Negócios

Internacionalização é estratégia para diminuir riscos

Fudação Dom Cabral e Apex lançaram um estudo sobre o tema
Internacionalização é estratégia para diminuir riscos
Lívia Barakat explica que o momento é propício para a internacionalização das startups | Crédito: Divulgação / FDC

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Fundação Dom Cabral (FDC) apresentaram, ontem, em São Paulo, os resultados da mais recente edição da pesquisa “Trajetórias FDC de Internacionalização das Empresas Brasileiras”.

O estudo revelou que, entre as participantes, 39,7% são do estado de São Paulo, 15,2% do Rio Grande do Sul e 12,7% de Minas Gerais. A maioria delas atua no exterior, principalmente por exportação (85%). Seguem as modalidades: subsidiária comercial (19,6%), subsidiária produtiva (13,9%), presença virtual (11,74%), parceria sem investimento no exterior (11,7%), licenciamento de produtos (7,4%), pesquisa e desenvolvimento (P&D) (7%), acesso a mercado de capitais (4,3%) e franquias (4,3%).

De acordo com a pesquisadora do Núcleo de Estratégia e Negócios Internacionais da FDC, Lívia Lopes Barakat, Minas Gerais aparece em terceiro lugar, atrás do Rio Grande do Sul, e é de certa forma uma posição incômoda, embora tenha explicação.

“A economia mineira é bem maior que a gaúcha e era esperado que o Estado ficasse atrás apenas de São Paulo. Além da já conhecida ‘discrição’ mineira, o Rio Grande do Sul tem como vantagem ser um estado fronteiriço, que naturalmente já tem contatos históricos com outros países e ter uma colonização mais recente, o que pode ter resultado em um perfil de negócios menos conservadores. De toda forma, é importante que Minas se atente mais para as oportunidades de internacionalização”, explica Lívia Barakat.

O intenso processo de digitalização da economia nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, teve papel fundamental nos resultados apresentados. A modernização da economia impôs às empresas buscar novas formas de atuar no exterior.

“Houve a transformação digital e alguns efeitos colaterais da pandemia. Era muito comum que as internacionalizadas fossem do setor de manufatura, de commodities ou serviços, como construtoras, por exemplo. Essas empresas tinham que ter uma estrutura lá fora, como uma planta produtiva ou escritórios com grande volume de pessoas. O investimento direto era alto. Agora, empresas menores também estão indo. Às vezes, já começam com o e-commerce, marketplaces, aplicativos e até equipes multilocalizadas. É um movimento disperso e que dispensa grandes estruturas”, explica Lívia Barakat.

Outro ponto fundamental é a própria necessidade de diminuir os riscos. Ao buscar novos mercados, as empresas visam diluir o risco de enfrentar crises econômicas e políticas, mas apenas esse fator não basta, já que esse é um processo de longo prazo.

A internacionalização requer investimento e planejamento consistente, não só por oportunidade. Tem que existir uma estratégia deliberada, construída para o mercado internacional”, pontua.

As empresas participantes da pesquisa levaram, em média, 20 anos para se internacionalizar. Quando se realiza um recorte entre empresas tradicionais (fundadas antes de 2000) e empresas jovens (fundadas a partir dos anos 2000), é possível ver diferenças significativas na velocidade de internacionalização. As empresas tradicionais levaram, em média, 19 anos para se internacionalizar, enquanto as empresas mais jovens levaram apenas seis anos.

As startups se internacionalizaram ainda mais rápido, em média quatro anos após sua fundação. Por fim, a média de tempo gasto pelas empresas consideradas Born Global (nascidas globais) é apenas oito meses após sua fundação, o que mostra como algumas empresas de fato já nascem focadas em atender o mercado internacional.

“Esse é um momento muito propício para as startups, porque elas têm facilidade de meios de pagamento, de comunicação e facilidade de entrega dos serviços. Elas também são alvo de interesse de muitos programas estatais de desenvolvimento. Elas levam para esses países tecnologia, novos serviços, inovação, e isso tudo contribui para o crescimento dos países que recebem essas empresas”, acrescenta.

Futuro da internacionalização

Apenas 10,5% das empresas planejam retração ou grande retração das operações nos mercados em que elas já atuam, nos próximos dois anos. Nesses casos, os motivos são atribuídos, em geral, a fatores externos mundiais, como os impactos da pandemia da Covid-19, a guerra na Ucrânia, o aumento de fretes, os altos juros e a inflação.

Por outro lado, 64,4% das empresas planejam expansão ou grande expansão nos mercados em que já atuam nos próximos dois anos, o que indica que elas ainda vislumbram oportunidades de crescimento nesses mercados. Os principais motivos para essa expansão são: novas possibilidades de expansão comercial no exterior, crescimento do e-commerce, consolidação de alianças e parcerias, oferta de produtos inovadores, investimento em qualificações técnicas e operacionais e maior reconhecimento da marca.

“ A internacionalização é uma experiência gradual que envolve um ciclo de aprendizagem que não se fecha em curto prazo. Alguns conhecimentos e habilidades precisam ser desenvolvidas como domínio do idioma, mindset global, capacidade de lidar com culturas e valores diferentes, conhecimento sobre a legislação local”, enumera a professora da FDC.

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