Manual ensina mulheres a quebrarem “tetos de vidro”

Mentora especialista em ascensão feminina, Karinna Forlenza, acaba de lançar pela Editora Rocco o manual de carreira que as mulheres nunca tiveram acesso. O livro “Quebre o Teto de Vidro” é um passo a passo para as mulheres que são competentes, desejam subir na carreira corporativa e não entendem por que não são reconhecidas. A obra deriva dos 25 anos de experiência de Karinna Forlenza no ambiente corporativo e de entrevistas feitas pela autora com 253 mulheres de negócios de cinco países, as quais foram essenciais para a identificação dos obstáculos ocultos dentro das empresas que, historicamente, impedem o avanço dessas mulheres ao topo.
“Nós mulheres temos crenças arraigadas em relação aos elementos que nos fariam ser reconhecidas. Geralmente têm a ver, em nosso imaginário, com características como: qualidade na entrega, criar relevância, gerar resultados, ser sincera, diligente, dedicada. Se você pensa dessa forma, como eu também já pensei há mais de 10 anos atrás, é bom rever suas prioridades. Infelizmente um bom trabalho não fala por si”, comenta Karinna Forlenza.
De forma esclarecedora, objetiva e pedagógica, a autora comenta que é preciso romper com essa fantasia de que um dia vai chegar “o cara do cavalo branco” para reconhecer seu trabalho e te dar um aumento ou uma promoção. “Os líderes estão voltados para si e não estão preocupados com as pessoas de baixo. Se você ficar esperando esse cara, vai ficar estagnada, portanto, para realmente evoluir, você terá que investir em três grandes pilares que, na minha opinião, são os que realmente fazem a diferença: se autopromover, desenvolver sua postura executiva e aprender a dominar o jogo político corporativo”, explica.
Mas neste ponto, reside uma nova equação para resolver: quando as mulheres entendem que é preciso se autopromover, é muito comum que a estrutura patriarcal as coloque frente a frente com um novo desafio: os julgamentos contaminados pelo fenômeno de double standards, em tradução livre, padrões duplos.
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“Se eu sou assertiva, sou vista como agressiva. Se eu sou incisiva, sou taxada de histérica. Se eu sou muito boa no que eu faço e consigo a promoção, é porque utilizei de algum artifício que não o do meu trabalho para chegar lá, se eu sou discreta, eu sou fraca e muitas outras associações que são feitas nos corredores somente por conta do gênero”, complementa.
A autora explica no livro que é também este motivo que “trava” muitas mulheres a tomarem essa decisão de se autopromover. “A gente entra nessa dicotomia: se eu vender meu trabalho, eu vou ser vista dessa forma negativa? Então não vou fazê-lo. Eu não quero ‘pendurar uma melancia na cabeça’, ser a inadequada, ser a que incomoda porque chacoalha o barco, a arrogante, agressiva, então optamos por deixar de lado a progressão de carreira, pegamos mais responsabilidades e tarefas para dar conta, mas não conseguimos automaticamente cargo ou salário. O que eu quero com esse livro é traduzir para você, mulher, como fazer para ser vista e reconhecida, sem precisar deixar de ser quem você é e sem se masculinizar”, explica Karinna Forlenza, ressaltando que tudo isso acontece em um nível inconsciente, sem que a mulher perceba de fato do que está abrindo mão.
Método “Empodera”
Karinna Forlenza parte de sua própria trajetória, mais especificamente do maior desafio que enfrentou no trabalho, quando era executiva de uma grande empresa de telefonia e estava crescendo na carreira. As coisas iam bem, fora apontada como grande talento da companhia, pois havia conquistado espaço e responsabilidade em projetos gigantescos, com influência nacional. “Me recomendaram para participar dos melhores treinamentos. Cheguei ao ponto de ser indicada como substituta do meu chefe, que estava abaixo apenas do CEO. Foi então que, sem qualquer explicação plausível, em vez de ser promovida pelas minhas entregas, fui demitida”, relembra.
Foi quando decidiu que se qualificaria para ajudar um grande número de mulheres a nunca mais passar por isso. Fez diversos cursos, estudou por três anos com o professor Dr. Humberto Maturana, indicado ao prêmio Nobel e tornou-se a única sul-americana certificada em Gender Intelligence Coaching por Dr. John Gray, autor de “Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus”. Depois de finalizada a qualificação com Gray, foi convidada por ele a fazer uma palestra sobre empoderamento feminino no Kuwait. A partir daí, ao encontrar o tema da sua vida, desenvolveu um método proprietário que esquematiza todo o conhecimento que reuniu nas últimas décadas: o Empodera, acrônimo para oito frases que definem os conceitos essenciais para subir na carreira que são apresentados no livro.
Discurso versus realidade
Frente à infinidade de empresas que estão colocando a pauta da equidade de gênero no mercado de trabalho em seus discursos, algum desavisado poderia alegar que esse é um desafio que está sendo pouco a pouco solucionado. “Reconheço que é algo que está na moda, mas observando a realidade do dia a dia das empresas e as estatísticas que reuni no livro, podemos constatar que esse problema está longe de ser superado”, acredita.
A taxa de desemprego das mulheres é 20% superior à dos homens (IBGE, 2023). Já segundo o relatório da Grant Thornton, do mesmo ano, mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de liderança no Brasil. E a realidade dos outros países é ainda pior: 48% das empresas japonesas responderam não ter mulheres em nenhum cargo de liderança. Na Coreia do Sul, esse número é de 33%.
Voltando para a realidade brasileira, das 250 empresas pesquisadas, apenas 35% dos postos de CEO são ocupados por mulheres. Na indústria, as mulheres ocupam 29% dos cargos de liderança e somente 14% das indústrias possuem áreas específicas dedicadas à promoção de igualdade de gênero no local de trabalho. “Isso tudo em uma realidade na qual as mulheres são mais qualificadas: outra pesquisa da FGV demonstra que, mesmo sendo maioria na população brasileira (segundo o último Censo, são 104,5 milhões de mulheres e 98,5 milhões de homens) e tendo mais anos de estudo e qualificação, ainda ocupamos pouco mais de um terço dos cargos gerenciais”, finaliza Karinna Forlenza.
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