Futuro do trabalho exige flexibilidade e tecnologias aplicadas

Realizado a cada dois anos, o estudo “Futuro do Trabalho”, publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), em parceria com o Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), revela um cenário de consolidação de tecnologias apontadas como tendência em 2023 e a necessidade de que empresas, governos, academia e trabalhadores redirecionem seus esforços para a qualificação da mão de obra que fica cada vez mais escassa em todo o mundo.
A edição divulgada hoje (8) do documento analisou 55 economias para obter tendências importantes sobre o mercado de trabalho para o período 2025-2030.
Os dados apurados revelam que o perfil do trabalhador está evoluindo significativamente em resposta às novas demandas do mercado de trabalho, com foco no desenvolvimento de habilidades tecnológicas, em especial relacionadas à inteligência artificial (IA), Big Data, e segurança cibernética.
Entre os trabalhadores, 65% consideram a requalificação e a busca por novas competências como essencial para manter sua relevância no mercado, bem como a empregabilidade. Além disso, 78% dos empregados buscam oportunidades de treinamento oferecidas por seus empregadores para aprimorar suas habilidades.
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De acordo com o diretor do Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da FDC, Hugo Tadeu, embora 70% dos trabalhadores estejam dispostos a dedicar tempo fora do horário de expediente para cursos de aprimoramento – o que é muito positivo -, eles também esperam que as empresas invistam na capacitação da mão de obra já contratada.
“O tema da IA deixou de ser um hype, para ser tema do dia a dia do mercado de trabalho, com o foco central em produtividade. Quem passou pela agenda de capacitação e requalificação precisa provar o quanto isso foi transformador para o negócio. E quando falamos de requalificação, não é sobre cursos rápidos e pontuais, mas sobre investimentos de qualidade, que permitam que o trabalhador realmente se movimente dentro da estrutura”, diz.

Ele acrescenta que o número de pessoas investindo em qualificação cresce e que os trabalhadores também esperam que o empregador traga esse tipo de oportunidade. “Ao mesmo tempo, os currículos universitários precisam ser revistos e adaptados a essa realidade. O Brasil não forma engenheiros suficientes e, de modo geral, estamos muito atrasados na agenda de qualificação”, observa.
Os trabalhadores também querem flexibilidade (76%), preferindo jornadas remotas ou híbridas; e ambientes diversos e inclusivos (63%), em empresas com políticas claras para isso. Esse cenário emoldura a lista de tendências entendidas como as mais transformadoras do mercado de trabalho até 2030. A ampliação do acesso digital é vista como uma das principais por 60% dos respondentes, principalmente em IA e processamento de informações (86%), robótica e automação (58%) e geração, armazenamento e distribuição de energia (41%).
Em particular, a IA Generativa tem apresentado um rápido crescimento, impulsionado tanto pelo aumento dos investimentos quanto pela adoção em diversos setores da economia, com destaque para serviços financeiros, consultoria e educacional. Esse avanço foi acompanhado pelo desenvolvimento de infraestrutura tecnológica, como servidores e usinas de energia, para atender à crescente demanda.
A perspectiva para o panorama econômico global a partir de 2025 é marcada por um otimismo cauteloso com incertezas persistentes. Apesar da desaceleração da inflação e da adoção de políticas monetárias mais flexíveis, as empresas identificam o aumento do custo de vida (50% dos entrevistados) e crescimento econômico mais lento (42%) como pressões importantes sobre o futuro do trabalho.
Além disso, 34% dos empregadores consideram o aumento das tensões geoeconômicas um risco para o comércio e as cadeias de suprimento globais, devido à imposição de restrições comerciais e de investimentos.
A posse de Donald Trump como presidente eleito dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 2025, pode fazer com que as tensões geoeconômicas se acirrem e coloquem as empresas sob um estado de alerta ainda mais forte.
O mesmo pode acontecer com as políticas ESG e adaptações às mudanças climáticas dentro das companhias. O relatório atual mostra que a transição verde segue como uma prioridade para muitas organizações, com 47% dos entrevistados prevendo o aumento dos esforços e investimentos para redução das emissões de carbono como um fator de transformação.
Além disso, 41% dos empregadores esperam que o aumento das ações para adaptação às mudanças climáticas promova mudanças organizacionais significativas. Essas duas tendências têm impulsionado uma demanda crescente por “empregos verdes”, aqueles ligados à sustentabilidade e ao meio ambiente, evidenciando a necessidade de habilidades específicas em práticas sustentáveis.
“A pesquisa mostra que o ESG é importante, porém, precisamos trazer a avaliação da materialidade, do risco, e aí está o problema. Empregadores e trabalhadores estão dizendo que é relevante, que existe um problema com o planeta, mas se a gente não traz a materialidade econômica, financeira, isso vai ficar no discurso. E é claro que considerando os efeitos geopolíticos, todos sabemos que a depender de quem está com a caneta para assinar, isso vai impactar na tomada de decisão dos grandes fundos. Estamos vivendo numa polaridade, e precisamos entender o tamanho do desafio e mensurar o benefício dessa agenda”, pontua.
Tecnologia deve criar mais postos de trabalho no futuro
Segundo o estudo, é esperado que a criação e a substituição de empregos devido a estas tendências representem um total de 22% dos empregos formais atuais, com a criação de 170 milhões de novos postos de trabalho, o que representa 14% do total das vagas atuais. Esse crescimento deve ser compensado pela substituição de 92 milhões dos empregos da atualidade (8% dos empregos atuais), resultando em um crescimento de 78 milhões de empregos até 2030 (7% dos empregos atuais).
Nesse sentido, o estudo identifica uma série de empregos tecnológicos em crescimento acelerado, destacando os especialistas em Big Data, na própria IA e aprendizado de máquina, como aqueles com rápida adoção, enquanto funções administrativas, secretariais e operacionais podem ser substituídos por tecnologias digitais.
Funções com crescimento mais rápido:
- Especialistas em Big Data.
- Engenheiros de Fintech.
- Especialistas em IA e Machine Learning.
- Desenvolvedores de Software e Aplicações.
- Especialistas em Gestão de Segurança.
- Especialistas em Armazenamento de Dados.
- Especialistas em Veículos Elétricos e Autônomos.
- Designers de Interface e Experiência do Usuário (UI e UX).
- Especialistas em Internet das Coisas (IoT).
- Motoristas de Serviços de Entrega.
- Analistas e cientistas de Dados.
- Engenheiros Ambientais.
Funções com declínio mais rápido:
- Funcionários de serviços postais.
- Caixas bancários e cargos relacionados.
- Operadores de entrada de dados.
- Caixas e atendentes.
- Assistentes administrativos e secretárias executivas.
- Trabalhadores de impressão e cargos relacionados.
- Contadores, auxiliares de contabilidade e de folha de pagamento.
- Atendentes e condutores de transporte.
- Assistentes de registro de materiais e controle de estoque.
- Vendedores porta a porta, vendedores de jornal, ambulantes e cargos relacionados.
Cerca de 40% das habilidades existentes deverão ser transformadas ou tornarem-se obsoletas entre 2025 e 2030, refletindo uma desaceleração na “instabilidade de habilidades” observada em relatórios anteriores. As habilidades mais demandadas incluem pensamento analítico, resiliência, flexibilidade, agilidade, liderança e influência social, essenciais para resolver problemas cada vez mais complexos enfrentados pelas companhias, exigindo que os trabalhadores se adaptem rapidamente a novas condições de mercado.
No contexto de liderança e influência social, habilidades de gestão de pessoas estão se tornando cada vez mais importantes. Entre as principais habilidades exigidas estão:
- Pensamento analítico (69%).
- Resiliência, flexibilidade e agilidade (67%).
- Liderança e influência social (61%).
- Pensamento criativo (57%).
- Motivação e autoconhecimento (52%).
- Alfabetização tecnológica (51%).
- Empatia e escuta ativa (50%).
- Curiosidade e aprendizado contínuo (50%).
- Gestão de talentos (47%).
- Orientação para o serviço e atendimento ao cliente (47%).
- IA e Big Data (45%).
Futuro do trabalho no Brasil
No Brasil, a questão da qualificação da mão de obra se radicaliza por falhas históricas na formação básica. Segundo a pesquisa “Futuro do Trabalho”, 37% das habilidades dos trabalhadores brasileiros irão mudar, com quase 9 em cada 10 empresas no País planejando aprimorar as habilidades da sua força de trabalho nos próximos cinco anos, com foco em IA, Big Data, pensamento crítico, alfabetização tecnológica e lógica geral. Nesse cenário, 58% das empresas esperam recrutar funcionários com novas habilidades e 48% planejam transitar funcionários de funções em declínio para funções em crescimento.
De forma geral, a gestão de pessoas deve assumir uma agenda com maior protagonismo no contexto brasileiro e o documento traz algumas recomendações:
Incluir a pauta sobre gestão de pessoas na agenda da diretoria executiva e conselhos das organizações brasileiras, buscando alinhar o perfil dos profissionais ao contexto tecnológico e desafios estratégicos vigentes.
“É engraçado que a gente continue com a mente aqui no Brasil de não desenvolver, mas sim de contratar um profissional pronto. No curto prazo isso pode ser positivo, mas, no longo prazo, não é sustentável. Quando a gente olha para o mercado de tecnologia no Brasil, não temos empresas de tecnologia made in Brazil. Na verdade, somos um grande fornecedor de HH – homem-hora, para prestar serviços para grandes empresas de tecnologia em todo o mundo. Então, se quisermos ser um País que cresça muito, temos que formar gente”, destaca o diretor do Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da FDC.
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