Contratação de profissional sênior ainda é desafio para empresas
Para além da estratificação das informações do mercado de trabalho, quando o assunto é abordado com quem lida na prática com o assunto, os números se tornam preocupantes. Pesquisa realizada pelas empresas Vagas.com, Colettivo e Talento Sênior em 2022, contando com a participação de 252 profissionais de recursos humanos, por exemplo, identificou que um em cada quatro profissionais já foi demitido por causa da idade no Brasil.
A pesquisa também abordou se a empresa na qual o profissional de RH trabalha contratou alguém com mais de 50 anos nos últimos seis meses. A maioria (58%) se manifestou positivamente. Em contrapartida, 81% disseram que a empresa não promoveu nenhum programa para contratação desse público no último ano.
A CEO da Talento Sênior, Juliana Ramalho, avalia que a contratação de pessoas com experiência e bagagem de vida gera impacto econômico, uma vez que a curva de aprendizado é mais rápida do que pessoas jovens. Ela também cita o envelhecimento da população brasileira. E lembra que o maior desafio é quebrar a barreira inicial de contratação, causada por vieses inconscientes e estereótipos errôneos da população 50+.
“Uma vez feita a contratação, o trabalho no dia a dia vai naturalmente desconstruindo essa imagem pela entrega feita pelo profissional. A barreira, muitas vezes, começa no RH”, diz.
A Talento Sênior nasceu quando a executiva observou pessoas ativas, capazes e muito gabaritadas terem suas aposentadorias forçadas em grandes empresas. “As agências de emprego tradicionais ainda não estão utilizando esse modelo em larga escala por focarem em contratações de grandes empresas, que se limitam às contratações no formato CLT, de exclusividade e tempo integral”, opina.

Como a permissão dessas contratações veio com a Reforma Trabalhista de 2015, a especialista acredita que muito aprendizado ainda está por vir.
“Nossas regras de trabalho ainda têm muito da Revolução Industrial, quando era necessário ter todos os funcionários atuando no mesmo horário, com formatos padronizados e muito comando e controle. A Revolução Tecnológica modificou muito essa interação, mas ainda não está absorvida pelas empresas. O mundo está mudando a forma de trabalho, mas os departamentos de recursos humanos não estão acompanhando essa velocidade. Perdem as empresas e os talentos que têm tanto a agregar”, alerta.
“A Talento Sênior tem em sua base 1.700 profissionais seniores divididos em diversos segmentos, principalmente finanças, recursos humanos, marketing e operações. É um bom negócio para quem contrata e para quem é contratado”, frisa Juliana Ramalho.
“A experiência e conhecimento que esses profissionais trazem são estratégicos para o crescimento dos negócios, além de uma série de benefícios como: confiabilidade, redução de custos, diversidade e inclusão e contribuição para a sociedade”, detalha.
Qual o perfil do mercado de trabalho para um profissional sênior?
Outra pesquisa, neste caso da Ernst & Young com a agência Maturi, também realizada em 2022, com quase 200 empresas no Brasil, traçou o perfil do mercado de trabalho para pessoas com mais de 50 anos. A maioria das companhias pesquisadas tem de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional. E, segundo o estudo, 78% das empresas consideram-se etaristas e têm barreiras para contratação de trabalhadores nessa faixa de idade.
Porém, três em cada cinco pesquisados afirmaram acreditar que o envelhecimento da população terá impactos para a sua empresa, 41% já sentem esses impactos e 88% concordam total ou parcialmente com a afirmação de que as empresas que se prepararem para o envelhecimento estarão em vantagem.
Os principais aspectos ressaltados são o ganho de conhecimento (melhoria da gestão de conhecimento, por 48% dos entrevistados); melhoria nas relações interpessoais (45%); complementaridade de times (40%); e melhoria no clima organizacional (38%). Porém, para aproveitar estas vantagens é necessário mudar as práticas etaristas atualmente presentes na maioria das organizações.
O estudo também mostrou que 57% das organizações pretendem executar ações voltadas ao envelhecimento, como investir no recrutamento de profissionais maduros e na preparação da cultura organizacional, até 2025. Para efetivamente impulsionar essa temática, porém, o RH deverá contar com uma boa visão de futuro, alinhada à estratégia organizacional. Ah, e, curiosamente, os próprios líderes (muitos deles com mais de 50 anos) são uma barreira para o avanço do tema nas empresas, conforme a mesma pesquisa.
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