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Mulheres que fazem história “na cozinha”

Livro "Histórias Contadas pela Cozinha” reúne histórias de vida, dicas de higiene e segurança alimentar
Mulheres que fazem história “na cozinha”
Maria de Lourdes, mais conhecida como Lu da Tapioca D’Lu, e sua filha | Crédito: Divulgação/Copasa

Com o intuito de empoderar e fortalecer a representatividade de mulheres nas comunidades, incentivando a economia colaborativa e o desenvolvimento socioeconômico local, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) lançou o livro de receitas “Histórias Contadas pela Cozinha”. A obra reúne histórias de vida, dicas de higiene e segurança alimentar, além de receitas desenvolvidas na ação promovida pela Companhia em áreas de vulnerabilidade social da Grande Belo Horizonte, voltado à conscientização sobre a importância da regularização do abastecimento de água.

A edição do livro é resultado de uma ação que integra o Plano de Gestão Socioambiental do contrato “Performance BH”, realizada pela Copasa, por meio do programa Engajar para Transformar, ao longo de mais de um ano no Morro das Pedras, em Belo Horizonte, e no Complexo Vila Ideal, em Ibirité (RMBH). A ação capacitou 62 mulheres para o empreendedorismo gastronômico, impactando aproximadamente 220 pessoas, entre familiares e amigos dessas cozinheiras.

O evento de lançamento do livro aconteceu na sede de uma Organização Não Governamental (ONG) no Morro das Pedras, uma das comunidades atendidas pela ação “Histórias Contadas pela Cozinha”, e contou com um café organizado e servido pela Maria de Lourdes Souza Silva, mais conhecida como Lu da Tapioca D’Lu, que deu aulas em um curso promovido durante as ações do programa.

“Eu participei do projeto como mentora e com o objetivo de ajudar as meninas a aprimorarem suas receitas e trazer outras receitas da culinária mineira. Mas, para além do curso, eu aprendi demais nessa experiência porque ninguém é tão grande que não possa aprender e nem tão pequeno que não possa ensinar. Então, eu digo que eu não ensinei, fazemos trocas. Todo dia tinha uma experiência nova, uma troca nova, um ensinamento novo. Então, eu acho que eu me doei tanto para elas quanto elas para mim”, disse.

Entre as receitas do livro está a de “Costelinha com Suã”, trazida por Lúcia Leia da Silva, de 67 anos. “A receita foi da minha mãe e, quando a gente era pequeno, ao lado da nossa casa tinha um açougue que limpava as carnes e doavam os ossos e a suã para as pessoas. E a minha mãe então pegava, chegava em casa e lavava bem lavado com água quente, temperava com o que tinha em casa e cozinhava aquele osso de modo que o restinho de carne soltava. Daí jogava-se uma canjiquinha, cozinhava um angu e cortava-se uma couve, e a gente sentava e todo mundo comia. Aquele era o nosso alimento do dia a dia, das pessoas mais pobres e carentes. E hoje a canjiquinha é tão famosa que até japoneses já comeram da canjiquinha que eu fiz”, conta.

Lúcia Leia soube do projeto da Copasa pela filha e se inscreveu para participar das aulas de culinária. A partir do curso, já se animou a aprender crochê. “Fui aos 30 dias de aula, só faltei um dia porque meu pai faleceu. Mas, para mim foi um aprendizado muito bem-posto porque às vezes a gente fica dentro de casa sem fazer nada e fica com angústia e tristeza, e lá não, lá a gente interagiu e conheceu pessoas novas. Foi muito gratificante e agradeço muito a Deus, à Copasa – que foi nossa patrocinadora – e às professoras. Eu me deito na cama e penso: gente, eu com 67 anos participando de curso? Eu achava que quando eu fiz 50, eu não ia aprender a fazer mais nada, mas agora que terminei o curso de culinária, entrei em um projeto para aprender a fazer crochê e vou ‘crochetar’”, disse.

Segundo a analista socioambiental da Copasa, Wayne Barbosa, o lançamento do livro é o resultado de um trabalho coletivo desenvolvido junto às mulheres das duas comunidades. “Entendo que a impressão do livro vai trazer memórias afetivas daquilo que elas construíram e vivenciaram, não somente a troca de receitas, mas a troca de conhecimentos e das experiências de cada uma com o lidar com o alimento na cozinha, além do aprendizado que elas tiveram nas oficinas com conteúdo técnico. Ou seja, ao mesmo tempo que elas entregaram conhecimentos, elas também receberam um conhecimento técnico sobre a manipulação e o preparo dos alimentos”, disse.

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