Negócios

Ibor Transporte inaugura usina que transforma óleo de cozinha usado em biodiesel

O empreendimento faz parte do Projeto Frota Verde, que prevê uma frota de 100 caminhões adaptados até 2030
Atualizado em 25 de julho de 2025 • 11:04
Ibor Transporte inaugura usina que transforma óleo de cozinha usado em biodiesel
Foto: Divulgação Ibor Transporte

A Ibor Transporte Rodoviário concluirá, na próxima segunda-feira (28), a construção da usina de biodiesel no pátio da empresa em Juiz de Fora, na Zona da Mata, com investimentos de R$ 6 milhões. O empreendimento, de 600 metros quadrados (m²) de área construída, terá capacidade para produzir cerca de 100 mil litros de biodiesel por mês, a partir de óleo de cozinha usado (UCO, sigla em inglês). O início das operações está previsto para o mês de agosto.

Dessa forma, a transportadora mineira passa a ser a primeira no Brasil a produzir o próprio combustível sustentável, eliminando a necessidade de transporte, uma vez que a produção e o abastecimento ocorrem no mesmo local. A usina foi desenvolvida em parceria com o Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O diretor de operações da Ibor Transporte, Luiz Antônio Bordim Jr., explica que a ideia de construir uma usina própria surgiu da necessidade de abastecer uma frota ainda maior sem perder a competitividade. Ele relata que a estrutura da universidade, utilizada na fase inicial do projeto, não foi pensada com base nessa lógica de mercado, mas sim com foco em pesquisa e desenvolvimento.

O dirigente destaca que esse projeto representa mais um capítulo na história da empresa no setor de transporte brasileiro, marcada pelo pioneirismo e responsabilidade. “Esta é uma transformação que carrega o mesmo espírito inovador que nossos pais trouxeram para as estradas há 50 anos”, declara.

Para tornar a iniciativa viável, a Ibor também estabeleceu uma parceria estratégica com o Instituto Epros, que mantém uma rede de mais de 150 pontos de coleta de óleo usado em Juiz de Fora. A entidade é responsável pela realização da coleta e do beneficiamento do óleo de cozinha, em seguida a usina processa o óleo tratado e o transforma em biodiesel 100% vegetal.

O diretor comercial da Ibor Transporte, Guilherme Bordim, avalia que cada parceria firmada pela transportadora fortalece a visão de futuro que fez com que a empresa crescesse, com a certeza de que o progresso de verdade é aquele que beneficia a todos. “É um ciclo que une a força da Ibor com o compromisso das comunidades”, completa.

Projeto Frota Verde da Ibor Transporte

O empreendimento faz parte do Projeto Frota Verde, que já possui dez caminhões em operação. A expectativa da empresa é expandir a frota para 30 veículos ainda neste ano e atingir a marca de 100 caminhões movidos a biodiesel vegetal até 2030, visando um futuro ainda mais sustentável para a transportadora.

Esses veículos são adaptados pelos fabricantes para operar com biodiesel puro. De acordo com a empresa, cada caminhão tem autonomia de até 2 mil km, permitindo que atendam toda a região Sudeste do País antes de retornar à base para reabastecimento.

Luiz Antônio Bordim Jr. relata que a empresa estudou a possibilidade de utilizar outras opções como os veículos elétricos ou a gás. A opção eletrificada ainda não é viável para as operações da Ibor, que transporta cargas de até 70 toneladas em seus caminhões. No caso do gás, o obstáculo está relacionado à logística para abastecimento ao longo da rota percorrida.

O dirigente ressalta que todos os combustíveis poluem, a diferença está na origem. O etanol, por exemplo, é um combustível produzido à base de cana-de-açúcar no Brasil e não emite gás carbono (CO₂) extra na atmosfera como a gasolina, derivada do petróleo. A quantidade emitida é a mesma que foi absorvida pela planta durante o período da fotossíntese.

Já o óleo de soja oferece uma redução de aproximadamente 70% nas emissões. No entanto, ainda não era sustentável o suficiente para a Ibor, uma vez que o processo de transformação da soja em óleo é contabilizado nas emissões. Portanto, a opção mais viável e sustentável encontrada, segundo o diretor de operações, foi o óleo de cozinha usado.

“Quando utilizamos um resíduo como o óleo de cozinha usado, a emissão de CO2 já foi gasta para produzir o óleo que será usado na fritura. Então, nós apenas pegamos esse resíduo, que é o óleo usado, e transformamos em combustível. A redução é 100%”, explica.

Além disso, o fato do produto ser recolhido na cidade onde a transportadora está sediada torna o processo menos custoso e mais sustentável. Luiz Antônio Bordim Jr. ressalta que a equipe da UFJF entregará um relatório final de pesquisa e desenvolvimento sobre esse tipo de combustível. “Nós estamos chegando a 95% de redução dos gases de CO2 com esse combustível que está sendo criado em nossa planta”, diz.

Impacto ambiental e social

A nova estrutura utiliza energia solar fotovoltaica e contribui para a prevenção da contaminação de bilhões de litros de água anualmente e ainda permite a redução de até 90% nas emissões de gases nocivos à saúde e entre 85% e 90% nos gases de efeito estufa. Com a expansão para 30 veículos prevista para os próximos meses, a redução de emissões de CO₂ ultrapassará 225 toneladas mensais.

Os diretores da Ibor Transporte destacam que esse tipo de iniciativa é o equivalente a cultivar uma floresta itinerante nas estradas brasileiras.

No entanto, Luiz Antônio Bordim Jr. ressalta que o custo do biocombustível ainda é alto se comparado com outras opções. Ele afirma que a meta é diminuir esse custo nos próximos anos, possibilitando a ampliação da frota movida a biodiesel. “O nível de recolhimento de óleo no Brasil ainda é baixo e nós também precisamos alavancar isso, pois existe muito potencial no uso desse tipo de combustível”, completa.

A iniciativa ainda promete gerar grande impacto social, por meio da parceria com o Instituto Epros. Isso porque a coleta de óleo usado beneficia projetos sociais em Juiz de Fora. Ao todo, mais de 30 escolas parceiras recebem recursos da venda do óleo coletado, que são investidos em melhorias para os alunos; outras 11 associações comunitárias também participam do programa, desenvolvendo o empreendedorismo social.

Além disso, alguns estabelecimentos comerciais que participam dessa iniciativa como “ecopontos” oferecem descontos aos consumidores, incentivando a participação da comunidade local.

De acordo com o dirigente, uma possível migração de toda a frota de caminhões da empresa irá depender de uma série de fatores, como a reação do mercado e restrições do governo a utilização de combustíveis mais poluentes. Ele lembra que, em 2024, o Brasil sancionou a lei que regulamenta o mercado de carbono no País.

“Se o governo começar a exigir que as empresas passem a ter uma compensação de carbono ou paguem um imposto maior sobre a emissão de carbono que cada indústria e cada setor possui, uma frota que não gera carbono passa a ter mais valor”, pontua.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas