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Livro resgata história da população negra da Capital

Obra resgata a memória da população negra expulsa do Curral Del Rey para a construção da capital mineira
Livro resgata história da população negra da Capital
Padre Mauro Luiz da Silva: percebi que essa população negra que vivia no Arraial passou por um processo intencional de apagamento | Crédito: Divulgação Samanta Coan

A decisão de construir uma nova capital para o Estado e a escolha do local ideal mudou a história de Minas Gerais e impactou populações que até hoje, mais de 130 anos depois, seguem sofrendo as consequências. Uma delas, o deslocamento forçado das comunidades que viviam na região do antigo Curral Del Rey. O livro “Largo Do Rosário – Do Arraial dos Pretos à cidade dos brancos” recupera a memória da população negra expulsa do Curral Del Rey para a construção de Belo Horizonte.

Lançada pela Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC), a obra é fruto da pesquisa desenvolvida pelo Padre Mauro Luiz da Silva, desde 2011. De acordo com o autor, no hoje movimentado cruzamento entre as ruas da Bahia e Timbiras, na região Centro-Sul, ficava o Largo do Rosário, antes mesmo da fundação de Belo Horizonte. Ali estava a Igreja do Rosário e um cemitério para o sepultamento de membros da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, responsáveis pela construção do Largo há mais de 200 anos.  

O livro recupera a memória desse importante marco para a população negra que foi destruído para a construção da capital mineira. Com isso, os então moradores foram forçados a se deslocarem para áreas periféricas da cidade.

“Meus avós chegaram a Belo Horizonte na década de 1910 e viveram nessa região onde hoje é o bairro de Lourdes, onde o meu pai também nasceu. Quando tomei conhecimento do Largo do Rosário, perguntei ao meu pai, mas ele nunca tinha ouvido falar do lugar. Isso foi um choque para ele e para mim. Percebi que essa população negra que vivia no Arraial passou por um processo intencional de apagamento da sua memória e que precisamos recuperar essa história, assim começou a pesquisa para o livro”, relembra Silva.

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A pesquisa enfrentou a falta de documentos e foi realizada em grande parte nos arquivos da Arquidiocese de Belo Horizonte, criada em 1922. A documentação anterior a essa data que poderia estar nos arquivos da arquidiocese de Mariana – a qual o território de Belo Horizonte pertencia anteriormente – foi perdida.

Já a imagem da capa do livro é um raro registro feito pela Comissão de Construção da Capital antes das obras começarem, em meados dos anos de 1890. A inauguração de Belo Horizonte ocorreu em 12 de dezembro de 1897.

“A história da minha família é um gancho pra mostrar que o silenciamento é intencional. Mesmo 20 anos depois da lei que obriga o ensino de história afro-brasileira, ainda não se fala sobre esses fatos nas escolas. Hoje precisamos saber qual memória queremos ativar. Queremos ocupar aquele espaço não só com uma placa, mas fisicamente. Queremos ter um memorial no mesmo lugar. Ali perto tem uma escola e é uma grande vitória quando vejo aquelas crianças estudando o Largo do Rosário. Elas vão ter um futuro que eu não tive oportunidade de ter. O nome do livro é uma provocação. No antigo arraial, dois terços das pessoas eram negras escravas e libertas. Houve um projeto intencional de expulsão da população negra que não estava no projeto da cidade branca, a não ser em atividades subalternas e morando na periferia. Era e segue sendo uma cidade para brancos”, explica o professor. 

O livro do Largo do Rosário faz parte do “NegriCidade: Resgate do Território Negro do Largo do Rosário”, projeto realizado pela AIC com recurso do Ministério da Igualdade Racial/Governo Federal, via emenda parlamentar indicada pela ex-deputada federal Áurea Carolina na Lei Orçamentária Anual 2023, e em parceria com o Muquifu e o Projeto NegriCidade.

O lançamento será realizado em três eventos:

  • 18/02 (Terça-feira) – 20h: Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), às 20h, durante o Chá da Dona Jovem. Endereço: Rua S. Antônio do Monte, 708, Vila Estrela.
  • 22/02 (Sábado) – 10h: Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), às 10h, com uma roda de conversa no Auditório Generosa, Felicíssima e Nicolau. Endereço: Av. Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim.
  • 23/02 (Domingo) – 10h: Paróquia Santo Afonso de Ligório e Sabic (Associação dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias), às 10h, com uma Manhã de Autógrafos na Biblioteca Comunitária Renascença, na Praça Muquí, 89, Renascença.

Nesses dias, a distribuição da obra será gratuita. E após o lançamento uma versão digital também será disponibilizada.

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