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Livrarias em BH se reinventam para se destacar no mercado

Empresas buscam conquistar o público investindo na experiência do cliente, como inclusão de cafeterias, produção de eventos e clubes de leitura
Livrarias em BH se reinventam para se destacar no mercado
Livraria Leitura prevê conta com ampla variedade de exemplares e prevê crescimento entre 10% e 20% nas lojas físicas para 2023. | Crédito: Leonardo Morais

O acesso aos livros nunca foi tão fácil como é hoje em dia, graças às lojas on-line ou megastores que entregam em até um dia. Entretanto, o que é uma salvação para uns, para outros, como as livrarias de shoppings e de rua, pode significar a necessidade de se reinventar para manter a clientela. 

Livrarias como Saraiva e Cultura, que faliram ou reduziram seu funcionamento, optaram por concorrer com lojas on-line. Apesar da facilidade que a internet dispõe, ela não oferece o diferencial que as livrarias físicas oferecem, que é a experiência do cliente. Mas isso não basta para manter os negócios, o que acaba acarretando necessidade de fechar – ou de se reinventar.

Em contrapartida, livrarias em Belo Horizonte, como Leitura, Quixote e Jenipapo, vêm conquistando o mercado com propostas diversificadas, como a personalização das lojas, inclusão de cafés, organização de eventos e clubes de leitura.

O DIÁRIO DO COMÉRCIO conversou com os representantes das três empresas mencionadas para entender melhor sobre o mercado de livrarias em Belo Horizonte e as ações de cada negócio para se destacarem em seu segmento. Confira!

Leitura

livraria leitura em bh
Crédito: Divulgação/Leitura

“As nossas lojas são muito diferentes uma da outra. São bem mais adaptadas ao seu público. Isso gera maior proximidade com o cliente”

Marcus Teles, Presidente da Leitura

A livraria Leitura, empresa familiar de Minas Gerais, que opera desde o final da década de 60, é atualmente a maior do Brasil no seu segmento. Ela vem se destacando da concorrência, nos últimos anos, e já está presente em todas as regiões do País. 

O negócio iniciou suas operações com a venda de livros novos e usados na Galeria Ouvidor, importante centro comercial em Belo Horizonte. Hoje, a Leitura conta com mais de 100 lojas, com perspectiva de expansão para 2024 com a abertura de, pelo menos, 11 unidades, incluindo um segundo ponto de venda no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte.

O segredo do sucesso, segundo o presidente da Leitura, Marcus Teles, está aliado à gestão, que segue estratégias distintas, se comparadas às livrarias Saraiva e Cultura, que nos últimos meses passaram por processo de falência e redução nas atividades, respectivamente. “A Leitura seguiu um caminho diferente, evitou entrar nessa concorrência – com multinacionais -, manteve as lojas lucrativas e sempre fecha lojas deficitárias. Somos uma empresa que dá lucro, não temos dívidas e buscamos adaptar cada unidade ao seu público local”, argumenta.

De acordo com Teles, a marca vem apostando na diversificação de produtos e serviços para atender a diferentes necessidades. Os livros, segundo ele, correspondem atualmente a 60% do faturamento total da empresa, com destaque para o segmento de quadrinhos e infanto-juvenis, que representam quase 30% das vendas.

Além das opções de leitura, outro setor que se destaca é o de papelaria e material escolar, com sua ampla variedade de opções, representando cerca de 30% do faturamento total. A empresa também conta com produtos de informática e jogos em seu portfólio, além de eventos com lançamentos de livros, mesas de discussão e cafés filosóficos. “Cada loja tem sua própria agenda. Por ano, as principais lojas têm cerca de 200 eventos”, destaca. 

Quixote

Crédito: Leonardo Morais

“Eu acho que o modelo agora são livrarias que têm esse tipo de atendimento, de acolhimento de pessoas, de conversa, cada uma com seu nicho”

Alencar Fráguas Perdigão, sócio-proprietário da Quixote

A vontade de ter a própria livraria surgiu enquanto o sócio-proprietário da Quixote, Alencar Fráguas Perdigão, cursava letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele trabalhou em uma livraria durante o curso e, após também estudar publicidade e propaganda, o empresário resolveu alugar a loja da rua Fernandes Tourinho, número 274, na região da Savassi.

Com cerca de 16 mil exemplares dispostos na livraria, a Quixote comemorou 20 anos em setembro deste ano, com uma grande festa na rua, que contou até com música ao vivo do grupo Belina Orkestar. Mas estar firme e forte no mesmo endereço há duas décadas não significa que a livraria não passou por desafios.

Um dos eventos marcantes, para o proprietário, foi a Covid-19. Durante a pandemia, Alencar acreditou diversas vezes que a livraria iria fechar. Para evitar isso, criaram o projeto “Abrace a Quixote”, por meio do qual os clientes podiam fazer a compra antecipada de livros – entre R$ 80 a R$ 1.000 – e retirar depois. 

“Esse movimento rodou o mundo inteiro, as pessoas ligavam para cá querendo fazer a compra antecipada. Teve gente que fez compra de R$ 5 mil, para a livraria não fechar… Eu achava que ninguém ia procurar. Estava morrendo de vergonha. Mas com esse carinho todo, a gente percebeu o quanto a livraria é importante para a cidade e para as pessoas que não querem que a livraria feche”, revela o proprietário.

Com isso, foram arrecadados mais de R$ 100 mil, que ajudaram bastante durante a pandemia e salvou a Quixote do fechamento. Hoje, mais aliviados, Alencar e sua esposa e sócia, Cláudia Masini Tonioni, seguem com a livraria, felizes com o carinho dos clientes. Mas, apesar do alívio, os desafios ainda existem.

“É um negócio muito difícil, livros. É um leão por dia, porque tem muita concorrência desleal. A gente nem concorre mais, eu ignoro isso”, diz o sócio-proprietário da Quixote. 

Segundo o empreendedor, as livrarias pequenas estão crescendo apenas porque os clientes preferem um atendimento com acolhimento e livrarias focadas em nichos específicos, o que as difere de empresas como Amazon, Magazine Luiza e Estante Virtual.

Além disso, Alencar também concorda que o isolamento ajudou a criar novos leitores, o que ajuda no faturamento pós-pandemia. Atualmente, a livraria trabalha com livros consignados e adquiridos, sendo o setor de literatura brasileira e internacional o mais procurado pelos leitores, seguido pelo infantil.

A Quixote também promove eventos de lançamentos de livros, de 3 a 4 por semana, e o sócio-proprietário afirmou que esses encontros ajudam a criar um laço mais forte entre a loja e os clientes, o que torna a clientela fiel à livraria. O espaço também conta com uma pequena área para uma cafeteria, mas Alencar prefere manter o foco na livraria, já que o faturamento dessa parte é apenas 10% do total da loja. 

Livraria Jenipapo 

Crédito: Leonardo Morais

“Aqui se discute literatura, se sugere livros, tem troca de ideias… é um pouco do nosso perfil que talvez nos difere da Saraiva e das grandes livrarias.”

Frederico Pinho, sócio-proprietário da Jenipapo

O que começou sendo uma livraria com apenas 2 mil exemplares, agora é um estabelecimento com clientes fiéis e 14 mil livros em suas estantes.

A Jenipapo surgiu quando Frederico Pinho e Taciana Fontes decidiram não deixar a livraria Ouvidor, que eles costumavam frequentar, fechar. Os sócio-proprietários já eram leitores assíduos quando, após 48 anos, a Ouvidor precisou fechar as portas em 2022.

Dessa forma, os dois se juntaram para continuar com a tradição de uma livraria de rua naquele mesmo endereço. A Jenipapo nasceu para “ser não apenas uma loja de livros, mas um espaço de cultura, de conversa”, que é a marca das livrarias de rua para Frederico Pinho.

Para os sócio-proprietários, é importante ter um cuidado diferente na construção do acervo, e o deles tem foco em literatura e humanidades, história, filosofia, ciências sociais – é esse o nicho do negócio.

Com uma abordagem intimista, a loja é um lugar de experiência com os livros, com clubes de leitura, projetos de bate-papo com autores – que recentemente trouxe a Zélia Duncan – todo mês, com divulgações pelo Instagram da livraria.

Mesmo com apenas um ano de funcionamento, a Jenipapo já tem clientes frequentes, alguns antigos que continuam vindo desde a Ouvidor, e alguns novos que se encantam com o charme da livraria de rua. 

Apesar de utilizar o mesmo espaço da Ouvidor, os sócios fizeram um investimento de cerca de R$ 150 mil para transformar o espaço no que é hoje. E, para o empreendedor Frederico Pinho, o retorno nesse um ano de funcionamento é bem positivo: o que começou com 2 mil livros agora são 14 mil. 

Além disso, editores e grandes pessoas do mercado editorial já conhecem a livraria, o que a faz ser uma livraria de referência, segundo proprietário. 

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