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Mercado de cafeterias cresce no pós-pandemia em Minas Gerais

Dentre os fatores que contribuirão para esse cenário está a mudança comportamental do consumidor
Mercado de cafeterias cresce no pós-pandemia em Minas Gerais
O número de unidades desse tipo tem aumentando após a pandemia | Crédito: Cheirin Bão / Divulgação

O mercado de cafeterias tem apresentado forte crescimento nos últimos anos, principalmente após o período de pandemia, tanto em Minas Gerais quanto no Brasil. A mudança no comportamento do consumidor de café está entre os fatores apontados por especialistas que impulsionaram esse desempenho.

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) em parceria com o Instituto Axxus aponta para um aumento na frequência em cafeterias, passando de 48%, em 2019, para 51% dos entrevistados, no ano passado. O estudo ainda revela que a possibilidade de integração com outras pessoas e a qualidade do café e do ambiente estão entre as principais motivações para ir a este tipo de estabelecimento.

De acordo com o levantamento, o grupo das cafeterias, bares e restaurantes ocupa a terceira posição entre os locais de consumo de café, ficando atrás apenas da própria casa, que lidera a lista, e da casa de parentes e amigos. As cafeterias ainda aparecem na quarta posição entre os locais de compra, com 3% dos consumidores – os supermercados lideram o ranking com 62,6% dos entrevistados.

O diretor regional da Associação Brasileira de Franchising (ABF) em Minas Gerais, Antônio Bortoletto, relata que esse crescimento do mercado de cafeterias tem acompanhado o avanço da alimentação fora do lar. Ele lembra que esse movimento já estava ocorrendo antes da pandemia, chegou a dar uma retraída durante a quarentena e voltou com mais força após esse período, com a abertura de inúmeras unidades.

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Já o cofundador e CEO da rede Cheirin Bão, Wilton Mattos, relata que o crescimento no mercado de cafeterias começou em 2016, mas foi em 2019 que esse avanço se tornou ainda mais notável. “Em 2019, nós começamos a perceber que os clientes passaram a se interessar mais pelo segmento de cafés especiais e por tomar café em cafeterias”, relembra.

Segundo ele, o público passa a demandar locais dedicados quase exclusivamente ao consumo de café, diferente do que ocorre em padarias e lanchonetes convencionais. Essa demanda acabou incentivando o aumento no número de cafeterias de diferentes modelos e propostas.

“As pessoas estão procurando muito mais experiência do que necessariamente só um produto qualquer. E as cafeterias que têm essa proposta de cafés especiais, elas trazem justamente essa experiência”, destaca.

Crédito: Cheirin Bão / Divulgação

A sócia-proprietária da OOP Café, Adriene Cobra, também destaca o período pós-pandemia como o grande momento do mercado de cafeterias e a mudança do perfil de consumo como um grande incentivador dessa mudança. Na visão da empresária, as pessoas se tornaram mais interessadas em saber o que está sendo produzido.

“Eu acho que é uma questão de informação, as pessoas querem saber o que elas estão consumindo. Isso veio com o movimento do café especial, que começou a ganhar força”, avalia.

Cafeterias mineiras

Quanto ao mercado mineiro de cafeterias, o CEO da Cheirin Bão pontua que Minas Gerais está entre os estados brasileiros com maior consumo de cafés especiais neste tipo de estabelecimento. Para ele, a tendência é de aumento no Estado nos próximos anos.

Adriene Cobra ressalta que o mercado mineiro não é necessariamente o maior do País, mas vem apresentando desenvolvimento. Ela pontua que o segmento está crescendo em Belo Horizonte e se expandindo para o interior. Além disso, a empresária observa que muitas cafeterias no Brasil estão trabalhando com cafés produzidos em Minas.

O diretor regional da ABF no Estado destaca que não há grandes diferenças entre o consumo no mercado de cafeterias em Minas Gerais se comparado a outros estados brasileiros. Para ele, o grande destaque fica para a produção local de café.

Tendência para os próximos anos

Bortoletto avalia que estamos próximos do ponto de equilíbrio desse mercado, com uma possibilidade de diminuição no ritmo de crescimento. Porém, ele aponta que esse momento também é importante para que as empresas que atuam nesse segmento possam se reinventar e aproveitar as grandes oportunidades, principalmente, em cidades menores, abaixo de 30 mil habitantes.

“É o momento dessas grandes empresas, já consolidadas no mercado nacional, se adequarem aos mercados pequenos”, pontua.

Já Adriene Cobra acredita que o mercado ainda deverá manter esse crescimento por mais tempo, principalmente, no segmento de cafés especiais, que, para ela, ainda é muito recente, representando apenas cerca de 10% do consumo no País. “Eu acredito que esse crescimento ainda vai perdurar porque nós ainda temos pouco conhecimento sobre esse novo perfil de mercado”, completa.

Assim como ela, Mattos também entende que ainda há muito espaço para que esse mercado possa crescer. O CEO da Cheirin Bão ressalta que, apesar desse crescimento, o segmento voltado para cafés especiais ainda é pequeno se comparado com o consumo geral de café. “As pessoas procuram cada vez mais por lugares especializados para consumir um bom café e esse é um mercado novo”, afirma.

O executivo avalia que o mercado de cafeterias ainda poderá manter esse ritmo de crescimento pelos próximos oito anos. “Eu acredito que a gente ainda siga crescendo em ritmo bem acelerado no Brasil inteiro”, declara.

Quanto às principais vantagens de atuar com esse modelo de negócio, o empresário destaca o fato de o café ser uma das bebidas mais consumidas no mundo, só perdendo para a água. Outro ponto citado é a baixa necessidade de mão de obra extremamente qualificada, o que facilita a contratação e treinamento de novos funcionários. “Quando você tem um modelo de negócio onde a mão de obra é mais simplificada isso facilita muito”, avalia.

Crédito: Thiago / OOP Café

Já as principais dificuldades, principalmente para as redes de franquias, na visão de Mattos, é a questão logística no Brasil, com dificuldades na entrega em tempo hábil de produtos, incluindo perecíveis. Além disso, há também a volatilidade nos preços do café, devido a fatores climáticos, que acabam impactando as empresas que atuam nesse segmento. “Esses dois pontos eu considero bastante desafiadores, logística e a volatilidade de preço decorrente das questões climáticas”, completa.

Ele ainda aponta para os riscos de entrar nesse negócio como um investidor aventureiro, motivado apenas pelo crescimento recente. Mattos adverte que muitos acreditam tratar-se de um mercado simples e fácil de lidar, porém, ele necessita de muita estrutura e preparo para dar certo. “Eu acredito que escolher um modelo já consolidado, para quem quer investir nesse setor, faz muito sentido ao invés de começar um negócio do zero”, disse.

Para Bortoletto, o empresário que trabalha com cafeterias tende a enfrentar as mesmas dificuldades que qualquer outro empreendedor. O diretor regional da ABF em Minas explica que o retorno obtido será proporcional ao tempo que ele dedica ao negócio.

Ele ressalta que a pessoa que opta por abrir uma franquia de cafeterias precisa pensar a longo prazo, uma vez que ele estará ingressando em um mercado perpétuo de bebida de consumo diário. O diretor regional da ABF também aconselha que os futuros franqueados entrem em contato com empreendedores que já estejam no ramo para conhecer mais o mercado e a rede da qual ele será parceiro.

Adriene Cobra avalia que a principal vantagem desse mercado está no crescimento do próprio segmento e no interesse do público por este tipo de negócio. Por outro lado, ela considera que, por ser um mercado novo, um dos grandes desafios enfrentados tem sido a dificuldade para encontrar profissionais capacitados para atuar na área, principalmente com cafés especiais, como no caso dos baristas.

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