Após 80 anos, ONU segue essencial, mas distante de seus ideais
Criada em 1945, no cenário de reconstrução do pós-guerra, a Organização das Nações Unidas (ONU) reúne hoje 193 países em torno do propósito de promover a cooperação internacional e preservar a paz. Guiada pelos princípios da Carta das Nações Unidas, a instituição se tornou o principal fórum diplomático do planeta, mediando negociações e articulando ações conjuntas entre governos.
Com atuação que abrange temas como segurança global, direitos humanos, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável, a ONU busca construir consensos em um mundo cada vez mais fragmentado. Por meio de seus conselhos e assembleias, oferece espaço para o diálogo e tenta manter viva a ideia de que desafios comuns exigem respostas coletivas.
De acordo com o professor, chief purpose officer (CPO) da Memo Brasil Consultoria e diretor executivo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE Brasil), Lúcio Flávio Machado, criada no contexto do pós-guerra, a ONU pouco evoluiu no que diz respeito à representatividade e, por isso, deixa a desejar em sua atuação em questões urgentes que atingem grande parte da população do planeta, como a insegurança alimentar, as mudanças climáticas e os conflitos entre e dentro dos países.
“A ONU foi criada para dar uma resposta ao mundo na construção da paz e na preocupação com os direitos humanos. Para isso, era preciso um propósito, por assim dizer, utópico: a cooperação global. Em termos práticos, ela pouco evoluiu nesse sentido, basta observarmos a fome que segue assolando boa parte do continente africano, por exemplo. Ainda assim, é um organismo imprescindível por ser capaz de lançar discussões fundamentais para o futuro da humanidade”, explica Machado.
Os principais órgãos das Nações Unidas são a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado das Nações Unidas, todos estabelecidos em 1945.
A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo e tem como objetivo definir as políticas da Organização. Já o Conselho de Segurança é o principal responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais. É composto por 15 membros, sendo cinco permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia), com poder de veto, e 10 não permanentes, eleitos para mandato de dois anos. Nos termos da Carta (Carta fundadora ou Carta das Nações Unidas), todos os Estados-membros são obrigados a cumprir as decisões do Conselho.
O Conselho Econômico e Social (Ecosoc) é o principal órgão de coordenação, revisão e diálogo sobre políticas e recomendações relacionadas a questões econômicas, sociais e ambientais, bem como à implementação de metas de desenvolvimento acordadas internacionalmente. Já a função do Tribunal é resolver, de acordo com o direito internacional, os litígios jurídicos submetidos pelos Estados e emitir pareceres consultivos sobre questões jurídicas remetidas por órgãos e agências especializadas das Nações Unidas.
O sistema da ONU, também conhecido como “família das Nações Unidas”, é formado por programas, fundos e agências especializadas. Esses organismos são financiados inteiramente por contribuições voluntárias.
Entre os fundos e programas, destacam-se:
- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud): atua em quase 170 países com o objetivo de erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades e aumentar a resiliência. Como agência de desenvolvimento das Nações Unidas, desempenha papel fundamental ao ajudar os países a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
- Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat): dedica-se à promoção de cidades sustentáveis.
- Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef): tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, atender às suas necessidades e contribuir para o seu desenvolvimento.
Entre as principais agências especializadas da ONU estão:
- Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO): tem como objetivo a erradicação da fome e da pobreza. Seu lema, fiat panis, é uma expressão em latim que significa “haja pão”.
- Organização Internacional do Trabalho (OIT): é uma agência especializada nas questões do trabalho, especialmente no que se refere ao cumprimento das normas (convenções e recomendações) internacionais. Tem como missão promover oportunidades de acesso a um trabalho digno e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas. O trabalho digno é considerado condição fundamental para combater a pobreza e as desigualdades sociais.
- Fundo Monetário Internacional (FMI): é uma organização composta por 189 países que trabalha para promover a cooperação monetária global, garantir a estabilidade financeira, facilitar o comércio internacional, promover o emprego e o crescimento econômico sustentável e reduzir a pobreza em todo o mundo.
- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): tem como objetivo proteger locais históricos e culturais. Todos os anos, atualiza a lista de locais considerados tesouros insubstituíveis, que serão protegidos para os viajantes de hoje e para as gerações futuras.
- Organização Mundial da Saúde (OMS): é a autoridade diretora e coordenadora em saúde internacional dentro do sistema das Nações Unidas. Seu objetivo é assegurar o mais alto nível de saúde em todo o mundo.
- Banco Mundial: é uma instituição financeira internacional que concede empréstimos a países em desenvolvimento. É o maior e mais conhecido banco de desenvolvimento do mundo. Sua missão é erradicar a pobreza extrema e promover a prosperidade compartilhada.
“O papel da ONU é muito subjetivo e, de certa forma, um teatro com cartas marcadas. Ainda assim, consegue dar alguns recados quando, por exemplo, a Assembleia Geral se esvaziou durante o discurso do presidente de Israel, na última reunião. Onde a ONU chega mais perto de seu objetivo de cooperação global é por meio de suas agências, que estão mais próximas das pessoas. A crítica fica por conta de sua ação pouco proativa e sempre reativa aos problemas”, destaca o professor.
ODS e COP 30 fortalecem papel do Brasil na agenda climática mundial
Criados em 2015, como uma evolução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um apelo global à ação pela sustentabilidade, acabando com a pobreza, protegendo o meio ambiente e o clima e garantindo que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Divididos em 17 Objetivos, desdobrados em 169 metas, os ODS funcionam como um plano de ação global que, por meio de estratégias nacionais e locais de governos, empresas e sociedade civil, criam políticas e projetos alinhados aos objetivos. A ONU monitora o progresso de cada país e os ODS são guiados por cinco dimensões: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parceria.
“Os ODS e a Agenda 2030 são um grande passo e o que mais se aproxima da missão da ONU. O conceito de nação utilizado precisa ser revisto porque hoje qualquer negócio é global no sentido dos fornecedores e consumidores. E existem empresas que têm receitas maiores do que o PIB da maioria dos países e um número de empregados maior do que muitas populações. Então eu vejo que a atuação das empresas com estratégias ESG pode ser mais efetiva para os propósitos da ONU em termos de cooperação e de resultados que melhoram a vida das pessoas. No Brasil, se conseguíssemos que as pequenas e médias empresas, através dos ODS, tivessem maia acesso às políticas de desenvolvimento, daríamos um grande salto. O impacto social interno seria gigantesco e aí sim o Brasil teria essa representatividade em termos da ONU”, avalia o diretor-executivo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE Brasil).
A realização da 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro, é vista pela comunidade internacional como uma grande chance de promover a cooperação global em torno da adaptação às mudanças climáticas e, internamente, é interpretada como uma chance de aumentar a visibilidade e influência do Brasil entre os países dentro e fora da ONU.
“A COP 30, é óbvio, que tem o simbolismo de ser na Amazônia e isso é importante, mas não acho que isso vai retratar a realidade amazônica na sua complexidade. Ela só vai ter efeito a médio prazo se isso refletir o conhecimento da Amazônia”, defende o professor.
🟩 ONU – 80 anos de cooperação global
🌍 Fundação e Estrutura
📅 Ano: 1945
📍 Sede: Nova York (EUA)
🌐 Países-membros: 193
🎯 Propósito: Preservar a paz e promover a cooperação internacional
📜 Base: Carta das Nações Unidas
🏛️ Órgãos Principais
- Assembleia Geral – fórum deliberativo e político da ONU
- Conselho de Segurança – responsável pela paz e segurança internacionais
➤ 5 membros permanentes: China, EUA, França, Reino Unido e Rússia
➤ 10 rotativos eleitos por dois anos - Ecosoc – coordena políticas econômicas, sociais e ambientais
- Tribunal Internacional de Justiça – julga litígios entre Estados
- Secretariado – executa decisões e políticas da ONU
🧩 Agências e Programas
Pnud – combate à pobreza e desigualdade
ONU-Habitat – cidades sustentáveis
Unicef – direitos da criança
FAO – erradicação da fome
OIT – trabalho digno
FMI e Banco Mundial – estabilidade financeira e desenvolvimento
Unesco – patrimônio histórico e cultural
OMS – saúde global
♻️ Agenda Global
📘 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável):
Criados em 2015 – 17 objetivos e 169 metas
💡 Foco: erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir prosperidade
🕊️ Dimensões: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parceria
🌳 Próximos Marcos
🌎 COP 30 – Belém (PA)
🗓️ 10 a 21 de novembro de 2025
🔹 Evento deve reforçar o protagonismo do Brasil na agenda climática global
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