Negócio pequeno, pensamento grande
Patrícia Boson*
Em uma entrevista (Folha SP, 23/04) Paul Polman, ex-CEO da Unilever e referência mundial em ESG (sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa, do inglês Environmental, Social and Governance), dentre várias constatações e ideias, afirma que nosso País está atrasado em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e que o Brasil não só precisa, como tem todas as condições de desenvolver e implantar um “Green New Deal” para alavancar o PIB. Ao lê-la, me lembrei de um fato do meu cotidiano, que reflete como pode ser complexa e longa, portanto, de início imediato, essa caminhada.
Frequentadora de um “sacolão”, que fornece água de coco e sucos naturais engarrafados, garrafas plásticas, todos fresquíssimos, e sabedora de quão deliciosos e práticos (especialmente considerando nosso corrido cotidiano) são esses produtos, portanto, sucesso de vendas, perguntei ao gerente por que não promoviam uma ação de retorno ou melhor destinação dessas embalagens. Um lugar apropriado de coleta, ou um desconto no produto para quem levar a embalagem, ou outra modelagem que tivesse o mesmo propósito. A resposta, imediatista e simples, no popular, curta e grossa, foi: “essas embalagens têm pouco valor financeiro para aquisição, e o espaço e gestão do que fosse aqui destinado nos traria um custo que não compensa”.
Não compensa para quem “cara pálida”?
O fato é prova cabal do que Paul Polman afirma. Estamos mesmo muito distantes dos objetivos sustentáveis, e ainda, retrata o fundamento que a sua entrevista se baseia. Ou seja, o quão modelos e instrumentos econômicos são, ou podem ser, de fato a resposta e o caminho mais curto para uma maior sustentabilidade.
Sim, a informação, sensibilização e educação são necessárias também. Não menosprezo essa questão como modelo e instrumento cruciais. A insensibilidade de um gerente de um estabelecimento comercial, porte e local privilegiados, no tema, assusta. Não ter uma mínima noção do tamanho de sua responsabilidade edas consequências ambientais, como gerador, na gestão desse tipo de resíduo em sua comunidade, em pleno século XXI, parece inconcebível. Não saber dimensionar uma recompensa em sua ação positiva na destinação das garrafas plásticas, além do retorno financeiro imediato e direto ao seu negócio, ou do seu patrão, após 13 anos da Política Nacional de Resíduo Sólido, Lei nº 12.305/2010, na qual a responsabilidade compartilhada é princípio, indica um lapso assustador e a necessidade de campanhas educativas mais robustas.
Mas, se o tempo é curto, e é, 2030, ano para o alcance das metas dos ODS, está chegando, instrumentos econômicos (artigos 42 ao 46 da mencionada Lei 12.304) para que o gerente de imediato veja retorno, alguns já pensados e aplicados, como os acordos setoriais, precisam ser repaginados e ampliados.
Paul Polman em sua entrevista sobre o Brasil diz ainda: “Muitas grandes empresas do setor privado querem fazer parte da solução. Estávamos conversando (com o Ministro Haddad) sobre como capitalizar isso e como compartilhar um pouco dessa energia para acelerar a agenda”.
Pois bem, considerando que as pequenas e médias empresas respondem por 99% dos empreendimentos ativos do País, um caminho para as grandes empresas acelerarem essa agenda dever ser o da gestão, portanto da responsabilização, da cadeia de fornecedores. Se elas fizerem uma gestão sustentável, minimamente exigente para a agenda de ESG, de seus fornecedores, ao ponto de não abastecerem seus restaurantes e cantinas em “sacolões” que não comprovem um mínimo de responsabilidade sobre os resíduos que geram, tais como as garrafas plásticas, certamente os respectivos gerentes iriam entender e agir; e eu, não ouviria tão decepcionante resposta. Certamente inovações tecnológicas de gestão iriam surgir e com elas novos empregos e renda. Certamente também, um caminhojusto, equânime e de grande alcance, para a alavancagem do PIB nacional.
Se o negócio é ser pequeno o caminho é pensar grande.
*Coordenadora da Comissão Técnica de Recursos Hídricos e Saneamento da SME
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