Retomada de investimentos em Infraestrutura intensifica busca por mão de obra qualificada

Após quase uma década de insuficiência crônica de investimentos no setor de infraestrutura, o mercado está em fase de aquecimento. Os aportes previstos para 2024 são os maiores desde 2015, com aumento significativo tanto no setor público quanto no privado. Segundo a consultoria EY, 46% dos gestores enxergam um cenário favorável para contratações no segmento.
Diante desse contexto, o Panorama Setorial de Infraestrutura da Robert Half explora o impacto de um novo ciclo de demandas na geração de empregos qualificados. “Observamos uma busca crescente por perfis diferenciados, como especialistas em planejamento financeiro, engenheiros especializados em Internet das Coisas (IoT) e especialistas ambientais, que ganharam destaque recentemente devido à emissão de dívidas verdes”, destaca o gerente de recrutamento da Robert Half em Minas Gerais, Daniel Maciel.
Recuperação do setor a passos largos
O cenário macroeconômico tem evoluído de forma positiva: o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o estímulo a parcerias público-privadas e a política de concessões indicam aportes governamentais na casa de R$ 1,7 trilhão nos próximos anos. De acordo com um estudo da EY, as áreas de infraestrutura que mais receberão investimentos nos próximos três anos são saneamento, energia elétrica, rodovias, mobilidade urbana, ferrovias e petróleo.
Paralelamente, os aportes previstos para o Brasil em 2024 somam R$ 215,8 bilhões, um aumento de 11% em relação a 2023, segundo a Carta de Infraestrutura da consultoria Inter.B. As concessões, especialmente de rodovias, devem movimentar o mercado de trabalho. Estão previstos 13 leilões de rodovias em 2024, com potencial de injetar R$ 122 bilhões em investimentos privados.
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“Cada vez que um ciclo de concessões se inicia, o aquecimento do mercado provoca a famosa ‘dança das cadeiras’, já que as empresas buscam por pessoas experientes que já atuam no setor. Esse movimento, em geral, chama a atenção de quem enxerga oportunidades de crescimento em uma mudança de empregador”, explica o especialista em recrutamento da Robert Half no ABC e Baixada Santista, Caio Rodrigues.
Nas fases iniciais das concessões, quando a empresa assume a gestão de ativos, há maior procura por perfis financeiros focados na análise de viabilidade econômica e modelos de gestão. Além disso, há demanda para preencher vagas deixadas por aposentadorias e desligamentos, e também para prestar novos serviços e implementar projetos.
Com o andamento das operações, a procura se concentra em profissionais focados em eficiência, especialmente nas áreas de suprimentos, engenharia e tecnologia da informação.
Capital intensivo predefine expectativa de performance
Operações de energia, rodovias, portos e aeroportos compartilham a característica de serem intensivas em capital, com expectativas de performance predefinidas dentro de cada operação. Isso gera uma demanda constante por profissionais capacitados para atuar em pontos críticos da operação, garantindo os retornos esperados.
Além dos perfis tradicionais, como os das áreas financeira e tributária, há uma busca crescente por engenheiros especializados em IoT, para projetos de automação que aumentem a eficiência e a rentabilidade, e por especialistas em supply chain, dada a relevância das compras no setor para os custos dos projetos.
Gerentes de projetos e especialistas em logística de modais específicos, como o ferroviário e portuário, também estão em alta, já que as companhias têm focado no recrutamento de funções diretamente relacionadas aos seus principais resultados.
Transformação digital chegou de vez ao setor
A imagem tradicional da infraestrutura – com operários realizando obras em estradas, portuários carregando sacas de grãos e ferroviários fazendo manutenção em locomotivas – está cada vez mais distante da realidade atual.
Embora o setor tenha sido um dos últimos a ser impactado pela automação e digitalização, ele se torna cada vez mais moderno e complexo. A Internet das Coisas já está presente em diversas áreas, como pedágios automatizados e guindastes portuários. Tecnologias digitais e satélites aceleram a entrega de obras rodoviárias e ferroviárias, pressionando as áreas de TI a reter e contratar profissionais qualificados.
Enquanto grandes empresas acessam investidores internacionais e novas tecnologias, o principal desafio para as companhias de médio porte está na gestão, ainda familiar e centralizada, sem processos, governança ou ferramentas adequadas. Isso aumenta a demanda por talentos capazes de promover mudanças culturais e estruturais no setor.
Desafios (e oportunidades) no horizonte
Grande parte das operações está em áreas onde empresas privadas substituem serviços estatais. Com isso, mudam as expectativas dos stakeholders e a cobrança por resultados. O crescimento da procura por profissionais de relações governamentais e institucionais reflete essa nova realidade, e a carência de talentos experientes no mercado torna difícil o preenchimento dessas vagas.
Em regiões fora dos grandes centros urbanos, o relacionamento com stakeholders locais é crucial para o sucesso dos projetos, que precisam constantemente renovar sua “licença social” para operar. A procura por profissionais com expertise em relações comunitárias reflete essa importância, mas as empresas enfrentam dificuldades para atraí-los e retê-los nessas regiões, o que favorece a rotatividade.
Os grandes projetos de infraestrutura também geram impactos profundos, e investidores, clientes e a opinião pública estão cada vez mais atentos a eles. Diferentemente do passado, a demanda por profissionais ambientais agora faz parte das estratégias de negócios, comunicação e engenharia financeira, não se limitando às áreas de prevenção ou mitigação de riscos.
“Recentemente, especialistas ambientais ganharam destaque em projetos de green bonds, com o mercado internacional consolidado e a geração de economia financeira por conta das ‘dívidas verdes’. Em paralelo, a compensação de emissões está se tornando uma questão cada vez mais relevante para as organizações, ampliando as oportunidades para talentos especializados”, completa Daniel Maciel.
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