análise também passam por curadoria de especialistas em ativos e segmentos do mercado financeiro da fintech.

“Acredito que inteligência artificial terá um forte impacto na área de investimentos e no mercado financeiro daqui para frente, promovendo mudanças significativas e abrindo novas possibilidades. Certamente, a IA ajudará a impulsionar os nossos negócios nos próximos anos”, diz o executivo.

Em março deste ano, a Quantum inaugurou seu Laboratório de Finanças e Inteligência Artificial, em parceria com o Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio, com o objetivo de desenvolver novas tecnologias e aplicações de inteligência artificial e machine learning para fintechs. (Marcelo Azevedo/Folhapress)

Sam Altman lança projeto de identidade digital

O Worldcoin, um projeto fundado pelo presidente-executivo da OpenAI, Sam Altman, foi lançado ontem. O núcleo do projeto é o World ID, que a empresa descreve como um “passaporte digital” para provar que seu titular é um ser humano real, não um robô de inteligência artificial.

Para obter uma World ID, o cliente se inscreve para fazer pessoalmente uma varredura de íris que utiliza um orbe da Worldcoin, uma bola de prata do tamanho aproximado de uma bola de boliche. Quando o escaneamento da íris pelo orbe verifica que a pessoa é um ser humano real, ele cria uma World ID.

A empresa por trás da Worldcoin é a Tools for Humanity, sediada em São Francisco e Berlim.

O projeto tem 2 milhões de usuários em seu período beta e, com o lançamento nesta segunda-feira, a Worldcoin está ampliando as operações de orbing para 35 cidades em 20 países. Como atrativo, aqueles que se inscreverem em determinados países receberão o token de criptomoeda WLD, da Worldcoin.

O preço da WLD subiu no início do pregão de ontem. Na corretora de criptomoedas do mundo, a Binance, ela atingiu um pico de US$ 5,29.

Blockchains podem armazenar as World IDs de forma a preservar a privacidade e não podem ser controladas ou fechadas por uma única entidade, disse o cofundador, Alex Blania à Reuters.

O projeto diz que os World IDs serão necessários na era dos chatbots de IA generativa, como o ChatGPT, da própria OpenAI de Altman, que produzem uma linguagem notavelmente humana. Os World IDs poderiam ser usados para diferenciar pessoas reais de bots de IA on-line.

Altman disse à Reuters que a Worldcoin também pode ajudar a lidar com a forma como a economia será remodelada pela IA generativa.

“As pessoas serão sobrecarregadas pela IA, o que terá enormes implicações econômicas”, disse ele.

Um exemplo que Altman gosta de citar é a renda básica universal, ou UBI, um programa de benefícios sociais, geralmente administrado por governos em que cada indivíduo tem direito a pagamentos. Como a IA “fará cada vez mais o trabalho que as pessoas fazem agora”, Altman acredita que a UBI pode ajudar a combater a desigualdade de renda. Como somente pessoas reais podem ter IDs mundiais, isso poderia ser usado para reduzir fraudes ao implantar a UBI.

Altman disse que acha que um mundo com a UBI está “muito distante no futuro” e que não tem uma ideia clara sobre qual entidade poderia distribuir dinheiro, mas que a Worldcoin estabelece as bases para que isso se torne realidade.

“Achamos que precisamos começar a fazer experimentos para descobrir o que fazer”, disse ele. (Reuters)

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