Como Machado criou uma psicologia conceitual antes de Freud

Com um jeito divertido, irônico e incisivo de escrever, Machado de Assis analisou a sociedade, as emoções humanas e a complexidade da mente de uma forma tão profunda que ele nem sequer poderia imaginar quantos conceitos citados por ele seriam descobertos anos depois por Sigmund Freud. Autodidata, o autor carioca teve um acesso limitado à educação formal.
Entretanto, isso não o impediu de se tornar um dos maiores nomes da literatura brasileira e – agora – também um precursor da psicanálise antes mesmo de Sigmund Freud iniciar os estudos sobre a psique. Esta é a descoberta inédita que o pesquisador sobre narcisismo, mestre em Filosofia e psicólogo, Adelmo Marcos Rossi, apresenta no livro “O Imortal Machado de Assis – Autor de Si Mesmo”, após “A Cruel Filosofia do Narcisismo” (2021). Ao se debruçar sobre a extensa obra machadiana, composta por romances, crônicas, poemas, peças teatrais e contos, ele mostra, em mais de 450 páginas, os conceitos sobre os quais o Bruxo do Cosme Velho se apoiou.
Em “O Imortal Machado de Assis – Autor de Si Mesmo”, os leitores compreenderão como o escritor de “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) fundou uma espécie de psicologia sob a forma de literatura.
Enquanto Sigmund Freud foi fundamental para a área da ciência e conceituou termos importantes para a compreensão da psique humana, a obra machadiana pode não ter criado esse instrumental, mas apresentou a psicologia e as tramas da mente por meio da ficção. (O Imortal Machado de Assis – Autor de Si Mesmo, Adelmo Marcos Rossi, Editora Adelmo Marcos Rossi, 456 páginas, R$ 120)
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Veja, a seguir, outro destaque dos Livros:
A história não contada de Ana Preta
Assim como tantas mulheres na história do Brasil, Ana Preta poderia ter sua trajetória invisibilizada se não fosse o trabalho do escritor e jornalista J. Londe. No livro homônimo, ele revive a atuação da mulher pobre e negra de Minas Gerais, que lutou corajosamente durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), conflito responsável por ceifar a vida de aproximadamente 130 mil brasileiros.

O romance histórico “Ana Preta – Histórias de Minas” retrata a determinação, coragem e ousadia da protagonista em acompanhar o marido Zé Mulato junto com o Exército de Caxias, numa época em que crianças e mulheres não eram aceitas no contingente. Mas, para ela ficar em Uberaba, seria uma condenação à prostituição ou até mesmo à morte. Nestas condições, Ana partiu para um futuro incerto, sem dinheiro, roupas ou comida. Em campo, era conhecida pelo desprendimento, pois nunca abandonava os soldados feridos, nem mesmo quando as forças inimigas armaram uma emboscada contra o exército brasileiro. Ela enfrentou varíola, cólera, fome e sede, mas nada se comparou com a dor da morte do amado durante uma batalha.
Como forma de reivindicar a humanidade que lhes foi negada ao longo da vida, Ana caminhou a pé de volta para o Brasil, com o corpo do marido nos próprios braços, para enterrá-lo em terra natal. Ao abordar temas como racismo, pobreza, misoginia, analfabetismo, promessas do Estado não cumpridas e empobrecimento da população no pós-guerra, “Ana Preta” demonstra a importância de preservar a memória e compreender o passado como fator essencial para resgatar a identidade de uma comunidade brasileira marginalizada há séculos. (Ana Preta – Histórias de Minas, J. Londe, 160 páginas, R$ 57,14 – livro físico e R$ 34,92 – e-book)
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