Agências ajudam a recolocar profissional sênior no mercado

O desafio na implementação de políticas de contratação de um profissional sênior inicia-se já no recrutamento, uma vez que as próprias agências de recursos humanos costumam atuar com jovens talentos. Tamanha a lacuna, que Minas Gerais não possui uma empresa especializada para o público. Já em São Paulo, há pelo menos três – número também nada expressivo, diante do tamanho do setor e das oportunidades no mercado de trabalho.
Uma delas é a Maturi. Fundada por Mórris Litvak, o empresário viu no exemplo de sua avó, que trabalhava aos 82 anos, um caminho para empreender e auxiliar na jornada profissional de pessoas 50+. Segundo ele, a empresa já auxiliou mais de 7 mil pessoas a se recolocarem diretamente e outros milhares de profissionais a encontrar novas oportunidades através do empreendedorismo, por meio dos cursos e eventos realizados pela Maturi. Ao todo, são mais de 200 mil cadastrados em todo o Brasil.
Para ele, o maior desafio no que diz respeito à contratação de profissionais 50+ e no incentivo da complementaridade de gerações é, muitas vezes, cultural. “Desfazer estereótipos e preconceitos enraizados leva tempo e exige esforços coordenados em treinamento, comunicação, práticas de RH e apoio da liderança. Além disso, somos poucos nesse nicho, possivelmente porque o etarismo também se reflete no mundo dos negócios. Quem realmente deseja adotar a iniciativa pode encontrar caminhos para fazê-lo, mas a falta de intermediários especializados pode tornar o processo mais difícil”, admite.

Ao mesmo tempo, o empresário reforça que além do benefício social e ético (cultura, diversidade e representatividade) de combater o etarismo, ter um time diverso etariamente também pode gerar benefícios tangíveis para as empresas. Isso inclui uma gama de habilidades, perspectivas e experiências (não só profissionais, mas de vida) que podem enriquecer a solução de problemas e a tomada de decisões, bem como o alto comprometimento e conhecimento do consumidor maduro.
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“A complementaridade entre gerações é extremamente importante. As diferentes gerações têm muito a aprender umas com as outras, e essa troca pode ser muito produtiva. Isso colabora para o desenvolvimento das empresas e das pessoas, e também tem um impacto significativo na economia da longevidade, um setor em crescimento”, explica.
E para as empresas que desejam iniciar a jornada, Litvak alerta: “A primeira coisa é mudar a mentalidade dentro da organização, através da educação sobre o tema. Depois, avaliar as políticas de RH e adaptá-las para serem mais inclusivas. Treinamentos e workshops podem ser muito úteis nesse processo”.
Empresas têm papel fundamental na transformação do mercado de trabalho, a partir da contratação de profissional sênior
E apesar da ausência de agências de recrutamento em Minas, no Estado já existem discussões latentes sobre o assunto e especialistas que podem ajudar empresas a entenderem seu papel nessa transformação e contribuição para um mercado de trabalho mais justo e uma sociedade igualitária.
Dani Barcellos é especialista em Etarismo, Inclusão 50+, Diversidade geracional e Economia da longevidade, além de professora universitária e mentora voluntária em Carreira e Inteligência Emocional. Para ela, este tipo de iniciativa permite com que as organizações contem com profissionais dotados de habilidades intrínsecas desenvolvidas com a maturidade, como adaptação, antifragilidade, inteligência emocional, paciência, jogo de cintura e facilidade para identificar oportunidades, por exemplo.
Além disso, a especialista cita aspectos ressaltados por empresas que possuem esses profissionais em seu quadro funcional. “Auxílio no desenvolvimento de profissionais das novas gerações; aumento do engajamento, da produtividade e criatividade; melhoria nas relações e no clima organizacional; melhoria na qualidade no atendimento às pessoas clientes; maior procura, fidelidade e melhor avaliação pela pessoa consumidora madura; menor rotatividade e absenteísmo e maior engajamento”, diz.

A estratégia, porém, não pode se limitar ao público 50+. Por isso, Dani Barcellos ressalta a importância da complementaridade de gerações. Segundo ela, quando a liderança está preparada para lidar com as diferentes faixas etárias e consegue valorizar e integrar as diferenças, focando na complementaridade de habilidades e competências, é possível gerar aprendizado intergeracional, com transferência de conhecimento. Ademais, pessoas com idades diversas fomentam o processo criativo, porque agregam ideias, abordagens, experiências e perspectivas que, combinadas entre si, trazem soluções diferentes e inovadoras.
Envelhecimento populacional
“E não dá para deixar de falar do envelhecimento populacional. O Brasil, como o mundo, está envelhecendo a passos largos. Hoje, temos quase 27% da população com mais de 50 anos, e a expectativa é de que tenhamos 57% da população economicamente ativa com mais de 45 anos em 2040. Se as empresas não tiverem essas pessoas, vão ficar com déficit de profissionais”, alerta.
O desafio, porém, está na desconstrução do etarismo. E, neste sentido, as organizações precisam fazer ações de educação e conscientização para desconstruir vieses e crenças estereotipadas sobre as pessoas ao envelhecerem. E a especialista alerta: “Não adianta somente contratar, tem que incluir e, para isso, há necessidade de muitas ações. Nem sempre as empresas conseguem fazer sozinhas”, explica.
Assim, ela indica que uma empresa que deseja adotar esse tipo de iniciativa deve contratar uma consultoria, pois trabalhar com diversidade etária e inclusão de pessoas 50+ é uma mudança cultural e precisa ser tratada como tal. “Precisa incluir ações de sensibilização e conscientização, quebra de estereótipos e preconceitos, mentorias, rodas de conversa, entrevistas internas, treinamento para as lideranças, criação de grupo de afinidade, censo e levantamento de oportunidades, dentre outras”, sugere.
Empresas do ramo de alimentação contratam idosas para apresentar alimentos natalinos em supermercados
A empresa mineira Top 10 Marketing e Promoção trabalha com diferentes demandas de contratação. A diretora Márcia Machado conta que o perfil varia de acordo com o produto e empresa contratante. Mas ressalta as qualidades de trabalhar com profissionais 50+. “Geralmente são pessoas mais comprometidas, não ficam toda hora pegando celular e estão sempre disponíveis. Se eu pudesse, contrataria só eles”, brinca.
A executiva cita vagas abertas neste período do ano para contratação de senhoras de mais idade. São 400 vagas para trabalhar com a exposição de aves de Natal. “É o público que consome esses produtos, que planeja a organiza as confraternizações familiares desta época do ano. Então, nada melhor que elas mesmas apresentem o produto”, exemplifica.
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