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Loteamentos seguem valorizados no pós-pandemia

Os terrenos nas capitais estão cada vez mais raros e caros. Mas o trabalho remoto impulsiona o sucesso de loteamentos em cidades secundárias
Loteamentos seguem valorizados no pós-pandemia
Em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), os loteamentos de um condomínio de luxo negociou mais de 10 lotes no primeiro semestre do ano passado, com preço médio de R$ 400 mil | Foto: Jomar Bragança

O mercado de loteamentos está aquecido em 2023, segundo revelou uma pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon/MG), Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo Minas Gerais) e Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG).

O Valor Geral de Vendas (VGV) somou R$ 725 milhões no segundo trimestre de 2023 – um aumento de 46,7% em relação ao primeiro trimestre, que registrou R$ 494 milhões. Os dados são da pesquisa trimestral do setor de loteamento e desenvolvimento urbano de Minas Gerais.

A pesquisa ainda aponta uma procura por lotes em condomínios fechados. O VGV de lotes vendidos nesse perfil superou o VGV de lotes vendidos em bairros (loteamentos), representando 52,2% dos negócios do setor no segundo trimestre.

O maior problema é que o número de lançamentos não vem acompanhando o ritmo das vendas. O lançamento de lotes em Minas Gerais apresentou queda de 30,1% no primeiro semestre deste ano frente ao mesmo intervalo de 2022, segundo pesquisa sobre o setor desenvolvida pela Brain Inteligência Estratégica para as mesmas entidades. Na comparação entre trimestres, o recuo foi ainda maior, 54,5% no segundo trimestre de 2023 em relação aos três primeiros meses do ano. Frente ao segundo trimestre de 2022, a queda foi mais intensa: 64%.

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Enquanto na Capital é praticamente impossível encontrar terrenos para novos empreendimentos ou mesmo um lote individual para construir, cidades do entorno com boa infraestrutura estão cada vez mais disputadas.

O aquecimento do mercado durante os anos de pandemia, quando muita gente quis trocar os apertados apartamentos em Belo Horizonte por casas fora da cidade, está desembocando em lançamentos de loteamentos e condomínios fechados agora em 2023.

De acordo com o especialista em Gestão de Negócios Imobiliários e presidente da Aelo-MG, Flávio Guerra, o desenvolvimento de um loteamento é um negócio de médio e longo prazo, levando, pelo menos, três anos.

“Estamos falando de grandes intervenções urbanas. O loteamento é o embrião da cidade. São regras que têm que ser cumpridas e isso é bom para o município pelo volume de obras que são feitas pelas loteadoras, como redes de luz, água, asfalto, entre outros. Com a pandemia, as pessoas quiseram sair das grandes cidades para ter mais qualidade de vida. O sonho do brasileiro é ter uma casa, não um apartamento”, explica Guerra.

O sonho do brasileiro é ter uma casa, não um apartamento, defende Guerra | Crédito: Divulgação/Aelo-MG

O especialista também é CEO da Construir Loteamentos e vice-presidente do Sinduscon-MG. Trabalhando há mais de 15 anos na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Triângulo Mineiro, Sul de Minas e Zona da Mata, a Construir, recentemente, também começou a operar no Sul da Bahia e no interior de São Paulo.

Ao longo desse tempo, a empresa já desenvolveu cerca de 5 mil lotes em 7 milhões de metros quadrados com mais de um milhão de metros quadrados de áreas verdes preservadas. Em 2023, a empresa tem expectativa de lançar mais de R$ 100 milhões em VGV no Estado, número que supera em 50% o VGV lançado em 2022.

O próximo lançamento, em outubro, será o Serras Altas Pouso Alegre, no Sul de Minas, com VGV de R$ 60 milhões.

“Fazemos muita pesquisa de mercado para entender cada regionalidade. Um dos nossos pilares é o respeito à cultura local. Precisamos estudar os vetores de desenvolvimento da cidade e o plano diretor. Esse é um mercado competitivo e não é para amadores. Nos últimos dois anos, os custos subiram 50%, pressionados pela alta taxa de juros, a falta de mão de obra e a demanda crescente. O valor agregado está crescendo. Um empreendimento horizontal tem obrigação de valorizar também a vizinhança”, pontua. 

Luxo na região metropolitana

Em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), sobre o Vale da Moeda, o condomínio de luxo BoaVista segue com as vendas abertas. No primeiro semestre de 2023, foram vendidos mais de 10 lotes com preço médio de R$ 400 mil. A meta para o segundo semestre é fechar a venda de, pelo menos, dois lotes por mês. 

Segundo o idealizador do loteamento Boavista, Julio Souki, assentado sobre uma área de grande beleza natural e responsável por parte do abastecimento de água da RMBH, o empreendimento se ergue sobre um antigo pasto, ou seja, uma área já degradada. 

“A gente já tinha o levantamento da fazenda que existia aqui e que eu conhecia há mais de 40 anos. Os lotes estão no espaço que era de pastos. Não era uma área nativa. Buscamos sempre uma forma de minimizar o impacto no meio ambiente e também da ocupação do território com políticas de integração local. Todos os funcionários são da região. Nos envolvemos com projetos da comunidade. Isso é importante para a sustentabilidade. Uma infraestrutura urbana de qualidade é um critério de sustentabilidade porque evita o retrabalho”, destaca Souki.

Uma boa infraestrutura implica em uma baixa manutenção, diz Julio Souki | Crédito: divulgação / Boavista Residencial

Para que um loteamento seja atrativo para os compradores, é importante que o empreendimento tenha a capacidade de se valorizar ao longo do tempo. A localização, que é um critério historicamente importante, está se transformando em mobilidade. Muito mais do que a distância percorrida, as pessoas querem saber quanto tempo vão demorar para chegar a outras áreas importantes da cidade.

“Uma boa infraestrutura implica em uma baixa manutenção e isso gera nos condomínios fechados uma contribuição condominial baixa. Isso aumenta a rentabilidade para o condômino. O lote não pode desvalorizar. Outro critério que levamos em consideração, especialmente para os públicos C e D, é que aquele é o único imóvel da família. Ele tem que ter uma valorização real. Não tem sentido morar em um lugar que não tenha infraestrutura”, completa o empresário.

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