Modelo desenvolvido no Cefet é replicado

A cada dia, milhares de veículos são produzidos e comercializados no Brasil. A indústria automotiva e sua cadeia de suprimentos alavancam e movimentam a economia nacional, tendo grande participação no Produto Interno Bruto (PIB) da indústria. Mas, passada a vida útil dos automóveis, sociedade, meio ambiente e a própria economia agradecem pela correta destinação de componentes, peças e materiais por meio da reciclagem.
O Brasil possui leis para a reciclagem de resíduos veiculares e regulariza a atividade de desmonte de veículos, definindo limites de reaproveitamento de peças deixados por carros, ônibus e caminhões uma vez findado seu período de utilização. Mais do que isso, o País é referência na América Latina e abriga, em Belo Horizonte, o primeiro Centro Tecnológico destinado à reciclagem completa de automóveis, com tecnologia avançada e rastreabilidade de todos os materiais e peças recuperadas dos veículos.
Trata-se do Centro Internacional de Reciclagem Automotiva (Cira), localizado no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). Inaugurado em 2019, fruto de parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e a empresa japonesa Kaiho Sangyo, o Cira começa agora a ganhar corpo, estruturando uma rede de reciclagem de automóveis no País. Lavras, no Sul de Minas Gerais, e São Paulo, já começam a replicar o modelo.
Quem conta é o professor de engenharia mecânica do Cefet e fundador do Cira, Daniel Enrique Castro. Segundo ele, diferentemente de outros pontos de reciclagem de automóveis, o modelo proposto faz o processo completo desde a desintoxicação do veículo até a destinação final das peças. Isso permite aproveitar mais de 90% dos componentes dos veículos.
“Isso é mais até que no Japão. Desde o fim do ano passado, seja por meio do desmonte em Lavras ou do localizado em São Paulo, já somamos mais de 50 veículos reciclados. É um marco importante, pois o tema é muito complexo e, aos poucos, estamos avançando”, explica.



A reciclagem de automóveis precisa de engajamento público e privado
Na unidade de Lavras, por exemplo, estão sendo reciclados caminhões no fim da vida útil, por meio do Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária no País – Programa Renovar – do governo federal. Além disso, há negociações com a planta do grupo Stellantis (Fiat) em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), para reciclagem dos veículos de teste da fábrica. Seriam reciclados pelo menos 90 veículos por mês.
Para dar ainda mais robustez e continuidade à iniciativa é preciso parcerias e engajamento dos setores público e privado. O governo de Minas, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede), tem se inteirado dos benefícios de incentivo desta cadeia. Para se ter uma ideia, um veículo reciclado consegue poupar 60 toneladas de recursos naturais como minério e água, eliminando a emissão de carbono na atmosfera durante a fabricação. Isso equivale a 70 árvores preservadas na natureza.
Por fim, o trabalho também envolve iniciativas de conscientização no que diz respeito à geração de novos negócios. Neste sentido, Castro lembra que a venda de componentes usados, provenientes de desmanche, não é uma atividade nova no País. No entanto, quase sempre ocorre de maneira duvidosa. Por isso, o projeto inclui a criação de uma rede de peças ecológicas e uma plataforma indicando os benefícios da reciclagem oficial. “Queremos conscientizar as oficinas para que usem apenas peças de procedência e que tenham garantias e certificados ambientais”, reforça.
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