Onfly recupera força na era pós-pandemia

“Naquele dia ninguém saiu de casa, ninguém. O empregado não saiu pro seu trabalho, pois sabia que o patrão também não estava lá. Dona de casa não saiu pra comprar pão, pois sabia que o padeiro também não estava lá”.
Nem os premonitórios versos de Raul Seixas seriam capazes de definir ou explicar o sentimento que se abateria sobre o Brasil em março de 2020.
A chegada da pandemia dias antes e as medidas de isolamento social impostas em meados daquele mês em Belo Horizonte fizeram com que a música do eterno Maluco Beleza soasse como uma sentença de morte na Onfly.
Mas passado quase três anos, a startup, sediada em Belo Horizonte e especializada em desenvolver soluções para viagens e despesas corporativas, ostenta números invejáveis: um aumento de 25 vezes nos últimos quatro anos – apenas no ano de 2022, o aumento foi de 4,5 vezes, se comparado a 2021.
Pela sua capacidade de reinvenção e crescer em um mercado que foi “abaixo de zero”, nas palavras do seu próprio fundador, Marcelo Linhares, a Onfly está na série Mineiridade de hoje.
“A Onfly foi criada em 2018 e aquele início de 2020 era o nosso melhor momento, estávamos ganhando musculatura. Mas em 1º de março começou o cancelamento das passagens. Fomos a um ‘crescimento negativo’ em dois meses. Fizemos um plano para nos segurar por oito meses. Em abril tivemos que desligar todo mundo por zoom. Foi um dos piores momentos da minha vida. Seguramos o time de tecnologia. Pagamos os fornecedores e ficamos no zero a zero. Não tinha estratégia, era uma questão de sobrevivência. Em junho de 2020 vimos que algumas empresas precisavam viajar, como engenharia e saúde, por exemplo. Era a nossa chance. Voltamos a fazer algumas contratações. Eram empresas tradicionais que atendíamos pouco. Voltamos enquanto os concorrentes estavam parados”, relembra Linhares.
E foi bancando decisões difíceis e resistindo às ofertas de compra da empresa que a startup se reergueu em um mercado até aquele momento pouco profissionalizado e que não indicava uma recuperação rápida. O sucesso das reuniões e eventos via plataforma de vídeo e a discussão sobre a responsabilização das empresas sobre o perigo de contaminação dos colaboradores em viagem, fizeram com que as companhias recuassem e que a volta do turismo de lazer acontecesse muito antes e com muito mais força do que o turismo de negócios e corporativo.
“Tinha o movimento ‘não demita’, mas não tinha o ‘não cancele sua viagem’. Preferimos demitir e dar conta de pagar todo mundo. Tomar esse tipo de decisão não é fácil, mas isso tem um custo. Muita gente que protelou as demissões, depois não conseguiu pagar. Ajudamos todos a se recolocar no mercado. Todo mundo achava que o corporativo voltaria primeiro, mas foi ao contrário. O risco da doença colocava medo nas empresas. Tivemos uma oferta de compra da empresa no esquema ‘vem pra cá, depois a gente vê o que faz’. Mas estávamos convictos que voltaríamos”, explica.
Nova era
Para 2023, as expectativas são de seguir crescendo e expandindo tanto a solução tecnológica, o inventário de parceiros plugados na plataforma, como também o número de pessoas envolvidas na operação. A meta para 2023 é crescer 100%. Atualmente, a startup tem mais de 720 clientes e 12.800 colaboradores impactados.
Para garantir que o ritmo de crescimento se mantenha, a aposta do gestor é investir em pessoas para manter a qualidade do atendimento. E, do ponto de vista da tecnologia, sempre lançar novas funcionalidades e produtos.
O próximo já está agendado para o próximo semestre: a viagem como benefício para os colaboradores das empresas parceiras. Assim, eles vão poder viajar a lazer aproveitando a estrutura da Onfly dentro do pacote de benefícios oferecido pela empresa empregadora.
“No longo prazo, a tecnologia é uma commodity, mas o mato é muito alto. Nossos concorrentes ainda estão construindo tecnologias iguais às nossas. Então é manter a disciplina, aliando tecnologia e calor humano. Bom atendimento, bom serviço é sempre soberano. E continuamente investir em tecnologia para ter um diferencial. Estamos desenvolvendo novos produtos para o mercado endereçado. Olhando para o corporativo, vamos fazer um produto que vai permitir que os colaboradores viajem mais. Temos convicção que quem viaja mais, tem mais cultura e trabalha melhor. A empresa vai colocar como benefício. Todo esse crescimento que conseguimos é por pessoas boas que temos. O que temos feito é nos aproximarmos das universidades. Hoje não tenho problemas com vagas abertas além do tempo. Adequamos a nossa política de salários e benefícios e flexibilizamos a jornada. Tudo para ter aqui os que querem ficar”, completa o CEO da Onfly.
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