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Inatel desenvolve internet 6G “à brasileira”

Tecnologia, em desenvolvimento, deverá ser implantada a partir de 2032
Inatel desenvolve internet 6G “à brasileira”
Explorar e desenvolver o 6G pode capacitar o Brasil a se tornar um protagonista, em vez de apenas um mero consumidor | Crédito: Adobe Stock

Ao passo que boa parte do País ainda aguarda a implantação da internet 5G, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, pesquisadores do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) já preparam a sexta geração (6G), que deverá ser implantada a partir de 2032.

A história, porém, começa antes, até mesmo, do completo desenvolvimento da quinta geração. Se o 5G prometia baixa latência, cobertura de vazios geográficos e a chamada internet das coisas (IoT), entre outros atributos, em 2018 os professores do Inatel já sabiam que algumas dessas funcionalidades não atingiriam o seu grau máximo de eficiência naquela onda de inovação e já começaram, então, a preparar o 6G.

Conforme o coordenador de Pesquisa do Brasil 6G e coordenador de Pesquisa do Centro de Referência em Radiocomunicações (CRR) do Inatel, Luciano Leonel Mendes, a criação do Brasil 5G foi fundamental para que o Brasil passasse a integrar os esforços mundiais de pesquisa sobre as próximas gerações de comunicação móvel.

“Havia uma indicação de que existiam funcionalidades prometidas que o 5G não iria entregar. Assim começaram a surgir os primeiros projetos em 6G. O primeiro na Finlândia e custou mais de R$ 1 bilhão. Aqui foi formado o Brasil 5G e, na primeira fase, queríamos entender as demandas nacionais que não seriam atendidas pelo 5G. A pandemia evidenciou que uma interação em vídeo e voz não era eficiente em termos de convivência humana e o 5G não ia transpor essa barreira. Também o alcance em áreas desconectadas e demandas de setores como saúde, mineração, agronegócios que não foram ouvidas”, relembra Mendes.

Na segunda fase, o Projeto Brasil 6G propôs soluções para essas demandas, indicando quais tecnologias seriam necessárias para que os setores possam ser suportados em uma rede 6G levando-se em conta em um ambiente diverso como o Brasil.

Agora o projeto está na terceira fase, com teste em ambientes mais realistas, em protótipos. Os pesquisadores podem acessar o ambiente remotamente para estudar lacunas em custos e operação.

“Ao longo desse período houve um interesse contínuo do governo brasileiro em apoiar as pesquisas. Existe um entendimento sobre o enorme valor estratégico desses estudos para o desenvolvimento do Brasil e temos sucesso em algumas fontes de financiamento e parcerias com universidades e centros de pesquisas estrangeiros. É claro que esse financiamento não está no mesmo nível que acontece na Europa e nos Estados Unidos, mas isso nos permite contribuir de forma significativa com os estudos mundiais”, pontua o pesquisador.

Discutir e desenvolver o 6G pode colocar o Brasil, pela primeira vez, em condições de não ser um mero consumidor da tecnologia de comunicação móvel, mas, sim, de ter protagonismo em um salto tecnológico sem precedentes e fazer do País um provedor e exportador de tecnologia de ponta.

Um dos grandes desafios para que isso seja possível é conseguir manter os pesquisadores no Brasil. A concorrência global por profissionais capacitados em tecnologia de ponta cresce exponencialmente e como já é notório, o País segue exportando mão de obra.

“Sofremos com o desafio de manter as pessoas. Tenho muitos colegas que foram para Europa e EUA. De certa forma, ficamos orgulhosos com isso, mas gastamos muito esforço e recursos na formação dessas pessoas que acabam indo produzir em outro lugar. Como o assunto é muito específico, quem vem do mercado tem que ser formado novamente. Para mudar isso, precisamos aquecer o mercado criador de conhecimento. A perenidade dos projetos garante que as pessoas fiquem. Quem quer pesquisar tem que entrar para uma universidade. Com a criação do Centro de Competência Embrappi 5G e 6G e de um ecossistema com várias empresas associadas, o valor dessas pessoas vai ser percebido. A tendência é a de que as empresas queiram essas pessoas nos seus quadros para fazer desenvolvimento científico que permita o desenvolvimento de produtos inovadores.”

O Centro de Competência Embrappi em Tecnologia e Infraestrutura de Conectividade 5G e 6G foi criado em maio de 2023. A unidade vai receber investimentos de R$ 60 milhões em um período de 42 meses para desenvolver uma série de ações que combinam ampliação e capacitação de recursos humanos, associação tecnológica e atração e criação de startups.

No Brasil 6G, o investimento foi de aproximadamente R$ 21 milhões, via Rede Nacional de Pesquisa (RNP) com recursos do Programa Prioritário em Informática do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (PPI/MCTI).

Internet 6G exige ética e legislação transparentes

Se o 5G prometia a entrada definitiva do planeta na era da “internet das coisas” (IoT), o 6G pode romper a barreira da biologia e nos levar para um novo patamar de conexão entre as coisas, as pessoas e a natureza. Será a era da hiperconectividade através de nanobiossensores.

O 6G seria “o homem conversando com as máquinas, as máquinas conversando com o homem e ambos conversando com a natureza”. É a chamada “conectividade ubíqua” que abre a perspectiva de uma “internet dos sentidos”.

Essa possibilidade já movimenta calorosas discussões sobre ética e legislação. A aceleração e massificação do uso da inteligência artificial (IA) nos últimos anos acendeu a fogueira entre cientistas, políticos e pensadores. Aos poucos esse tema tem extrapolado os muros das academias para cair no dia a dia da sociedade civil.

A primeira versão da internet 6G vai quebrar barreiras do 5G com comunicações holográficas muito mais realistas, e a comunicação háptica, quando vamos transmitir a sensação de toque sem que a pessoa tenha que vestir nenhum tipo de aparato. Os biossensores vão permitir, por exemplo, que saibamos como os alimentos vão atingir o nosso corpo em tempo real.

“O problema disso é que se eu consigo monitorar a corrente sanguínea, também tenho acesso às emoções daquela pessoa. Imagine como isso pode ser usado pela publicidade, por exemplo, ou por políticos mal-intencionados. A ética tem que tratar do uso das informações, a proteção à privacidade. Precisamos discutir muito seriamente para garantir o desenvolvimento econômico do País e a proteção das pessoas. Tudo isso vai demandar uma mudança na legislação muito além de uma lei das antenas ou de infraestrutura urbana. As estações não serão mais torres como temos hoje. Elas estarão dentro da parede, da lâmpada, muito mais distribuídas e integradas à vida das pessoas. Os pesquisadores têm que interagir com os legisladores para que isso seja possível. Temos conversas com os governos regularmente”, destaca o coordenador de Pesquisa do Brasil 6G.

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