Livrarias em BH se reinventam para se destacar no mercado

O acesso aos livros nunca foi tão fácil como é hoje em dia, graças às lojas on-line ou megastores que entregam em até um dia. Entretanto, o que é uma salvação para uns, para outros, como as livrarias de shoppings e de rua, pode significar a necessidade de se reinventar para manter a clientela.
Livrarias como Saraiva e Cultura, que faliram ou reduziram seu funcionamento, optaram por concorrer com lojas on-line. Apesar da facilidade que a internet dispõe, ela não oferece o diferencial que as livrarias físicas oferecem, que é a experiência do cliente. Mas isso não basta para manter os negócios, o que acaba acarretando necessidade de fechar – ou de se reinventar.
Em contrapartida, livrarias em Belo Horizonte, como Leitura, Quixote e Jenipapo, vêm conquistando o mercado com propostas diversificadas, como a personalização das lojas, inclusão de cafés, organização de eventos e clubes de leitura.
O DIÁRIO DO COMÉRCIO conversou com os representantes das três empresas mencionadas para entender melhor sobre o mercado de livrarias em Belo Horizonte e as ações de cada negócio para se destacarem em seu segmento. Confira!
Leitura

“As nossas lojas são muito diferentes uma da outra. São bem mais adaptadas ao seu público. Isso gera maior proximidade com o cliente”
Marcus Teles, Presidente da Leitura
A livraria Leitura, empresa familiar de Minas Gerais, que opera desde o final da década de 60, é atualmente a maior do Brasil no seu segmento. Ela vem se destacando da concorrência, nos últimos anos, e já está presente em todas as regiões do País.
O negócio iniciou suas operações com a venda de livros novos e usados na Galeria Ouvidor, importante centro comercial em Belo Horizonte. Hoje, a Leitura conta com mais de 100 lojas, com perspectiva de expansão para 2024 com a abertura de, pelo menos, 11 unidades, incluindo um segundo ponto de venda no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte.
O segredo do sucesso, segundo o presidente da Leitura, Marcus Teles, está aliado à gestão, que segue estratégias distintas, se comparadas às livrarias Saraiva e Cultura, que nos últimos meses passaram por processo de falência e redução nas atividades, respectivamente. “A Leitura seguiu um caminho diferente, evitou entrar nessa concorrência – com multinacionais -, manteve as lojas lucrativas e sempre fecha lojas deficitárias. Somos uma empresa que dá lucro, não temos dívidas e buscamos adaptar cada unidade ao seu público local”, argumenta.
De acordo com Teles, a marca vem apostando na diversificação de produtos e serviços para atender a diferentes necessidades. Os livros, segundo ele, correspondem atualmente a 60% do faturamento total da empresa, com destaque para o segmento de quadrinhos e infanto-juvenis, que representam quase 30% das vendas.
Além das opções de leitura, outro setor que se destaca é o de papelaria e material escolar, com sua ampla variedade de opções, representando cerca de 30% do faturamento total. A empresa também conta com produtos de informática e jogos em seu portfólio, além de eventos com lançamentos de livros, mesas de discussão e cafés filosóficos. “Cada loja tem sua própria agenda. Por ano, as principais lojas têm cerca de 200 eventos”, destaca.
Quixote

“Eu acho que o modelo agora são livrarias que têm esse tipo de atendimento, de acolhimento de pessoas, de conversa, cada uma com seu nicho”
Alencar Fráguas Perdigão, sócio-proprietário da Quixote
A vontade de ter a própria livraria surgiu enquanto o sócio-proprietário da Quixote, Alencar Fráguas Perdigão, cursava letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele trabalhou em uma livraria durante o curso e, após também estudar publicidade e propaganda, o empresário resolveu alugar a loja da rua Fernandes Tourinho, número 274, na região da Savassi.
Com cerca de 16 mil exemplares dispostos na livraria, a Quixote comemorou 20 anos em setembro deste ano, com uma grande festa na rua, que contou até com música ao vivo do grupo Belina Orkestar. Mas estar firme e forte no mesmo endereço há duas décadas não significa que a livraria não passou por desafios.
Um dos eventos marcantes, para o proprietário, foi a Covid-19. Durante a pandemia, Alencar acreditou diversas vezes que a livraria iria fechar. Para evitar isso, criaram o projeto “Abrace a Quixote”, por meio do qual os clientes podiam fazer a compra antecipada de livros – entre R$ 80 a R$ 1.000 – e retirar depois.
“Esse movimento rodou o mundo inteiro, as pessoas ligavam para cá querendo fazer a compra antecipada. Teve gente que fez compra de R$ 5 mil, para a livraria não fechar… Eu achava que ninguém ia procurar. Estava morrendo de vergonha. Mas com esse carinho todo, a gente percebeu o quanto a livraria é importante para a cidade e para as pessoas que não querem que a livraria feche”, revela o proprietário.
Com isso, foram arrecadados mais de R$ 100 mil, que ajudaram bastante durante a pandemia e salvou a Quixote do fechamento. Hoje, mais aliviados, Alencar e sua esposa e sócia, Cláudia Masini Tonioni, seguem com a livraria, felizes com o carinho dos clientes. Mas, apesar do alívio, os desafios ainda existem.
“É um negócio muito difícil, livros. É um leão por dia, porque tem muita concorrência desleal. A gente nem concorre mais, eu ignoro isso”, diz o sócio-proprietário da Quixote.
Segundo o empreendedor, as livrarias pequenas estão crescendo apenas porque os clientes preferem um atendimento com acolhimento e livrarias focadas em nichos específicos, o que as difere de empresas como Amazon, Magazine Luiza e Estante Virtual.
Além disso, Alencar também concorda que o isolamento ajudou a criar novos leitores, o que ajuda no faturamento pós-pandemia. Atualmente, a livraria trabalha com livros consignados e adquiridos, sendo o setor de literatura brasileira e internacional o mais procurado pelos leitores, seguido pelo infantil.
A Quixote também promove eventos de lançamentos de livros, de 3 a 4 por semana, e o sócio-proprietário afirmou que esses encontros ajudam a criar um laço mais forte entre a loja e os clientes, o que torna a clientela fiel à livraria. O espaço também conta com uma pequena área para uma cafeteria, mas Alencar prefere manter o foco na livraria, já que o faturamento dessa parte é apenas 10% do total da loja.
Livraria Jenipapo

“Aqui se discute literatura, se sugere livros, tem troca de ideias… é um pouco do nosso perfil que talvez nos difere da Saraiva e das grandes livrarias.”
Frederico Pinho, sócio-proprietário da Jenipapo
O que começou sendo uma livraria com apenas 2 mil exemplares, agora é um estabelecimento com clientes fiéis e 14 mil livros em suas estantes.
A Jenipapo surgiu quando Frederico Pinho e Taciana Fontes decidiram não deixar a livraria Ouvidor, que eles costumavam frequentar, fechar. Os sócio-proprietários já eram leitores assíduos quando, após 48 anos, a Ouvidor precisou fechar as portas em 2022.
Dessa forma, os dois se juntaram para continuar com a tradição de uma livraria de rua naquele mesmo endereço. A Jenipapo nasceu para “ser não apenas uma loja de livros, mas um espaço de cultura, de conversa”, que é a marca das livrarias de rua para Frederico Pinho.
Para os sócio-proprietários, é importante ter um cuidado diferente na construção do acervo, e o deles tem foco em literatura e humanidades, história, filosofia, ciências sociais – é esse o nicho do negócio.
Com uma abordagem intimista, a loja é um lugar de experiência com os livros, com clubes de leitura, projetos de bate-papo com autores – que recentemente trouxe a Zélia Duncan – todo mês, com divulgações pelo Instagram da livraria.
Mesmo com apenas um ano de funcionamento, a Jenipapo já tem clientes frequentes, alguns antigos que continuam vindo desde a Ouvidor, e alguns novos que se encantam com o charme da livraria de rua.
Apesar de utilizar o mesmo espaço da Ouvidor, os sócios fizeram um investimento de cerca de R$ 150 mil para transformar o espaço no que é hoje. E, para o empreendedor Frederico Pinho, o retorno nesse um ano de funcionamento é bem positivo: o que começou com 2 mil livros agora são 14 mil.
Além disso, editores e grandes pessoas do mercado editorial já conhecem a livraria, o que a faz ser uma livraria de referência, segundo proprietário.
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