Negócios de impacto socioambiental: Resultados financeiros e sustentabilidade

Conceitualmente, negócios de impacto socioambiental são aqueles que têm como atividade principal o desenvolvimento de soluções – produtos, serviços e/ou modelo de negócio – para problemas sociais e ambientais. Esse tipo de negócio segue a lógica de mercado: buscam o lucro e operam em um modelo financeiramente sustentável.

Ponta de lança de uma nova economia mais responsável, preocupada com a produção e consumo conscientes e capaz de regenerar a degradação causada pelo sistema produtivo que empregamos ainda hoje, os negócios de impacto são, antes de tudo, negócios. “Não adianta ser um negócio verde se o resultado no fim do ano for vermelho”, pontua a gerente Nacional de Inovação e Negócios de Impacto da Caixa Econômica, Thayssa Gelenske.
A gestora esteve no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTec) para participar do evento Sexta no Parque, que teve como tema “Negócios de Impacto Socioambiental”. O evento discutiu as diferentes áreas e oportunidades de impacto socioambiental apresentando investimentos, ações governamentais e cases de sucesso.
Para a head de Mobilização e Relações Institucionais da Aliança pelo Impacto, Vitória Junqueira, todo negócio e todo investimento causa impacto, seja ele positivo ou negativo. O que a nova economia pede é que os resultados sejam positivos, mensuráveis e verificáveis.
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“Negócios de impacto socioambiental já existem no nosso País. Existe demanda e agora precisamos de novos modelos de negócios para solucionar esses problemas. Hoje mapeamos essas iniciativas e o sistema está amadurecendo. 58% dessas empresas, porém, estão na região Sudeste. Precisamos descentralizar o impacto. Os investimentos de impacto são provenientes de recursos públicos e/ou privados que podem ser direcionados para organizações, negócios ou fundos comprometidos em gerar impacto socioambiental positivo mensurável e com rentabilidade financeira”, explica Vitória Junqueira.
A Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto articula sua rede de relações a fim de atrair investidores, empreendedores, governos e parceiros que façam acontecer modelos de negócios rentáveis que, ao mesmo tempo, resolvam problemas sociais ou ambientais e, com isso, mudem a mentalidade sobre como gerenciar recursos e buscar soluções para as necessidades da sociedade.
A questão do financiamento é uma das grandes dores dos atores envolvidos no sistema. Lentamente, instituições financeiras, bancos públicos e fundos de investimento estão avançando na agenda ESG e enxergando que, mais do que empresas responsáveis, é importante financiar e investir em negócios que tenham no seu core business o impacto socioambiental.
“A pauta da sustentabilidade não é mais complementar, ela precisa ser o fim dos nossos processos de negócios. Hoje existem linhas de fomento e fundos para negócios de impacto e também estratégias de venture capital e outras formas de investimento para empresas e startups que queiram trabalhar com esse tema”, destaca a gerente Nacional de Inovação e Negócios de Impacto da Caixa Econômica.
O diretor-executivo da Fundep Participações (Fundepar), Carlos Lopes, apresentou o Arapy: fundo de investimento em negócios de impacto social. O novo fundo da Fundepar é destinado a empresas que tenham proposta de valor focada na solução de problemas relacionados a pelo menos um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), preconizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2015.
Primeira empresa de investimentos criada por uma Fundação de Apoio no Brasil, a Fundepar é inspirada em modelos de sucesso de importantes universidades ao redor do mundo. A empresa identifica e desenvolve negócios em estágios iniciais, preferencialmente de base acadêmica, com alto potencial de crescimento e impacto para a sociedade.
Os negócios candidatos ao fundo são avaliados nas seguintes dimensões:
- Constituição e capacidade do time de empreendedores;
- Impacto socioambiental positivo gerado pela startup;
- Modelo de negócios que deve demonstrar viabilidade financeira e ser economicamente rentável.
“O modelo de desenvolvimento econômico que utilizamos até aqui só levou à degradação dos recursos e do planeta. Trabalhamos com a ideia do empreendedorismo como opção de carreira mas, com o tempo, o empreendedor se converteu em um operador dos acionistas ou investidores. Hoje entendemos que o empreendedor deve ser um agente de mudança e fomentador de transformação social. Isso reflete na forma como o negócio é feito”, pondera Lopes.
Dados do Segundo Global Impact Investing Network (GIIN) estimam que o valor do mercado de investimentos de impacto, em 2021, é de US$ 1,164 trilhão globalmente. E, de acordo com o relatório “Investimentos de Impacto no Brasil – 2021”, do Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), de R$ 18,7 bilhões no Brasil. Nos dois casos isso significa menos de 0,5% do volume de capital investido no mesmo período.
“O mercado de investimento tradicional é avesso ao risco. O que importa é alcançar o múltiplo do capital. Os investidores esperam negócios maduros e os empreendedores precisam de investidores para amadurecerem os negócios. Por isso precisamos investir em ativos nos quais esse mercado não investe, aumentando, assim, a sobrevida das boas ideias até que as outras etapas do mercado alcancem aquele negócio”, analisa o diretor-executivo da Fundepar.
Empresas disseminam impacto social por meio da literatura
O Escritor para o Futuro (EPF) é um programa de impacto na educação voltado para empresas que buscam alinhar os seus objetivos corporativos com a construção de um futuro mais justo e sustentável para crianças e jovens de escolas públicas das comunidades onde atuam através dos ODS.
Segundo o cofundador e Gestor de Projetos Educacionais da EPF, André Belisário, muitas vezes ainda é preciso explicar que a plataforma não é uma ONG, mas sim um negócio com fins lucrativos.
“O conceito de negócio de impacto ainda não é tão difundido como deveria, mas essa realidade está mudando aos poucos. No EPF temos um plano pedagógico para cada ODS e a empresa escolhe aquele com o que quer atuar. A partir daí capacitamos os professores para que eles trabalhem com os alunos o tema e façam a produção dos textos e das ilustrações. Cada aluno ou conjunto de alunos pode escrever um livro que é editado com as ilustrações que eles mesmos fizeram. O trabalho é entregue em forma de ebook e também impresso. Assim o professor trabalha a produção de texto e esse tema de maneira diferente e a empresa leva para a sociedade assuntos de interesse comunitário e que dizem respeito à companhia por meio das crianças, que são ótimos agentes educacionais das famílias”, afirma Belisário.
Sediada em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), entre 2018 e 2023, a EPF já trabalhou com 17 mil alunos, em nove estados; atendendo 103 escolas, em 49 cidades. A meta é dobrar esses números em 2024.
Além do financiamento de iniciativas como o EPF, outro ponto crítico na elaboração de um ecossistema capaz de gerar negócios de impacto socioambiental é a construção de um arcabouço legal que fomente e integre os atores sociais para essa construção.
Durante a Sexta no Parque, a coordenadora de Economia Verde do Departamento de Novas Economias do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Giselle Sakamoto Souza Vianna, apresentou a Estratégia Nacional de Economia de Impacto (Enimpacto) – articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil com o objetivo de promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e negócios de impacto.
“As formas tradicionais de financiamento – governo e filantropia – não têm recursos suficientes para resolver os problemas socioambientais. A alternativa é criar novas economias. Talvez seja mais adequado falar em economias do futuro porque faz parte desse conjunto também reconhecer práticas tradicionais que saibam lidar melhor com o meio ambiente do que o que fazemos atualmente. Os negócios de impacto têm papel fundamental. A partir do decreto 11.646/2023 (que instituiu a Estratégia Nacional de Economia de Impacto e o Comitê de Economia de Impacto) queremos que os empreendedores de impacto tenham condições de testar suas ideias e se desenvolver”, avalia Giselle Vianna.
Os negócios de impacto socioambiental estão em linha com o trabalho desenvolvido pelo Movimento Minas 2032 – pela transformação global (MM2032). Liderado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o MM2032 propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos ODS.
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