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Indústria entra na ‘guerra por talentos’ e eleva salários em até 15%

Setor eleva salários de cargos estratégicos para enfrentar escassez de mão de obra e atrair profissionais qualificados, revela levantamento da consultoria Michael Page
Indústria entra na ‘guerra por talentos’ e eleva salários em até 15%
Crédito: Adobe Stock

Em um cenário marcado por guerras tarifárias, pressões de importações e custos crescentes, a indústria brasileira enfrenta agora um novo e silencioso campo de batalha: a guerra por talentos. Para se manter competitiva e atrair profissionais de alta performance, empresas do setor estão oferecendo salários entre 2% e 15% acima da média de mercado, segundo levantamento da Michael Page, consultoria global de recrutamento de média e alta gerência, parte do PageGroup.

“Estamos diante de um apagão de mão de obra na indústria. As novas gerações já não enxergam no setor a mesma trajetória de carreira que era comum no passado, o que cria um déficit estrutural e aumenta a dificuldade de retenção”, afirma o diretor-executivo da consultoria, Stephano Dedini.

Fuga de cérebros e realinhamento estratégico

O movimento de valorização salarial tem origem em dois fenômenos simultâneos: a dificuldade de atrair novos talentos e a migração de profissionais experientes para áreas vistas como mais dinâmicas, como mercado financeiro, tecnologia e logística – ou mesmo o empreendedorismo.

Para reverter essa tendência, empresas industriais estão priorizando a contratação de executivos com visão estratégica e domínio técnico avançado, capazes de liderar operações críticas, analisar dados em tempo real, implementar melhorias contínuas e acelerar processos de automação.

Além de competências técnicas, destaca-se a busca por habilidades comportamentais sofisticadas, como liderança empática, comunicação clara e capacidade de formar e reter equipes de alta performance.

Salários estratégicos para cargos-chave

A elevação salarial não se aplica de forma indiscriminada: está concentrada em posições de impacto direto nos resultados e na competitividade das empresas – cargos de diretoria e gerência industrial, manutenção, agrícola e de segurança ocupacional.

Stephano Dedini
Estamos diante de um apagão de mão de obra na indústria, alerta o diretor-executivo da consultoria, Stephano Dedini | Foto: Divulgação Michael Page

De acordo com Dedini, diretores industriais hoje recebem entre R$ 35 mil e R$ 45 mil, podendo chegar a R$ 65 mil no mercado sucroenergético. Já gerentes industriais e agrícolas variam de R$ 25 mil a R$ 45 mil, enquanto gestores de manutenção e saúde, segurança e meio ambiente atuam na faixa de R$ 18 mil a R$ 35 mil.


Cargos em alta na indústria e o que os torna estratégicos

Diretor Industrial

  • Responsabilidade: Maximizar eficiência operacional e liderar projetos de modernização e ampliação de fábricas, especialmente em açúcar e etanol.
  • Perfil exigido: Visão holística de mercado, tomada de decisão baseada em dados e capacidade de antecipar cenários futuros.
  • Média salarial: R$ 40 mil a R$ 65 mil.

Gerente Agrícola

  • Responsabilidade: Coordenar operações de cultivo e manejo, com foco em produtividade e redução de riscos.
  • Perfil exigido: Liderança, gestão de P&L e adaptabilidade para implementar inovações em um mercado tradicional.
  • Média salarial: R$ 25 mil a R$ 40 mil.

Gerente Industrial

  • Responsabilidade: Traduzir diretrizes da alta liderança em planos operacionais e liderar melhorias contínuas.
  • Perfil exigido: Forte conhecimento técnico, gestão de pessoas e visão orientada a indicadores.
  • Média salarial: R$ 27 mil a R$ 45 mil.

Gerente de Manutenção

  • Responsabilidade: Garantir disponibilidade máxima das máquinas, priorizando manutenção preventiva e preditiva.
  • Perfil exigido: Domínio técnico mecânico e elétrico, organização e capacidade de implementar metodologias de alta performance.
  • Média salarial: R$ 25 mil a R$ 35 mil.

Gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente (SSMA)

  • Responsabilidade: Assegurar operações livres de acidentes e alinhadas às normas ambientais e de saúde ocupacional.
  • Perfil exigido: Capacidade de influência, domínio de ferramentas de segurança e integração entre produtividade e compliance.
  • Média salarial: R$ 18 mil a R$ 30 mil.

Este reposicionamento salarial evidencia a transição da indústria para um modelo mais sofisticado, que exige profissionais multifuncionais, orientados por dados e com visão estratégica de negócios. Trata-se de um movimento que vai além da folha de pagamento: é a resposta de um setor que precisa reconquistar protagonismo na economia e competir de igual para igual com os segmentos mais desejados pelas novas gerações.

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