Mercado Central completa 90 anos com empreendedorismo familiar

5 de setembro de 2019 às 0h18

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Prestes a completar 90 anos (7 de setembro), o Mercado Central de Belo Horizonte é conhecido no Brasil e no mundo - Crédito: Divulgação/Mercado Central

Prestes a completar 90 anos no dia 7 de setembro, o Mercado Central de Belo Horizonte é conhecido no Brasil e no mundo pela diversidade dos produtos nele comercializados. Mas, as 400 lojas espalhadas pelos 22 mil metros quadrados, guardam outra preciosidade: a trajetória de empreendedorismo dos comerciantes, que já estão na quarta geração das famílias e permanecem reinventando o espaço.

O superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga, destaca que a união dos lojistas e o espírito empreendedor deles foram alguns dos pilares que sustentaram o centro de compras. Ele lembra um dos fatos históricos vividos pelos comerciantes em 1964, quando o então prefeito de Belo Horizonte, Jorge Carone, decidiu vender o terreno do Mercado Central e os lojistas se uniram para manter o estabelecimento.

“Mais de 700 comerciantes se juntaram com o mesmo propósito, que era adquirir o terreno da prefeitura e manter o espaço. A união e o empreendedorismo deles foram muito importantes para o Mercado chegar aos 90 anos”, diz. Esse mesmo espírito empreendedor foi essencial para reconhecer que o centro de compras – que surgiu como um atacado de hortifrúti – precisava se reinventar.

“Nos anos 60 e 70, o Mercado Central era o único centro de abastecimento da cidade, mas depois surgiu a Ceasa e, em seguida, supermercados e sacolões. Os comerciantes tiveram que repensar o mix e, hoje, o mercado tem essa variedade, que passa pelo artesanato, queijo, doces, artigos para presente e muitas outras coisas”, diz.

As 400 lojas do mercado estão divididas em áreas como carnes; frutas; queijos; doces; bebidas; ervas e raízes; floricultura; animais; artesanato, entre outras. Do total de lojas, 56 são especializadas em queijo: juntas, elas vendem 320 toneladas por mês, o que representa um terço da produção do queijo no Estado.

Braga destaca que um dos segredos do espaço é manter a tradição e a cultura dos mineiros, mas, ao mesmo tempo, se modernizar em estrutura.

“No primeiro andar temos um grande mercado que ainda funciona com compra em caderneta, onde se fala de futebol e política. Mas, por trás, há uma estrutura moderna, um mercado presente nas redes sociais e que investe em melhorias, como o tratamento acústico do telhado”, exemplifica.

Uma vida – O comércio no Mercado Central é uma das marcas da família de Geraldo Henrique Figueiredo Campos. Ele foi a terceira geração que passou pela gestão do Ananda Empório e, hoje, o comércio está sob o comando de sua sobrinha.

“Desde sempre” é a resposta do comerciante quando perguntado há quanto tempo está no Mercado Central. Hoje, mesmo afastado da gestão do empório, ele permanece por lá, pois assumiu o cargo de presidente da associação que administra o espaço.

Campos não tem dúvidas de que a história do Mercado Central se confunde com a trajetória de empreendedorismo dos comerciantes que lutaram pela existência do espaço.

O pai dele foi um dos lojistas que, na década de 60, juntou tudo o que tinha para entrar na partilha da compra do terreno.

“Muitos deles fizeram sacrifício para pagar essa parte: eles tinham que trabalhar, tirar seu sustento e ainda precisava sobrar para dar conta do investimento do terreno”, destaca.

Entre os principais desafios enfrentados pelos comerciantes, Campos destaca as constantes mudanças do perfil do consumidor e da própria cidade.

“Ao longo das décadas, a concorrência aumentou fora do Mercado, mas nós o mantemos atrativo com as adaptações e também com a chegada de novas famílias. Sobreviver 90 anos em um País como o nosso, que não é amigável ao empreendedorismo, é um fato notório”, frisa.

O Ananda Empório foi um dos comércios que mudou ao longo dos anos. Fundado pelo avô de Campos, ele era focado em frutas frescas, mas hoje comercializa também grãos, castanha, azeite e bacalhau.

O empresário se diz satisfeito com as vendas do empório, que têm se mantido principalmente por conta do apelo pela comida saudável dos últimos tempos. Ele não abre números do desempenho do negócio, mas garante otimismo e diz que “espera por um Natal um pouco melhor que o do ano passado”.

Du Pain, única padaria do local, vende 10 mil croissants por mês

A história de sucesso do Mercado Central de Belo Horizonte também conta com a participação de empreendedores que chegaram há pouco tempo, mas que já estão contribuindo para o fortalecimento do espaço. É o caso de Ronaldo Souza e Raquel Brandão, casal que fundou, em 2016, a Du Pain, casa especializada em pães de fermentação natural.

Além de chamar a atenção por ser a única “padaria” do mercado, o estabelecimento é famoso por seus croissants à moda mineira, que geram filas de dobrar quarteirão no mercado.

“Escolhemos o Mercado Central por uma questão de segurança e nos chamaram de loucos, principalmente por causa do custo do aluguel. Mas, estamos felizes com essa escolha, pois democratizamos o acesso ao pão de fermentação natural e, hoje, muitas pessoas vão ao Mercado por causa da Du Pain”, afirma Raquel Brandão.

A proprietária destaca que empreender no Mercado Central é uma experiência diferenciada, pois é um espaço em que o relacionamento com os clientes e com os demais comerciantes tem grande relevância. Ela explica que, quando abriu a Du Pain com Ronaldo, eles ainda não eram casados. Nos últimos três anos, a clientela acompanhou a evolução da história pessoal deles: casamento, gravidez e o começo da vida do filho, que está com sete meses.

“Quando casamos, deixamos uma plaquinha dizendo ‘fui casar e volto já’ e, quando voltamos, fomos recebidos com muito carinho. Na gravidez foi a mesma coisa e, agora, levo nosso filho, que vai cumprimentando a todos antes de chegar à loja. Não demora ele engatinhar nos corredores do Mercado”, diz.

Raquel Brandão destaca que o atendimento na casa de pães consegue ser, ao mesmo tempo, íntimo e profissional. Ela e o marido fazem questão de oferecer informações detalhadas sobre o processo de fabricação do pão, que é um dos diferenciais do negócio.

A Du Pain usa duas toneladas de farinhas por mês para a produção de seus pães e vende, mensalmente, 10 mil croissants de diferentes sabores. Entre os mais famosos estão o de queijo e goiabada, ingredientes tradicionais da gastronomia mineira. Ao todo, são 40 produtos, que custam entre R$ 6 e R$ 25.

Além do Mercado – O Mercado Central de Belo Horizonte também foi o berço de negócios que foram para além dele. Um exemplo é a Roça Capital, que há cinco anos comercializa no mercado produtos como queijos, doces, cachaças e azeites.

O proprietário, Guilherme Vieira, afirma que a marca ganhou visibilidade no centro de compras, que é visitado tanto por belo-horizontinos quanto por turistas de todo o Brasil e do mundo.

“Muitos vêm ao mercado em busca de novas experiências gastronômicas”, diz.

Essa visibilidade permitiu que o empresário apostasse em uma nova loja. A segunda unidade foi inaugurada há um ano e meio no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul da Capital. Agora, Vieira já planeja uma terceira unidade, dessa vez uma Casa de Maturação de Queijos, que deve ser aberta no ano que vem.

A operação terá investimento de R$ 1 milhão e ficará em Casa Branca, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

“A ideia é fazer algo aos moldes do que é feito em vinícolas: oferecer eventos turísticos para que as pessoas conheçam o processo de maturação dos queijos”, diz.

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