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Negócios de impacto social sucumbiram?

Negócios de impacto social sucumbiram?
Mariana Fonseca (esquerda) e Livia Hollerbach, empreendedoras à frente da Pipe.Social | Crédito: Divulgação / Pipe.Social

Causar impacto positivo em uma comunidade. Este é o principal objetivo dos negócios de impacto social que buscam promover efeitos socioambientais positivos através do próprio core business do empreendimento. Ou seja, a atividade principal deve beneficiar diretamente pessoas com faixa de renda mais baixa, as chamadas classes C, D e E. Neste tipo de negócio, viabilidade econômica e preocupação social e ambiental andam juntos, possuem a mesma importância e fazem parte do mesmo plano de negócios.

A definição é do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que ainda destaca que, na prática, se configuram como uma organização de várias naturezas jurídicas que opera como negócio, orientando-se pela lei da oferta e demanda e dedicando-se a conhecer seu público, oportunidades e riscos, e utilizando mecanismos de mercado para atingir seus propósitos sociais.

Como um negócio tradicional, deve gerar suas próprias receitas a partir da venda de produtos e/ou serviços. Na prática, os negócios de impacto social mostram que não há conflito entre ambição social e econômica.

Talvez pela própria natureza do negócio, estas empresas tenham sido menos impactadas pela pandemia de Covid-19, é o que mostra a terceira edição do Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental – maior pesquisa nacional do mercado de impacto.

Segundo o levantamento, a dificuldade de se mapear a taxa de mortalidade das empresas do ecossistema indica que alguns empreendedores encerraram as atividades no ano passado. Por outro lado, há uma surpresa no número de negócios que desenvolveram novas soluções para as demandas do contexto da crise sanitária, que funcionou como um divisor de águas do negócio: enquanto 6% das empresas sucumbiram à crise, 52% dos negócios a vivenciaram como uma oportunidade.

O mapeamento realizado pela Pipe.Labo inclui análises evolutivas e desafios do setor de 1.300 empresas; evolução do perfil do empreendedor e do negócio em cada fase da jornada; demandas não atendidas e ajudas pedidas pelo empreendedor; acesso a recursos financeiros e não financeiros; tecnologias emergentes e a usabilidade para alcançar melhores resultados; visão de futuro e aumento de recursos para o setor; cases de negócios de impacto socioambiental por verticais e uma radiografia completa do ecossistema.

Conforme uma das coordenadoras da pesquisa, Lívia Hollerbach, os números evidenciam startups que encontraram oportunidades na crise, empreenderam, criaram redes de apoio, aproveitaram o movimento para pivotar seus negócios, digitalizaram os canais e até mudaram o modelo de negócios de b2c para b2b. “Todos são negócios que estão olhando para problemáticas sociais e ambientais, a partir de novos contornos”, comentou.

Ela também destacou que 30% dos negócios de impacto socioambiental registraram queda nas vendas e 7% tiveram as faixas de faturamento reduzidas. A combinação das informações indica que as quedas estão sendo pequenas, sem alteração nas faixas.

“Uma hipótese é que isso ocorreu em um período do ano, e a recuperação em outro, na sequência; ou, ainda, que se trata de expectativas de crescimento de vendas que foram frustradas pelo cenário. Vinte e cinco por cento dos negócios apontaram a dificuldade de acesso ao capital, fenômeno que já havíamos observado em outros estudos; não podemos esquecer dos desafios corriqueiros para financiar os negócios de impacto, algo que, provavelmente, agravou-se na pandemia”, completou.

Ainda segundo o estudo, a medida mais adotada pelos empreendedores foi a de implementar novas ações de marketing e promoção do produto/serviço (25%). Em conjunto com a abertura de novos canais de venda – índice de 20%, terceira medida mais mencionada –, os dados indicam que as mudanças impostas pelos distanciamentos na forma de se vender, que beneficiaram varejistas on-line, também parecem ter ressoado entre os negócios de impacto, que buscaram inovar na forma de chegar aos clientes. Em seguida, a redução de contas e/ou despesas administrativas, com índice de 25%, e as mudanças nos planos de expansão (18%) apontam para a maturidade dos negócios.

Negócios de impacto social em 2021

O Mapa mostrou, por fim, que 80% dos empreendedores esperam crescer em 2021 – o que para Lívia Hollerbach revela, sobretudo, o espírito do profissional: confiante em superar mais um desafio e fazer crescer seus projetos. A resposta mais escolhida sobre os impactos da pandemia para os negócios aponta para a mesma direção: 52% disseram ter vivido a crise como uma oportunidade de desenvolver e lançar produtos e serviços para alcançar novos mercados.

Segundo ela, existe um movimento muito forte no Brasil e no mundo de aquecimento do setor de negócios de impacto social. A agenda ambiental vem crescendo muito e o Brasil, sobretudo, possui elevada potência verde com florestas e fontes diversas de energias renováveis. Dentro desse grande guarda-chuva de empreendedorismo é possível olhar para o impacto socioambiental.

“As grandes multinacionais encabeçam tendências do mercado, por isso é tão importante quando elas se preocupam com o impacto junto aos stakeholders e na sociedade. Quem não se posicionar junto a essa corrente vai ficar de fora. A começar pelas agendas ESG, que mostram que grandes tendências de mercado vão para onde o dinheiro está indo. Hoje os investimentos priorizam decisões que vão gerar menos impacto negativos, pois o consumidor está mais ativo e suas decisões de consumo conversam com esse tipo de ação”, concluiu.

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