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Inatel atua em prol da formação profissional

Instituto, localizado no Sul de Minas, tem hoje mais de 1.200 alunos distribuídos em sete cursos de graduação
Inatel atua em prol da formação profissional
Foto: Diário do Comércio/Leonardo Morais

A escassez de mão de obra qualificada, especialmente em tecnologia da informação e comunicações (TIC), assombra as maiores economias do planeta e isso inclui o Brasil. De acordo com um estudo da consultoria de recursos humanos ManpowerGroup, divulgado no ano passado, o País é o nono com mais falta de mão de obra qualificada, dentre 40 países e territórios.

Segundo o relatório, 81% dos empregadores brasileiros disseram enfrentar dificuldade para encontrar trabalhadores com a qualificação necessária. O índice subiu em relação ao estudo de 2021 (71%) e é maior que a média global (75%).

O estudo também lista as áreas com maior demanda de mão de obra qualificada: Tecnologia da Informação & Dados (40%); Atendimento ao Cliente & Front Office (32%); Logística & Operações (23%); Marketing & Vendas (21%); Administração & Apoio ao Escritório (21%).

Em Santa Rita do Sapucaí (Sul de Minas), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) se esforça para ajudar a minimizar o problema. Fundada em 1965, a escola tem atualmente mais de 1.200 alunos distribuídos em sete cursos de graduação – Engenharia biomédica, Engenharia de Computação, Engenharia Controle e Automação, Engenharia Elétrica, Engenharia de Produção, Engenharia de Software, Engenharia de Telecomunicações e pós-graduações (mestrado e doutorado).

Nos diversos laboratórios do Inatel, pesquisas de base e aplicadas apontam para um futuro tecnológico do “fundo do mar” ao “espaço sideral”, colocando o Brasil no mapa da inovação mundial. De dispositivos que tornam pivôs de irrigação inteligentes aos cubesats – satélites em miniatura – é possível desenvolver a sexta geração da internet (6G), soluções para a área da saúde, em cibersegurança e até criar uma nova internet, entre outros muitos projetos.

De acordo com o diretor do Inatel, Carlos Nazareth, mais do que formar profissionais de ponta, é missão do Instituto promover pesquisas capazes de atender às necessidades da sociedade brasileira na sua diversidade e complexidade.

“Temos uma variedade muito grande de estudos e aplicações. Temos nos voltado, por exemplo, para a agricultura, especialmente o café, que é o principal produto da nossa região. Aqui temos o café de montanha, cultivado, principalmente, em pequenas propriedades. Esses produtores precisam de soluções tecnológicas específicas, diferentes de quem planta em grandes áreas planas, por exemplo”, explica Nazareth.

Para o professor, atuar em rede é outra obrigação da escola. Diversos convênios estão em vigor com universidades de institutos de pesquisa particulares e privados, dentro e fora do Brasil.

Em julho de 2021, por exemplo, o Inatel firmou um acordo de cooperação científica com a Université du Québec à Trois-Rivières – UQTR, do Canadá. O acordo prevê o intercâmbio de alunos para cursos de verão e outros intensivos, além de doutorado-sanduíche, oportunidades de coorientação de trabalhos científicos e possibilidade de submissão de projetos internacionais em conjunto.

O intercâmbio de conhecimentos tem reflexos no projeto Brasil 6G, desenvolvido por várias instituições de ensino e pesquisa do País, sob coordenação do Inatel e da Rede Nacional de Pesquisa (RNP).

“As parcerias são muito importantes. Elas encurtam o tempo e diminuem os custos. O Brasil faz ciência de primeira linha, mas precisamos otimizar os processos. O Inatel é um espaço de excelência e é comum nossos alunos serem assediados por empresas internacionais mesmo antes da formatura, principalmente agora com a massificação do trabalho remoto. Precisamos reforçar um ambiente de pesquisa e inovação capaz de reter os talentos no Brasil, gerando riquezas, desenvolvimento e bem-estar social no nosso País”, pontua o diretor do Inatel.

Instituto está envolvido em várias frentes

As aplicações dos conhecimentos gerados dentro do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí (Sul de Minas), fomentam inovação e desenvolvimento em diferentes setores econômicos e podem impactar diretamente a vida de grande parte da população.

Uma das pesquisas que gera maior interesse é sobre as gerações da internet. Até o 4G, o Brasil era um mero importador de tecnologia. No 5G, passou a integrar as pesquisas mundiais a partir de estudos desenvolvidos no Inatel. E, agora com o 6G, protagoniza estudos de classe mundial.

O Inatel é credenciado pela Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) para atendimento à área de Comunicações Digitais e Radiofrequência, como o desenvolvimento de dispositivos de Comunicação Digital e Radiofrequência, Sistemas de Monitoramento Remoto e Arquiteturas e dispositivos de redes de alta densidade (IoT). O Instituto atua de maneira multidisciplinar englobando concepção, desenvolvimento de protótipos (design, mecânica e eletrônica, hardware, firmware e software) e ensaios e testes, com equipe dedicada ao desenvolvimento de projetos com indústrias.

Segundo o coordenador do Centro de Competência Embrapii em Redes 5G e 6G e professor do Inatel, Luciano Leonel Mendes, o objetivo é ver as possibilidades que essas tecnologias trazem para o mercado e verificar como podem ser usadas para atender as demandas específicas dos setores brasileiros.

“A gente também propõe soluções, criamos novas tecnologias. No passado o Brasil errou buscando padrões próprios, com pouca viabilidade econômica. A nossa luta é como colocar nos padrões globais soluções tecnológicas que atendam nossas demandas”, explica Mendes.

Na área da saúde, a coordenadora de projetos do eHealth Innovation Center Inatel, Luma Rissati, apresenta produtos que despertam interesse de diferentes indústrias. Um deles é o “Software de Rastreamento Ocular para Auxílio na Identificação de Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”. A iniciativa recebeu o nome de Eye Tracking.

“A criança assiste um vídeo para que o movimento dos olhos seja capturado. O computador armazena os dados e consegue auxiliar o médico no diagnóstico, ajudando na escolha do melhor tratamento. Uma das vantagens do software é a questão do custo. Com ele é possível fazer o diagnóstico a distância, atendendo os pacientes em suas cidades de origem, evitando grandes e repetitivos deslocamentos”, destaca Luma Rissati.

O laboratório foi criado há 11 anos, quando se dedicava ao desenvolvimento de tecnologias assistivas. Hoje vai além e todos os alunos da graduação passam por ele.

O “CubeSat Desing Team” foi criado com o intuito de complementar a formação dos estudantes e despertar o interesse pela área de engenharia espacial.

Os CubeSats são satélites em miniatura que podem ser lançados para órbita e executam missões reais. Eles geralmente são utilizados para pesquisas espaciais e em telecomunicações. Desenvolvidos no Cyber Secutity & IoT Laboratory do Inatel, os equipamentos, que pesam pouco mais de um quilo, poderão ser lançados da Base de Alcântara, no Maranhão, em breve.

Segundo o especialista do Centro de Segurança Cibernética – CxSC Telecom, Ítalo de Sousa Tacca, os cubesats podem promover uma revolução com o barateamento da tecnologia de comunicação via satélite.

“Existe uma tendência de utilização desses satélites nos próximos anos, principalmente para construção de constelações. Todo mundo já ouviu falar sobre a constelação que o Elon Musk está fazendo para prover internet globalmente. Ele tem um custo bastante elevado com o lançamento dos satélites de tamanho normal. Os cubesats são bem pequenos e podem prover conectividade em locais remotos. Hoje a nossa missão é desafiar as anomalias magnéticas do Atlântico e também realizar os testes de alguns equipamentos construídos no Brasil como sensores de estrelas. Estamos desenvolvendo essa tecnologia 100% brasileira”, comemora Tacca.

Uma das pesquisas mais intrigantes desenvolvidas no Inatel acontece no Information and Communications Technologies Laboratory (ICT Lab). Lá, o professor e coordenador do ICT Lab, Antônio Marcos Alberti, desenvolve uma proposta de uma nova internet: a NovaGenesis. O projeto é uma iniciativa de future internet desenhada do zero combinando ingredientes-chave para novas abordagens, tais como: Internet das coisas, virtualização, funções virtuais de rede, redes centradas em conteúdo, redes centradas em serviços, arquiteturas orientadas a serviços, infraestruturas cibernéticas, dentre outros.

Mais recentemente, o laboratório expandiu seus horizontes ao incorporar estudos em outras arquiteturas de Internet do futuro, tais como XIA, Rina, etc. Também, foram inseridos vários projetos relacionados às atuais tecnologias para Internet das coisas, 5G/6G e infraestruturas cibernéticas.

“Temos trabalhado para integrar as coisas do 5G que não foram feitas. Estamos incrementando, por exemplo, um componente de inteligência artificial para observar a rede e determinar como pode ser melhorada. Estamos com coisas novas, com as mesmas tecnologias tanto de superfície inteligente quanto de gênero digital, com muito menos investimento do que as nações desenvolvidas”, afirma Alberti.

O uso e o avanço da inteligência artificial estão no centro dos estudos desenvolvidos no laboratório. Certo de que as pesquisas não vão parar, o pesquisador chama a atenção para a responsabilidade dos governos e da sociedade para que os estudos levem à melhoria das condições de vida da população e não ao acirramento das desigualdades intra e entre países.

“Sou a favor da continuidade das pesquisas. Interromper os estudos da tecnologia em si, não vai resolver o problema porque quem tem que mudar são os humanos. Temos que trabalhar com novos valores e mais transparência. A educação é o caminho. E os governos teriam um papel de fiscalização. A questão da ética é fundamental. Não adianta se a gente não tiver preparado a ética da mentalidade dos modelos. Se você mudar só o modelo e não mudar a mentalidade, não adianta. E vice-versa”, avalia o coordenador do ICT Lab.

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