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Neoindustrialização brasileira quer empresas disruptivas

Tema foi abordado na 1ª edição do “Sexta no Parque”
Neoindustrialização brasileira quer empresas disruptivas
O Brasil volta, agora, a ter uma política industrial, afirmou o CEO do BH-Tec, Marco Crocco | Crédito: Virgínia Muniz /BH-TEC

A pandemia revelou que a desindustrialização do Ocidente – incluindo o Brasil -, com a transferências das indústrias para a Ásia, especialmente a China, nas últimas décadas, precisava ser revista. O fechamento dos portos daquela parte do mundo, no início de 2020, e a consequente quebra das cadeias de suprimentos, agravaram a crise sanitária global e gera, ainda hoje, reflexos sobre a economia do planeta.

De lá para cá, muito tem se falado na necessidade de uma reindustrialização. O que se discute agora é o modelo dessa volta – ou primeira instalação – das indústrias nos territórios. No Brasil, o velho modelo de substituição de importações é bastante questionado. A partir da instituição da nova política industrial nacional (Nova Indústria Brasil – NIB), em janeiro de 2024, surge a neoindustrialização.

O tema foi abordado na primeira edição do “Sexta no Parque”, evento promovido pelo Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), com a presença da secretária-executiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), Verena Hitner Barros, e do chefe de Gabinete da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Fernando Pelegrino, além do CEO do BH-Tec, Marco Crocco.

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A NIB vai impulsionar o desenvolvimento nacional até 2033. Serão R$ 300 bilhões para financiamentos destinados à nova política industrial até 2026. Além dos R$ 106 bilhões anunciados em julho passado pelo CNDI, outros R$ 194 bilhões foram incorporados provenientes de outras fontes de recursos redirecionadas para dar suporte ao financiamento das prioridades da NIB.

“A neoindustrialzação deve ser pensada sobre uma nova base, diferente daquela que usamos quando as indústrias chegaram para substituir importações. Nós sabemos que no Brasil os efeitos da globalização pioraram a vida das pessoas. Precisamos entender o setor industrial a partir da nossa lógica de desenvolvimento. A indústria é um meio e não um fim em si”, explicou Verena Barros.

A nova política tem seis missões relacionadas à ampliação da autonomia, à transição ecológica e à modernização do parque industrial brasileiro. Entre os setores que receberão atenção, estão a agroindústria, a saúde, a infraestrutura urbana, a tecnologia da informação, a bioeconomia e a defesa.

O objetivo da neoindustrialização é desenvolver uma indústria capaz de competir globalmente. E, para isso, segundo a gestora, é necessário adensar as cadeias produtivas a partir de um esforço integrado do poder público, criando políticas públicas de fomento e um ambiente de negócios seguro e perene; a iniciativa privada, investindo; academia com a geração de conhecimento; e toda a sociedade civil.

“A responsabilidade não é só do estado. Ele tem o papel fundamental de organizar, dar condições e oportunidades para quem quer e pode produzir. Estamos passando por uma mudança no padrão tecnológico e o processo de desindustrialização no mundo é fato. A NIB traz o tema da inovação e da conexão da tríplice hélice da inovação como uma das prioridades a serem avançadas na construção dessa nova indústria que é mais verde, mais madura e inovadora”, destaca.

Os recursos (R$ 300 bilhões até 2026) estão divididos em: crédito R$ 277 bilhões; não reembolsáveis: R$ 21 bilhões; equity (investimentos na bolsa de valores: R$ 8 bilhões. Do total, R$ 77,5 bilhões (28%) foram aprovados em 2023.

Levar o assunto da neoindustrialização para dentro do campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) destaca a importância da academia para a construção de uma indústria brasileira mais competitiva.

“Esse evento traz o assunto para todo o ecossistema de inovação de Minas Gerais. O Brasil volta, agora, a ter uma política industrial e ela vem com uma nova característica: não reproduz setores nos quais fomos altamente competitivos. A neoindustrialização acontece a partir de setores de ponta como a indústria 4.0, saúde e transição verde, por exemplo. Para que isso aconteça, será necessário um desenvolvimento tecnológico muito grande. A UFMG é um local propício para o desenvolvimento de conhecimento e o BH-Tec é onde a gente faz a conexão desse conhecimento com a indústria”, afirmou Crocco.

A neoindustrialização é vista, também, como uma oportunidade para interiorizar o desenvolvimento econômico e social, promovendo a qualificação da mão de obra e oportunizando empregos de melhor qualidade nos territórios.

Fernando Pelegrino | Crédito: Virgínia Muniz / BH-TEC

“O Brasil quer se relacionar com o mudo globalizado, participamos só com 1,2% do comércio internacional, sendo o nono maior PIB. Precisamos expandir o nosso comércio exterior com uma indústria que faça produtos de alto valor agregado. Não é só reindustrialização, é uma neoindustrialização disruptiva, completamente nova, com base em tecnologia e conhecimento. Temos condições de desconcentrar o desenvolvimento porque essa é uma indústria plural. O mundo é de quem detém o conhecimento aplicado, seja na área da saúde, da energia, do transporte, da gestão das cidades, entre outros. Vejo Minas Gerais como um lugar muito propício para essa nova indústria baseada no insumo do conhecimento, que é o que remunera o País”, avaliou Pelegrino.

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