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Jornalismo em tempos de pandemia

Livro de Marcelo Freitas apresenta ao leitor os bastidores da cobertura jornalística da Covid-19 e todas as suas nuances
Jornalismo em tempos de pandemia

A partir de março de 2020, quando o ainda pouco conhecido “novo coronavírus” chegou ao Brasil, uma expressão comum ao noticiário de guerra migrou para as páginas e programas dedicados ao tema da saúde e logo tomou praticamente todo o noticiário: “profissionais da linha de frente”. Médicos, enfermeiros, atendentes, equipe técnica e administrativa que trabalhavam nos equipamentos médico-hospitalares foram assim reconhecidos.

Mas outros profissionais também se mantiveram nas suas trincheiras, como os jornalistas. Munidos de coragem e muito profissionalismo, eles inventaram um novo jeito de trabalhar, saíram às ruas, se valeram de recursos tecnológicos para fazer a maior cobertura jornalística da história do País. Dois anos e meio depois, o jornalista Marcelo Freitas lança o livro “Nós também estivemos na linha de frente”, pela editora Comunicação de Fato, contando um pouco desses bastidores.

O autor descreve como foi a migração do jornalismo presencial para o home office, os desafios enfrentados para fazer a cobertura da pandemia no novo modelo, a formação do Consórcio de Veículos de Imprensa, as agressões e tentativas de intimidação que os jornalistas sofreram durante a Covid-19, a parceria do jornalismo com os cientistas e a volta para o sistema presencial nas redações, a partir do final de 2022.

Foram realizadas 61 entrevistas com profissionais, entre editores e repórteres que trabalham na redação de alguns dos principais veículos de comunicação (rádio, TVs, jornais impressos e portais de notícias) do País; assessores de comunicação de instituições que tiveram interface forte com os veículos durante a pandemia, como o Instituto Butantã, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Ministério da Saúde; cientistas, que descreveram como foi a parceria com a imprensa, além do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. Também foram entrevistados diretores de instituições que representam jornalistas e empresas na área de comunicação, como a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), sindicatos dos jornalistas de Minas, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, e a Associação Nacional de Jornais (ANJ).

“O jornalismo e os jornalistas vivem de contar histórias, mas sempre as histórias dos outros. Falamos muito pouco das nossas. As pessoas não sabem como uma notícia é produzida, quais são as dificuldades enfrentadas. No caso da pandemia, a cobertura feita foi maior do que era possível, com uma dedicação maior do que era possível. Quando comecei a pesquisa para o livro, não tinha noção disso”, afirma Freitas.

Considerada a maior tragédia sanitária global da história da humanidade, a Covid-19 atingiu em cheio alguns paradigmas da profissão como a imparcialidade e a impessoalidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 15 milhões de pessoas tenham morrido no mundo até agora em decorrência da doença. No Brasil, segundo o Consórcio de Imprensa, esse número se aproxima de 700 mil pessoas.

A OMS acredita que muitos países subestimaram os números de pessoas que morreram de Covid-19 ou em decorrência do vírus. Até maio deste ano, 5,4 milhões de mortes foram contabilizadas oficialmente.

“Cada um viveu um drama particular durante a pandemia. A ideia de que o jornalista não pode se emocionar caiu por terra. Ouvi de um fotógrafo que cobriu a crise do oxigênio em Manaus (AM) que ele chorava todos os dias, mas que, para ele, o jornalista pode, sim, se emocionar, só não pode deixar que a emoção o paralise, impeça que ele passe a informação, a notícia. A imprensa acabou assumindo em grande medida um papel que deveria ser do poder público, que era de dar informações confiáveis, ensinar as pessoas a se protegerem. Considero que estivemos do lado certo da história: ao lado dos cientistas, dos médicos, dos professores”, pontua.

Passado todo esse tempo, para Freitas, a imprensa profissional sai fortalecida como instituição que deve servir à democracia. E a expectativa é que esse fortalecimento implique em ainda mais responsabilidade e engajamento.

“A nossa ferramenta é o espírito crítico sobre a informação e o conhecimento sobre o nosso público. As coberturas foram distintas e eficientes porque os veículos entenderam que o assunto era a pandemia, mas que ela tinha diferentes aspectos e que os seus leitores seriam tocados também de formas distintas pela tragédia. No caso do DIÁRIO DO COMÉRCIO, por exemplo – que está no livro -, tratou de como a pandemia estava atingindo os negócios e a economia. Essa é a sua expertise. A tragédia humana e o desastre econômico são duas faces da pandemia indissociáveis. Falar de uma era falar da outra e buscar soluções para o todo. Então, considero que os jornalistas profissionais saem fortalecidos como classe e a imprensa como instrumento da democracia”, completa o autor.

O livro será lançado no próximo dia 17, quarta-feira, a partir de 19h, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG).

SERVIÇO

Lançamento do livro “Nós também estivemos na linha de frente”
Páginas
: 216
Preço: R$ 55
Data: 17 de agosto, quarta-feira
Local: Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) – avenida Álvares Cabral, 400
Horário: de 19h às 21h30

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