Brasil cai em ranking de competitividade mundial

Mais uma vez o Ranking Mundial de Competitividade do IMD, que conta com a parceria técnica do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC), não traz boas notícias para o Brasil. Na edição de 2024, o País caiu duas posições em relação ao ano passado, passando de 60º para 62º lugar no ranking geral, em um total de 67 nações avaliadas.
A decomposição do resultado mostra que o Brasil tem no tamanho da população e na diversidade do território os seus principais ativos. E quanto mais são necessários investimentos em tecnologia e inovação, piores são os resultados. Em performance econômica, o País ficou na 38ª posição; eficiência governamental, 65ª; eficiência empresarial, 61ª e infraestrutura, 58ª.
Os primeiros colocados do Ranking de Competitividade, pela ordem, são: Singapura, Suíça, Dinamarca, Irlanda, Hong Kong, Suécia, Emirados Árabes Unidos, Taiwan / China, Holanda e Noruega.
De acordo com o professor e diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da FDC, Hugo Ferreira Braga Tadeu, o Brasil só não ficou pior porque países com economias muito mais frágeis estrearam na lista: Nigéria (64º) , Gana (65º), além de Porto Rico (49º), que ficou melhor colocado.
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Entre os vizinhos da América do Sul, Chile (44º) e Colômbia (57º) tiveram performance melhor que a brasileira. Já Peru (66º), Argentina (66º) e Venezuela (67º) – todos vivendo grave crise político-econômica – estão atrás do Brasil no Ranking de Competitividade.
“Nós pioramos porque não estamos fazendo o dever de casa. Enquanto os outros países discutem o uso da tecnologia para o desenvolvimento industrial, ainda estamos em uma agenda antiga de reformas estruturantes. Nenhuma reforma tributária, por exemplo, será boa o suficiente se não tivermos um plano estratégico de desenvolvimento para o País”, alerta Tadeu.
A posição brasileira é a mais baixa dos últimos anos, com piora em eficiência governamental e infraestrutura em relação ao ano passado. Porém, ficou estável em eficiência empresarial e teve sua melhor posição (38º) em performance econômica.
O resultado neste último indicador pode ser explicado pelo crescimento da oferta de empregos e pela queda da inflação. Subsídios governamentais (4º), crescimento de longo prazo de emprego (5º), crescimento do PIB real per capita (5º), fluxo de investimento direto estrangeiro (5º) e energias renováveis (5º) são destaques positivos. Entretanto, educação em gestão (67°), habilidades linguísticas (67°), dívida corporativa (67°), habilidades financeiras (66°), educação básica e secundária (66°) e educação universitária (66°) estão entre os piores resultados do País.
“Precisamos avaliar a qualidade do nosso crescimento. O ranking nos mostra que os países mais competitivos estão, principalmente, na Ásia e na Europa. Em termos absolutos de crescimento econômico Estados Unidos e China puxam os resultados, mas quanto mais a análise se sofistica, mais o crescimento se volta para a Europa. São países que além de discutir, tem uma grande capacidade de implementação de planos estratégicos de desenvolvimento baseados em uma educação voltada para a tecnologia”, explica.
De outro lado, o grupo dos 10 piores classificados é composto majoritariamente por países da América Latina e África, incluindo o Brasil, com alguns da Ásia e do Leste Europeu. A África do Sul, atual membro do Brics, ficou na 60ª colocação, obtendo sua melhor posição em eficiência empresarial (48º). Os africanos possuem uma economia que está em rápido crescimento com possibilidades em inúmeros segmentos, além de ser uma porta de entrada para mercados da África Subsaariana.
Na América Latina, a Argentina obteve a penúltima posição no ranking (66º), puxada principalmente por eficiência governamental (67º) e eficiência empresarial (66º), ressaltando a necessidade de reformas econômicas e governamentais.
Educação é chave para melhora no ranking de competitividade
Entre os principais desafios do Brasil para aumentar a competitividade, o pesquisador destaca a defasagem educacional. O País ficou em 66º tanto em educação básica e secundária quanto em educação universitária. Segundo a Pnad Contínua realizada pelo IBGE, 8,8 milhões de brasileiros de 18 a 29 anos não terminaram o ensino médio e não frequentam nenhuma instituição de educação básica.
Suíça e Singapura, por exemplo, se destacam em todos os níveis de educação, ocupando a 1ª e 2ª, respectivamente. No primeiro país, os níveis de educação são altos, sendo o ensino médio um padrão para a maioria da população e a educação superior é altamente difundida. Um dos grandes destaques do sistema educacional suíço é sua flexibilidade, em que os alunos podem escolher entre uma formação profissional, em que têm experiências em empresas por meio de estágios e aulas profissionalizantes alguns dias por semana, e uma educação geral, que os prepara para o ensino superior.
A conclusão do estudo sugere que o Brasil deve ampliar os programas de educação profissional e técnica, preparando os alunos para o mercado de trabalho com habilidades práticas e teóricas. Além disso, são necessários investimentos nas infraestruturas das escolas e principalmente nos professores, por meio da sua formação e remuneração adequada. Tudo isso em um cenário pressionado pelo envelhecimento da população o que leva à diminuição do contingente de pessoas capazes de serem treinadas em um futuro próximo.
“Não temos mais tempo para discutir uma educação que não é voltada para o desenvolvimento tecnológico. Não é uma questão de quantidade de recursos. Precisamos focar na qualidade do investimento em educação no Brasil tanto na formação da mão de obra operacional como das lideranças. Formamos poucos doutores e eles estão todos na academia. As empresas não contratam doutores para desenvolver tecnologia. É um erro grave o setor privado não investir em educação, pesquisa e desenvolvimento”, destaca o diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da FDC.
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