Marketplace reduz desperdício de alimentos

As primeiras pesquisas – mais robustas – começarão a sair este ano, mas não é difícil imaginar que, em virtude da pandemia, a fome tenha aumentado no mundo. Enquanto mais pessoas não têm o mínimo para sobreviver, o desperdício de alimento se torna um flagelo global. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou, em 2019, que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos no planeta a cada ano, cerca de 30% do total produzido.
No Brasil, os últimos dados, divulgados em 2013, revelam que em apenas um ano o País perdeu ou desperdiçou 26,3 milhões de toneladas de alimentos. Isso significa quase 10% dos alimentos disponíveis.
Ainda segundo a FAO, a perda de alimentos prevalece nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Já o desperdício ocorre no final da cadeia alimentar (varejo e consumo) e estaria mais associado às nações desenvolvidas.
Essa perda acontece e causa prejuízo ao longo de toda a cadeia produtiva, desembocando num produto mais caro para o consumidor. Inconformado com essa realidade, o empresário Luís Borba tinha certeza que a tecnologia podia ajudar a combater esse problema. A solução pensada como um trabalho acadêmico deu origem à plataforma SuperOpa, fundada em 2018, onde ele é cofundador e CEO. A ideia é ser um marketplace da indústria de alimentos, aproximando os consumidores finais das distribuidoras de alimentos.
Com operação em mais de 500 cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a startup permite a compra de produtos em perfeitas condições e de ótima qualidade, mas que não chegarão às prateleiras dos mercados, porque estão próximos do vencimento, com descontos atrativos.
“O projeto foi premiado pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Na época, as pessoas ainda não ligavam muito para essa questão do desperdício. Gostamos de falar que somos uma distribuidora que está na nuvem. Não temos estoque nem infraestrutura próprios. Somos a tecnologia que embarca as distribuidoras no mundo digital. Escolhemos o distribuidor porque os números de desperdício lá são muito maiores. Existe uma quantidade enorme de produtos que fica travada e não chega ao supermercado”, explica Borba.
Segundo o cofundador e CTO do SuperOpa, Leandro Zanardi, a plataforma permite que pessoas que não teriam condições financeiras possam comprar produtos de primeira linha em perfeito estado. “Sempre vai existir esse problema de desperdício, por conta das sazonalidades, produtos orgânicos que são mais frágeis, matérias-primas que ficam retidas no porto, por exemplo. A produção vai ser em excesso ou escassez alguma hora e esse é um problema que pode ser minimizado. Tivemos o caso de uma picanha importada da Argentina. O preço era de R$ 120 o quilo. Conseguimos negociar por R$ 16 no aplicativo. Quando os primeiros consumidores começaram a comprar, a notícia rodou muito rápido. Foram 200kg em um dia. Quando a gente salva um produto, temos muitas vantagens: uma população que não teria acesso consegue comprar, evitamos a logística reversa e o descarte, que são muito caros. Também ajudamos o meio ambiente e, principalmente, nessa fase da pandemia, é inadmissível qualquer alimento ser jogado no lixo com tanta gente passando fome. Também tivemos o caso de um hambúrguer vegetariano. Não conseguimos dar vazão a 100% da carga, mas conseguimos encadear uma doação para uma ONG em Campinas, alimentando mais de 200 famílias. Esse é o nosso propósito: ter um negócio que se sustente e que tenha também uma causa nobre”, afirma Zanardi.
A plataforma já conta com mais de 1.200 produtos. A entrega é feita pelos próprios distribuidores ou por operadores logísticos no prazo de um dia útil. Para monetizar, a empresa fica com 30% de margem sobre as compras de mercadorias com prazo de validade menor e 15% sobre os produtos convencionais.
“Começamos com alimentos, mas já incluímos novas categorias como saúde e bem-estar e produtos para pets. Para garantir a sustentabilidade do negócio aproveitamos as rotas dos foodservices que já entregavam em pequenos restaurantes. Não temos frota própria e nos plugamos em redes de entrega. Otimizamos com as roteirizações onde a distribuidora já ia e a gente se encaixa ali de forma que ele não tenha que fazer outro percurso. Assim o custo da logística fica barato. Para entregar nas pequenas cidades, como no Sul de Minas, aproveitamos as rotas regulares”, pontua o CEO da SuperOpa.
Belo Horizonte – A perspectiva é que ainda no fim do próximo semestre o aplicativo comece a atender Belo Horizonte e região metropolitana. Uma parceria com a distribuidora de alimentos e bebidas nacional, sediada em Belo Horizonte, Globalbev, terá o piloto realizado em São Paulo. Os territórios de Minas Gerais e Rio de Janeiro são os pontos focais da expansão este ano.
Outra meta importante para 2021 é facilitar a entrada de dois novos públicos na plataforma: os novatos na vida digital e os desbancarizados. Para isso, funcionalidades, design e novos meios de pagamento foram implantados.
“Nos preparamos para o chamado ‘novo bilhão de usuários’ previsto pelo Google. Eles iriam entrar com aparelhos e internet mais precária. Quando foi março, por causa do isolamento social, esse público chegou todo de uma vez. Temos estudado muito para que esse pessoal tenha facilidade para entrar na tecnologia. Estamos construindo junto com o público, principalmente o mais velho. Aumentamos o tamanho das fontes e dos botões, não usamos preços com risco em cima. Além disso, criamos a carteira digital para quem não trabalha com bancos e admitimos o PIX. Existe um trabalho pedagógico nisso que é mostrar para as pessoas que a tecnologia é também para elas. O smartphone ajudou a democratizar quando possibilitou um acesso à internet mais barato do que por desktops. Agora é hora de mostrar que a tecnologia é um direito das pessoas. Elas podem usar ferramentas tecnológicas para resolver seus problemas”, pontua o CTO da SuperOpa.
Atualmente, a empresa está na plataforma de Crowdfunding de Investimentos SMU. O objetivo é alcançar o valor de R$ 2,6 milhões até o dia 11 de janeiro. O valor mínimo para investir é de R$ 5 mil. Outras informações no link: https://www.startmeup.com.br/oferta/superopa
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