Lupin MedQuímica investe em produtos de saúde dos olhos

Pronta para retomar os investimentos no Brasil após cinco anos, a Lupin – indústria farmacêutica indiana que adquiriu a MedQuímica em 2015 – anuncia um acordo com a BL Indústria Ótica Ltda., uma subsidiária da Bausch Health Companies Inc., para adquirir todos os direitos no Brasil de nove medicamentos estabelecidos de um dos maiores fornecedores mundiais de produtos para a saúde dos olhos.
Isso significa, de acordo com o CEO da filial do Brasil, Alexandre França, de imediato, um incremento de 10% na receita da Lupin/MedQuímica. “Esses são medicamentos plenamente reconhecidos e de venda constante no Brasil. Eles estão sendo incorporados ao nosso portfólio, gerando faturamento imediato. Eles são, atualmente, fabricados em São Paulo e a nossa expectativa é a de que, passado o prazo legal, possamos transferir a fabricação para a nossa fábrica em Juiz de Fora, gerando novos investimentos e empregos na região da Zona da Mata”, explica França. Além disso, como meta a companhia pretende atingir R$ 600 milhões em vendas com 20% de lucro em até quatro anos.
A transação inclui medicamentos de marca para o Sistema Nervoso Central (Limbitrol™, Melleril™, Dalmadorm™), tratamentos oncológicos tópicos essenciais (Bacrocin™, Glyquin™, Solaquin™, Oxipelle™ e Efurix™) e medicamentos para o tratamento da doença de Wilson (Cuprimine™).
O investimento é ancorado no desempenho do setor no País. O segmento farmacêutico varejista prevê para 2022 um crescimento de 12,8% sobre 2021. Já para o ano que vem, a expectativa é de 12,41% de expansão sobre 2021, de acordo com o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). Mas não somente por isso. Vem também da remodelagem dos negócios da MedQuímica e um novo posicionamento de marca.
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A iniciativa da compra foi motivada pela sede brasileira e apoiada pela matriz da Lupin, que fez a injeção do capital. A previsão é de que a venda se concretize a partir de janeiro, e a única mudança nos medicamentos será a embalagem, a médio prazo.
“A relação da matriz com as suas afiliadas, em algumas situações, se assemelha a uma relação pai e filho no sentido ‘bom e duro’ da palavra. A Lupin adquiriu a MedQuimica e investiu bastante na ampliação da fábrica e desenvolvimento de portfólio, porém, o retorno nunca veio. Então, há cerca de 2,5 anos, a matriz falou que era preciso gerar retorno e que não colocaria mais dinheiro aqui se isso não acontecesse. Quando cheguei, em abril de 2021, me dediquei a reconstruir a confiança. Uma relação transparente com a matriz, dizendo que a situação não era boa, mas que era possível reverter. Íamos fazer bem o nosso arroz com feijão mineiro. E depois começar a evoluir. Tornamos a empresa mais ágil, verde e reformamos a relação com os clientes. O Brasil é um grande mercado que não anda pra trás. Temos uma população que envelhece, que tem mais acesso a medicamentos, o SUS que funciona. Em dezembro do ano passado os resultados começaram a aparecer e a empresa parou de perder dinheiro. Agora veio a oportunidade de aquisição desses medicamentos. Esse dinheiro está saindo da matriz, o que significa que eles estão renovando a confiança. Seremos um player de relevância no mercado nacional”, analisa.
Ao todo, a Lupin MedQuimica possui um portfólio diversificado e quantitativo com cerca de 42 produtos e 77 SKUs, marcando presença em todo o território nacional. Alguns deles são destaque em seus mercados de atuação, ocupando as primeiras colocações de medicamentos mais vendidos, demonstrando a preferência pelo consumidor, como Dipimed, Nifedipress, Gripinew e Gastrogel.
Até setembro deste ano, a farmacêutica alcançou 80% das metas corporativas, com as vendas líquidas atingindo crescimento de 17,2% comparado ao ano passado. O custo do produto sobre as vendas foi de 66,4%.

ESG
Ao mesmo tempo, a empresa se dedica a reforçar a cultura interna tendo como base o conceito ESG.
“Tenho um certo conservadorismo com tendências ‘da moda’. Mas o ESG é um movimento muito sério e muito novo no Brasil. Todos e, inclusive, a Lupin no mundo, estão aprendendo como ser ESG por muitos motivos e o principal motivador é o dinheiro. Ao aplicar o ESG, as empresas têm ganhos financeiros. Na internet você é deletado ou ‘endeusado’ em segundos. Ser uma empresa que não se preocupa com o meio ambiente, a geração de energia, as minorias, com a ética e governança é não ter futuro. Queremos ter sucesso, mas não a qualquer preço. Se for pra ser fora das regras de compliance, não vou para o jogo. Dá pra ter sucesso fazendo a coisa certa. Estamos, por exemplo, começando com projeto de inclusão das minorias. Cada empresa vai entender como melhor pode aplicar as práticas ESG”, defende o executivo.
Para dar suporte ao crescimento e novidades, dois pilares são fundamentais: mão de obra qualificada e investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Para ambos, valorização interna dos profissionais e conhecimento do mercado brasileiro estão na base.
“A carência de mão de obra é um problema generalizado. Trazer um novo portfólio, não necessariamente precisa aumentar o número de funcionários em todas as áreas, devido à automação dos processos. Vamos aumentar a força de vendas – e o Brasil tem esses profissionais. No futuro, quando trouxermos a produção dos novos medicamentos para fábrica, vamos precisar de gente. Mas temos dois anos para nos organizarmos. Esse é um processo complexo, que passa pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para tudo isso, treinamento é algo fundamental. Investimos muito para desenvolver pessoas aqui. É mais produtivo e barato. Isso serve também para poder trazer de fora e aproveitar da melhor forma esses talentos. O P&D é uma das áreas que mais recebe dinheiro do setor. A Lupin tem uma característica das empresas indianas, não é uma empresa de inovação. Somos os primeiros a lançar em baixo custo. São cópias de alta segurança. Temos polos de desenvolvimento nos EUA e Índia. Aqui também temos uma área de desenvolvimento que olha muito para as necessidades locais. No Brasil desenvolvemos, por exemplo, um medicamento para tratar piolhos, o Deltametril D. Normalmente os produtos para esse fim têm pesticidas em doses muito baixas mas que, ainda assim, podem causar reações. O nosso é feito com dimeticona. Ele mata o piolho por asfixia, e não envenenado. Isso reduz muito o risco de alergia. E é com esses princípios que queremos fazer a unidade mineira da Lupin/MedQuímica”, completa o CEO da filial brasileira.
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