Gastronomia

Febre nas redes, ‘Morango do Amor’ eleva lucro de confeiteiras e pressiona mercado da fruta

Releitura da maçã do amor e do tradicional bombom de morango, a iguaria virou febre entre os brasileiros nas últimas semanas e pode gerar lucros a confeitarias
Febre nas redes, ‘Morango do Amor’ eleva lucro de confeiteiras e pressiona mercado da fruta
Foto: Delícias Gourmet/Arquivo Pessoal

Com cobertura crocante, recheio cremoso e o cítrico da fruta, o morango do amor virou febre nas redes sociais e sucesso de vendas nas confeitarias de todo o País. Uma releitura da maçã do amor e do tradicional bombom de morango, a iguaria virou febre entre os brasileiros nas últimas semanas e, segundo especialistas, pode gerar lucros expressivos para os confeiteiros que souberem produzi-la de forma inteligente. 

Apesar de parecer novidade, a confeiteira Talita Silva, da Bala Baiana da Preta, já produz um doce de morango envolto em creme de coco e caramelizado desde 2019 – mas ainda não o chamava de morango do amor. Agora, com a moda, ela viu a demanda disparar. “Ele bombou desde junho. Em um dia de produção, chego a vender 40 unidades. Em média, faço duas fornadas por semana, o que dá entre 120 e 130 morangos do amor”, afirma.

Ela vende cada unidade média a R$ 8, mas o preço, segundo Talita Silva, deve subir. “Hoje mesmo a caixinha que eu pagava R$ 10 já está R$ 15. Tá faltando morango no mercado”, diz.

Em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a confeitaria Delícias Gourmet vende 200 unidades por dia e já tem encomendas fechadas para a semana seguinte. “É uma explosão. Nosso WhatsApp recebe mais de 100 mensagens por dia, quase todas pedindo o morango do amor”, afirma a confeiteira, Beatriz Rodrigues. O doce, que custa entre R$ 5,50 e R$ 6 para produzir, é vendido a R$ 16, segundo ela.  

Foto: Delícias Gourmet/Arquivo Pessoal

A chef e coordenadora do curso de Gastronomia da Estácio BH, Larissa Fernandes, aponta que a margem de lucro pode superar 300%. “O custo do morango do amor gira em torno de R$ 4 por unidade. Há confeitarias vendendo a R$ 15. É uma margem atrativa para quem souber lidar com o ritmo da moda”, explica. Ela comenta que em Belo Horizonte alguns estabelecimentos chegam a vender 600 unidades por dia.

A composição do doce exige cuidados. “A casquinha é feita com açúcar, água, vinagre e corante, como a da maçã do amor. Por isso, o produto não pode ser refrigerado e tem durabilidade de um dia. O armazenamento errado faz com que o açúcar derreta, como ocorre com pirulitos”, diz Larissa Fernandes.

Essa sensibilidade do produto é vista como complexa para muitas pessoas, mas para Talita Silva é uma oportunidade. “Por ser um doce mais trabalhoso consigo valorizar a minha mão de obra e agregar mais valor. Com a internet, as pessoas tentam fazer em casa, veem como é complexo e acabam valorizando mais o doce”, a confeiteira já trabalha com quitutes que exigem o processo de caramelização, como maçãs do amor e balas baianas, desde 2017. 

“É mais trabalhoso. Exige técnica e paciência. Em termos de retorno, minha bala baiana me dá mais lucro, porque consigo fazer mais rápido e em maior quantidade”, compara.

Foto: Arquivo Pessoal

Dos festivais às redes sociais

A Delícias Gourmet começou a vender o morango do amor nos festivais de inverno da Grande BH, antes mesmo do doce viralizar nas redes sociais. “A gente levou para o Colégio Arnaldo e acabou tudo em menos de uma hora. Agora estamos produzindo para o festival do Museu Abílio Barreto, que até gravou vídeo anunciando nossa participação”, conta Beatriz Rodrigues.

Segundo ela, a confeitaria teve que contratar reforço para dar conta da produção. “Somos eu, minha mãe e mais uma pessoa da família. Enquanto tiver demanda, vamos manter o reforço.”

Lucro alto, mas moda incerta

Para Larissa Fernandes, o sucesso do doce é resultado da repetição visual nas redes, mais do que de um desejo espontâneo do consumidor. “Não é o sonho da vida da pessoa comer o morango do amor. Mas, de tanto ver, ela acaba querendo. Aconteceu a mesma coisa com o pão de fermentação na pandemia”, analisa. “O morango do amor explodiu em menos de dez dias. Pode ficar como o Ninho com Nutella, que se consolidou, ou desaparecer em poucas semanas.”

Já Talita Silva acredita que a demanda deve continuar. “Tem confeiteiras que se encontraram nesse produto. Muita gente desempregada começou a vender morango do amor. Acredito que vai seguir sendo procurado.”

No entanto, por se tratar de uma tendência recente, a chef Larissa Fernandes alerta para a possibilidade de desperdício. “É um produto perecível. Algumas confeitarias estão optando por vender apenas por encomenda. Outras já aproveitam os morangos menores para fazer geleias ou recheios de bolo. Quem tem experiência evita prejuízo”, diz.

Foto: Delícias Gourmet/Arquivo Pessoal

Doce com história

Assim como Talita Silva, Beatriz Rodrigues também já produzia outras modalidades do doce desde o ano passado, mas,  conforme a confeiteira, a procura pela iguaria nunca foi tão alta como nas últimas semanas. 

“Expandiu para todos os lados, tanto financeiramente, quanto de visibilidade. Foi assim, foi bem emocionante mesmo. Porque a gente trabalha com loja física, mas não tinha tantos pedidos. De uma hora para outra nosso WhatsApp tinha mais de 100 mensagens para responder, mais de 100 clientes para atender e quanto mais a gente faz, mais a gente vende”, diz a confeiteira. 

Janaína Camilo, especialista em Mercados e Transformação Digital do Sebrae, vê o sucesso do doce como um exemplo claro de como as redes sociais podem transformar produtos simples em grandes oportunidades. “Um vídeo bonito, um nome criativo, uma imagem que dá vontade de comer — e pronto. Em poucos dias, está todo mundo querendo experimentar”, afirma Janaína. Para ela, o “Morango do Amor” é um exemplo de como é possível lucrar com tendências sem a necessidade de inventar algo mirabolante. “As redes sociais criam desejo. Quando o desejo envolve comida, o negócio acelera”, destaca.

Ela explica que o momento é propício para pequenos negócios, assim como os de Talita e Beatriz, que podem aproveitar a viralização do produto. “Não é necessário inventar algo novo. Basta aproveitar o que já está viralizando. O morango do amor é visualmente atraente, fácil de fazer e tem um custo baixo”, orienta. Ela também enfatiza que, com uma boa estratégia de precificação, o doce pode ser vendido tanto em docerias como na rua. “Preços mais altos funcionam quando há diferenciação clara e público disposto a pagar por exclusividade; já preços mais competitivos são ideais para quem quer ganhar escala”, diz Janaína.

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