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Mineração se alia às startups por inovação

Setor tem estabelecido parcerias com empresas de base tecnológica com o objetivo de promover a inovação
Mineração se alia às startups por inovação
Pertencente à ArcelorMittal, o Açolab já rendeu a criação do Açolab Ventures, uma CVC que ajuda startups mais maduras a ganharem escala | Crédito: Divulgação / ArcelorMittal

Setor de base e dos mais antigos em atividade no Brasil, a mineração, embora seja uma atividade extrativista, investe e precisa seguir investindo em inovação para garantir não apenas processos mais seguros e eficazes, como para se manter competitiva.

Sob um olhar cada vez mais crítico e severo da sociedade e dos investidores, a mineração tem se valido de diferentes modelos de aproximação e parcerias com as empresas de base tecnológica em busca de inovação em processos, materiais, equipamentos e práticas sustentáveis.

Muitas mineradoras e siderúrgicas têm, dentro das suas diretorias ou programas de inovação, estruturas dedicadas para atrair startups por meio de desafios, editais específicos, busca ativa e contato direto, entre outras possibilidades.

Um exemplo é o Açolab, que pertence à ArcelorMittal. O espaço colaborativo incentiva o desenvolvimento de soluções inovadoras com o objetivo de aumentar a competitividade da companhia, em parceria com startups e hubs de inovação aberta. O foco está no codesenvolvimento de provas de conceito (PoCs) e mínimo produto viável (MVPs).

O Açolab já rendeu a criação do Açolab Ventures, uma corporate venture capital (CVC) que ajuda startups mais maduras a ganharem escala. O fundo de investimento próprio é voltado para acelerar startups e pequenas e médias empresas inovadoras. Desde a sua criação, em 2021, foram realizados investimentos em seis empresas. Ao todo, serão desembolsados, até 2025, mais de R$ 100 milhões. Até agora, já foram cerca de R$ 40 milhões.

Conforme o especialista em Inovação da Arcelor Mittal, Conrado Borges, o objetivo do laboratório é gerar resultados de impacto positivo para o negócio e para a sociedade.

“Sendo centenários, sempre tivemos a inovação no nosso DNA e isso é um facilitador. Ainda assim, existe um embate de mentalidades. Existe uma estrutura muito pesada comum ao setor de mineração que precisa se encontrar com a agilidade e com a pouca maturidade das startups como empresas. Se isso causa algum choque, por outro lado é uma oportunidade para os dois aprenderem. De um lado, a mineração ganha inovação e agilidade; de outro, as startups ganham não apenas grandes clientes, mas também amadurecem a gestão e têm acesso a um capital que, de outra forma, seria mais difícil. Temos hoje cerca de 10 mil startups que já se conectaram conosco de alguma forma”, explica Borges.

Uma das startups apoiada pelo Açolab Ventures foi a Vertown. A empresa, sediada em Belo Horizonte, é especialista em gestão de resíduos. Segundo o Chief Revenue Officer (CRO) da Vertown, Messias Barbosa, as práticas sustentáveis são a principal demanda do setor de mineração que busca por inovação junto às startups.

“Não é fácil nos aproximarmos dessas empresas colossais e centenárias. Esses programas ajudam muito. Não basta ter tecnologia para ser inovador e o mercado tem pressionado por práticas mais sustentáveis e processos mais eficazes sob pena de perda de competitividade e, com isso, risco à perenidade do negócio”, pontua Barbosa.

Diferentemente da ArcelorMittal, a Aperam atua com projetos pontuais. Para o gerente executivo de TI da Aperam, Alexandre Henrique Farah Dias, a busca pelas empresas de base tecnológica capazes de atender as demandas da empresa acontece de diferentes maneiras.

“Não temos um programa estruturado para promover esse encontro, mas participamos ativamente do ecossistema de inovação. Estamos sempre nos eventos mais importantes do Estado e do Brasil, trabalhamos muito próximos ao Fiemg Lab (hub de inovação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e outras iniciativas como o Cubo (Banco Itaú) e Inovabra (Bradesco). Nesses espaços as pessoas e as empresas colaboram e compartilham muito e é assim que se fomenta a cultura de inovação. A mudança de mentalidade é mais importante do que a própria solução de um problema pontual. E, tudo isso, ajuda também a promover a inovação interna, criando um ambiente inovador”, destaca Dias.

Mining Hub promove inovação aberta no setor de mineração

Criado em Belo Horizonte, em 2019, o Mining Hub é um espaço de inovação aberta do setor de mineração que une mineradoras, startups, pesquisadores e investidores, oferecendo soluções, oportunidades e conexões. Considerado o primeiro do mundo estruturado para promover inovação aberta no setor, o hub já recebeu 1.544 inscrições, tendo realizado 132 provas de conceito e 26 contratos pós PoC. São 21 mineradoras associadas, 20 fornecedores e 17 startups contratadas.

Segundo o diretor-executivo do Mining Hub, Leandro Rossi, são diferentes tipos de programa que atuam segundo as necessidades das empresas e o grau de maturidade das startups.

“Em setores de capital intensivo como a mineração, é comum que as grandes empresas só se relacionem e façam negócios com outras grandes empresas, matando as pequenas com o peso da sua estrutura. E foi para mudar essa lógica que o Mining Hub foi criado. O que fazemos aqui não é filantropia. Mineradoras e startups precisam uma das outras para que os negócios prossigam. Inovação aberta não pode ser só um discurso, um teatro”, avalia Rossi.

Para dar estrutura ao trabalho foram destacados sete temas:

  • Descarbonização da cadeia produtiva;
  • Desenvolvimento social;
  • Transição energética;
  • Eficiência operacional;
  • Gestão da água;
  • Gestão de resíduos;
  • Saúde e segurança ocupacional.

“Essa padronização dá escala à busca de soluções. Assim, a possibilidade de construirmos uma agenda ‘ganha-ganha’ cresce. A inovação é uma agenda de médio e longo prazo, mas para ser possível suportar esse fluxo, temos que promover entregas menores ao longo desse período. A inovação precisa estar dentro do debate estratégico das mineradoras. O Brasil lidera alguns dos fóruns mais importantes porque somos grandes produtores em quantidade e qualidade. Precisamos trabalhar mais na construção de políticas públicas para que a mineração siga de forma cada vez mais responsável como um dos motores da economia e sendo compreendida na sua complexidade e importância pela sociedade”, destaca o diretor-executivo do Mining Hub.

Presente no Mining Hub desde o início, a LLK, criada também em Belo Horizonte, em 2008, é uma empresa de inovações que aplica diariamente a indústria 4.0 em seus negócios, fornecendo soluções e desenvolvendo produtos para diversos ramos da indústria, especialmente a mineração.​

Para isso, desenvolve produtos, equipamentos, hardwares, softwares e processos, trabalhando com visão computacional, instrumentações de diversos tipos, monitoramento de variáveis, proteção de equipamentos e processos.

Segundo o CEO da LLK, Filipe Vargas, fazer parte do Mining Hub foi fundamental para a aproximação com grandes empresas. Hoje, a LLK tem como clientes gigantes como Vale, Usiminas, CSN, entre outras.

“As grandes empresas, além do tamanho, têm um problema de mentalidade, acostumadas com grandes fornecedores e as startups não estão preparadas. Tem a questão financeira, elas trabalham com faturamento de 60 dias ou mais. As startups não conseguem sobreviver a esse fluxo. O Mining Hub ajuda muito nessa comunicação. A parti dele, as próprias empresas começaram a criar hubs internos. Hoje, a maioria das demandas tem a ver com sustentabilidade, meio ambiente e eficiência operacional. A tragédia do rompimento da barragem, em Mariana, em 2015, fez com que o foco mudasse. Naquela época, quase ninguém falava em segurança de barragens, a partir dali tivemos um grande desenvolvimento de tecnologias de segurança não só para barragens, como também de empilhamento a seco. Para a LLK foi uma oportunidade de diversificarmos o nosso portfólio”, relembra Vargas.

A proximidade com os grandes players também permite que as startups acelerem o processo de internacionalização oferecendo soluções para operações das clientes em outros países e também frequentando com mais facilidade ecossistemas de inovação fora do País. Assim, a LLK já fez negócios na Argentina, já visitaram o Peru e ainda este ano estarão na Alemanha.

“Desenvolvemos muitos produtos a partir do Mining Hub e, por ser inovação aberta, são produtos para muitas empresas. Buscamos escalar desses produtos, aumentando o volume em empresas que já são clientes”, pontua o CEO da LLK.

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