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Inatel completa 60 anos de pioneirismo e inovação

Diretor do Inatel, o professor Carlos Nazareth destaca a formação de mão de obra qualificada, desenvolvimento de pesquisa e inovação, transferência de tecnologia e a relação do Instituto com a comunidade local
Inatel completa 60 anos de pioneirismo e inovação
Crédito: Divulgação Inatel

Internet das coisas, lançamento de satélites, inteligência artificial aplicada ao agronegócio, criação de protocolos para uma nova internet, 6G em pleno funcionamento, pesquisadores do mundo inteiro reunidos, cooperação científica internacional. Se tudo isso te faz pensar na big techs sediadas nas maiores economias do mundo, você precisa dar uma olhadinha no mapa e mudar a rota rumo a uma pequena e pacata cidade do Sul de Minas: Santa Rita do Sapucaí.

Conhecida como o Vale da Eletrônica brasileiro, a cidade, com pouco mais de 43 mil habitantes, abriga o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), que está completando 60 anos em 2025.

Na edição da página Vanguarda desta quarta-feira (9), o diretor do Inatel, professor Carlos Nazareth, fala de formação de mão de obra qualificada, desenvolvimento de pesquisa e inovação, transferência de tecnologia e a relação do Instituto com a comunidade local.

O Inatel foi criado em 1965, quando os primeiros sistemas de telecomunicações começaram a ser implantados no Brasil. Foi aí que o professor José Nogueira, de Itajubá, propôs a fundação da primeira instituição de ensino superior em telecomunicações do País. Mas a escolha de Santa Rita do Sapucaí não foi aleatória, o pioneirismo começa muito antes com Sinhá Moreira, certo?

Em 1965 um grande desafio brasileiro era integrar o País. As empresas de telefonia e de comunicação eram regionais e ficavam dentro de um contexto muito limitado. Naquele ano, coincidentemente, nasceram outras duas empresas com a visão de integração. Uma delas foi a Embratel, que tinha como proposta integrar os estados brasileiros fazendo o tráfego telefônico entre as diferentes companhias locais de telefonia. E também a Globo, que foi a primeira emissora que surgiu com a intenção de gerar programação local nas emissoras de cada uma das regiões brasileiras para o resto do País.

E o Inatel nasce nesse contexto com uma ideia inovadora. O professor José Nogueira era um engenheiro eletricista que ao sair da sua formação em Itajubá, foi trabalhar com a implantação de sistemas de rádio de comunicação em diferentes partes do Brasil. E, ao amadurecer na carreira, ele voltou para lecionar no Instituto de Engenharia – que hoje é o Unifei – e propôs a criação do curso de telecomunicações.

Na época, o Instituto estava se dedicando principalmente ao ensino de eletricidade, eletrotécnica, mecânica, eletromecânica e não viu o curso de telecomunicações como sendo adequado naquele momento. Mas o professor já tinha contribuído com a Luzia Rennó Moreira – a Sinhá Moreira – na criação da Escola Técnica de Eletrônica.

Ela foi a idealizadora da Escola Técnica de Eletrônica, em 1912, certo?

Sim, ela criou a primeira Escola Técnica de Eletrônica da América Latina em Santa Rita do Sapucaí, promovendo a formação de jovens para trabalhar com eletrônica numa escola de nível médio.

Infelizmente, quando o Inatel foi fundado ela já havia falecido, mas a ideia foi muito bem recebida pela comunidade de Santa Rita, pela escola técnica. As aulas começaram na sala de instrução do Tiro de Guerra e as aulas de laboratório na Escola Técnica de Eletrônica. E a partir daí os alunos se entusiasmaram e o curso foi tendo bastante sucesso.

E logo de cara o Inatel consegue estabelecer um diálogo com a iniciativa privada?

As empresas que necessitavam de profissionais formados em telecomunicações começaram a nos ver como um celeiro dos talentos e, consequentemente, os nossos egressos começaram a fazer parte das companhias que fabricavam equipamentos de telecomunicações e também para as próprias empresas de telecomunicações.

Fomos a primeira escola de telecomunicações do Brasil e esse projeto precisava ter algo que o sustentasse financeiramente porque somos uma instituição privada sem fins lucrativos. Era preciso investir em laboratórios adequados para oferecer uma formação alinhada com o nosso propósito, que era a formação prática. E, com isso, começamos a nos relacionar com o mercado. Desde o início, trabalhamos bem próximos às necessidades da sociedade.

Logo tivemos a possibilidade de um contrato com o governo de Minas Gerais para trazer os sinais de televisão da capital mineira para a região do Sul e Sudoeste de Minas Gerais. Várias cidades de Minas recebiam o sinal vindo do Rio de Janeiro ou de São Paulo, mas não de Belo Horizonte. E o Inatel foi o responsável pela interiorização da televisão da Capital para essas regiões. Logo depois fechamos uma parceria muito forte com a IBM.  Nós temos 60 anos de fundação e parceria com a Eriksson há 56 anos.  E aí as empresas começaram a nos ver como parceiros não só para formação de profissionais, mas também para desenvolvimento de tecnologia.

E essa integração com o mercado nunca parou.

Nós tivemos grandes projetos com a Vale, com a Nortel, com a Globo Cabo. Hoje, temos vários projetos com Huawei, Nokia, Marcopolo, Bosch, Intelbrás, Qualcom, enfim, várias empresas nacionais e internacionais, que fazem parte do contexto de tecnologia.

Professor, o Inatel tem duas grandes missões logo de cara: a formação de mão de obra em tecnologia e a fixação desses profissionais no Brasil a partir da interação com as empresas. O senhor é, inclusive, um ex-aluno. Como vê essa questão?

Na graduação são sete cursos: telecomunicações, computação, engenharia de software, engenharia biomédica, engenharia de controle e programação, engenharia de produção e engenharia elétrica. Temos um programa de pós-graduação para formar em áreas de tecnologia da informação e de telecomunicações.

Então, além de uma parte educacional muito forte, nós temos um centro chamado Inatel Competence Center, onde promovemos tecnologia com essas empresas nacionais e internacionais. Esse centro tem um papel muito importante, não só no desenvolvimento de novas tecnologias, como também de promover uma formação diferenciada dos nossos jovens.

Muitos estagiam e atuam em projetos de grande impacto dentro de grandes empresas. Eles entram no mercado recém-formados já com experiência. Sem falar que instigamos os nossos alunos a criarem as suas próprias empresas. Hoje, Santa Rita tem cerca de 170 empresas na área de tecnologia da informação e comunicação, das quais 85 nasceram no Inatel.

Além de tudo isso, o Inatel é uma unidade Embrappi, que é a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial que conecta o conhecimento científico da sua rede de unidades com a indústria por meio de um modelo ágil e com o investimento de recursos não reembolsáveis. Qual a importância de ser uma unidade Embrappi?

O Inatel tem uma participação muito forte na área de tecnologia da informação e da comunicação. Nos últimos anos, a Embrapii lançou uma proposta bastante interessante, que é a de ter no Brasil os chamados centros de competência. São nove, em diferentes estados brasileiros. Em Minas Gerais existe apenas um, que somos nós. O Inatel é o centro de competência em 5G e 6G, dedicado à comunicação móvel para as várias gerações.

Ele nasce com a proposta de gerar tecnologia de todas as gerações que vão existir daqui para o futuro. Além disso, temos um centro de segurança cibernética e o centro na área de inteligência artificial. E vários laboratórios temáticos que trabalham com realidade virtual, realidade aumentada, 4.0, robótica, equipamentos eletromédicos, entre outros.

Com tudo isso que acontece dentro do Inatel, o senhor ainda fica espantado com alguma pesquisa desenvolvida, com alguma ideia vinda dos professores ou dos alunos?

Todo dia eu fico surpreso porque as áreas vão se integrando e, à medida que o tempo passa, a gente vê a tecnologia em diferentes mercados, em todas as áreas da economia. No passado era muito segmentado e as tecnologias se adaptavam à sua área de uso. Hoje em dia, as tecnologias são utilizadas em diferentes áreas, em diferentes verticais da economia, trazendo eficiência nas mais variadas áreas de atuação.

Em 2015, quando a gente começou a pesquisar o 5G, a proposta, basicamente, era trazer para o contexto das telecomunicações algumas coisas que as outras redes, até então, não conseguiram fazer. A primeira geração era só o telefone. Depois, a segunda geração já trazia a possibilidade de colocar mensagens. A terceira, já dava algum acesso à internet. O 4G deu a possibilidade de um acesso à internet de melhor qualidade e aí surgem os aplicativos voltados para algumas aplicações de grande utilização, como os de mobilidade urbana, por exemplo.

E a quinta geração, ela tem uma proposta muito importante. Primeiro, aumentar a taxa de transmissão, se comparada ao 4G, em até 100 vezes. Segundo, mais do que conectar pessoas, conectar coisas. Então a gente pode ter wearables, ou seja, podemos usar anel, relógio, gargantilha, que podem fazer medidas corporais e monitorar a nossa saúde. Podemos ter internet das coisas espalhadas pela cidade para monitorar a iluminação pública, fazendo que o consumo de energia seja menor. Enfim, uma diversidade de coisas. Mas a rede 4G não estava preparada para monitorar coisas. E o 5 G traz a possibilidade de processar a informação de muitas coisas de forma simultânea.

E por último, toda a rede de comunicação tem um atraso chamado latência. As redes nos permitiam trabalhar muito bem o acesso à internet como comunicação, mas não dava para usar a rede móvel para usos mais exigentes, como por exemplo, uma cirurgia remota.

Para isso acontecer, o atraso tem que ser mínimo. O 5G trouxe essa facilidade. Daqui para frente ainda tem muita coisa para acontecer. Tudo isso tem que ser acompanhado de muita segurança. Trabalhamos de forma muito intensa na área de segurança cibernética, para proteger pequenas, médias, grandes empresas e até o usuário. Existe uma outra perspectiva muito forte no que diz respeito ao desenvolvimento de novas aplicações e tecnologias. A partir de dados, conectividade, inteligência artificial, machine learning, a gente começa a desbravar um mundo que hoje não conhecemos.

O Inatel é muito integrado ao dia a dia da cidade. O senhor pode contar o que é o Movimento “Cidade Criativa, Cidade Feliz”? Como o Inatel faz parte?

Nós temos aqui um teatro, que é o maior da região,  o programa Inatel Cultural, aberto para a cidade, e dentro dessa agenda cultural de Santa Rita tem o “Cidade criativa, cidade feliz”, com shows, espetáculos, atividades. Durante o ano, temos várias semanas temáticas. Em 2025, teremos um TEDX e um festival de conhecimento muito importante em Santa Rita, que é o Hacktown.

Tudo isso faz com que a comunidade tenha a possibilidade de participar de forma intensa da vida do Instituto. Toda essa integração com o mercado resulta em recursos que são aplicados em bolsa de estudo. Aproximadamente 70% dos nossos alunos de graduação recebem algum tipo de bolsa e 100% dos nossos alunos de mestrado e doutorado também.  

60 anos não é para qualquer instituição. Como será comemorado esse aniversário?

Já começou. No dia 31 (de março), tivemos a apresentação de um espetáculo bastante bonito chamado Starlight Clássicos do Rock’n’roll, interpretados com violinos, violoncelos e piano. Vamos ter um encontro dos colaboradores do Inatel na última semana de abril. Faremos o Encontro Nacional de Ex-Alunos. Temos uma comunidade de ex-alunos muito atuante que vai se reunir aqui no primeiro final de semana de maio. Depois a gente tem a entrega da comenda Inatel e alguns outros encontros que vão acontecer durante o ano.

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