Mercado de logística reversa vem crescendo em Minas

O setor de logística reversa, atividade que retorna os resíduos de produtos após o consumo para reciclagem ou descarte adequado, ainda tem muito a crescer no País e em Minas Gerais. Enquanto alguns analistas consultados pelo Diário do Comércio apostam em crescimento da ordem de 3%, outros acreditam que o setor pode chegar a 10%, com perspectivas de superar esse índice no decorrer do ano.
A logística reversa tem ganhado destaque com o aumento da conscientização ambiental e a implementação de novas regulamentações ambientais e, para o presidente do Instituto Rever, Paulo Petroni, é perceptível o aumento nas metas de reciclagem em 2024. “Nesses primeiros sete meses do ano já contabilizamos um aumento de 60% no volume de materiais recolhidos em relação a todo o ano passado. Mesmo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece metas claras para a gestão de resíduos e a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e consumidores, subindo mais um degrau no nível de exigência, a estimativa é batermos 50 mil toneladas recicladas até o final deste ano”, projetou.
De acordo com Petroni, mesmo incipiente, essa mobilização que as pessoas estão começando a ter com relação aos resíduos poderá, de fato, levar à criação de um novo setor econômico para o País. “Por isso, estimamos que nos próximos três a quatro anos os patamares de retorno dos resíduos sejam da ordem de 35% e que o setor ganhe toda a dinâmica de uma indústria forte. Pois hoje ainda é difícil a atuação, uma vez que muitas empresas ainda trabalham com coleta manual”, salientou.
Um dos pontos destacados por ele, no que diz respeito à transformação em uma indústria de logística reversa, é que, só assim será possível aumentar a quantidade de materiais que podem ser reutilizados ao invés de acabarem em aterros sanitários.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
“É uma área que demanda por investimentos. O montante de lixo que é gerado ao final de um dia é energia que estamos desperdiçando e isso é uma grande oportunidade de negócios. Entretanto, o valor pago pelo material ainda é baixo e a tributação brasileira não favorece a reciclagem”, considerou.
Para tentar amenizar esse cenário, o dirigente aponta que a reciclagem, por ser um trabalho positivo, deveria ser incentivado, como no caso da matéria-prima virgem. “A reciclagem gera emprego e ainda ajuda a amenizar os efeitos climáticos, ao reduzir a quantidade de retirada de materiais da natureza. Por isso, vamos pleitear, junto ao Congresso Nacional, a equiparação das condições tributárias dos reciclados para termos alguma competitividade”, adiantou.
Logística reversa tem custos e educação ambiental como desafios
Para o diretor da Inovar Ambiental, Rafael Marques Motta, a empresa, localizada em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), busca crescer entre 10% a 20% neste ano. “Trabalhamos com boas expectativas, pois estamos sentindo que a conscientização com relação aos descartes de resíduos que podem ser reciclados vem aumentando. Mesmo com educação ambiental ainda sendo um dos maiores desafios, a população, de modo geral, tem cada vez mais pensado a respeito. O segmento aqui em Minas ainda cresce de forma acanhada, mas com fortes possibilidades para os próximos anos”, avaliou.

O diretor acredita que os maiores desafios do setor no País ainda são o logístico, seja por conta de custos, e o da educação ambiental. “Muitas pessoas acabam descartando os resíduos de forma errada, jogando em lixos comuns os itens que poderiam ser reciclados. Então, quando se trata dos resíduos que nós temos em casa, como pilhas, baterias, sucata eletroeletrônica, lâmpadas, aerossóis, medicamentos, e o próprio óleo de cozinha, todos esses materiais não deveriam ser expostos em qualquer lugar. E hoje ainda temos poucos pontos de coleta”, observou.
Nos itens pilha e bateria a quantidade dos pontos de coleta em Belo Horizonte e na RMBH ainda é mais satisfatória, avaliou ele. “Hoje é possível descartar pilhas e baterias em uma rede de supermercados da Capital, lâmpadas nas principais lojas do setor e o óleo também conta com pontos para descarte. Já para a sucata eletroeletrônica, existem poucos pontos e algumas empresas ainda fazem a coleta porta a porta. Mas quando o assunto são medicamentos, estão muito aquém do que precisaríamos”, observou.
A MG Recicla é outra empresa que atua no segmento de logística reversa e está localizada em Belo Horizonte. O foco da empresa é na reciclagem de resíduo eletroeletrônico e gestão ambiental, inclusive promovendo treinamentos em empresas para orientar sobre os modos de separação de materiais e destinação correta, explicou o proprietário, Wilcson Diniz Pereira. “Além de trabalharmos com conscientização sobre descarte, ainda treinamos as pessoas com relação à reciclagem correta dos materiais”, explicou.
De acordo com Pereira, assim que os caminhões vão chegando à empresa, o primeiro passo do processo é a triagem. “O eletroeletrônico robusto vai para o setor de descaracterização, onde separamos cobre, placas e plásticos, que posteriormente voltarão para a indústria”, explicou. Porém, o gestor afirmou que não se trata mais de uma boa oportunidade de negócios ‘pois os órgãos de fiscalização vem exigindo muito do setor’. “Quem não conhece o segmento pode ter muita dificuldade. Inclusive, para se abrir uma empresa existe muita burocracia, principalmente, nos órgãos ambientais”, destacou
Outro entrave apontado por ele para a logística reversa é a descaracterização dos resíduos, que não é um processo fácil. “O que mais afeta o segmento é a falta de mão de obra. Hoje levamos cerca de seis meses para treinar um colaborador e é difícil encontrar pessoas que se fixem no cargo. O rodízio na área é muito grande e considero um dos maiores desafios. Começamos com coleta de papelão em 1998 e em 2012 vimos a oportunidade de trabalhar com eletroeletrônicos”, disse.
Especialização é desafio para o setor de logística reversa
Para o CEO da PostalGow, empresa de soluções logísticas especializadas no segmento de telecomunicações, Carlos Tanaka, o maior desafio do setor de logística reversa é a especialização. “Na parte de termos operacionais, a lógica reversa é que tem maior complexidade operacional devido à dificuldade de contatar os clientes para fazer a parte de reversa, porque todos estão especializados na parte de entregas e, na reversa, são poucas empresas atuando. Então, essa parte de especialização, é o grande diferencial, junto com a tecnologia também, porque nenhuma empresa está preparada hoje para atender a parte dos controles de ordens de serviços, de devolução dos materiais”, apontou.
Segundo o CEO, as empresas estão acostumadas mais a controlar entregas, não ordens de serviços para coleta, que é uma logística totalmente diferente. “Por isso que a PostalGow sai na frente, pois conseguimos controlar seriais dos equipamentos, itens e materiais recebidos, fazer reforma desses materiais, manuseio e entregar da forma que eles querem para poder fazer a destinação correta e conseguir valorizar esses produtos”, destacou Tanaka.
Ouça a rádio de Minas