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Os quatro Cs da nova economia

Os quatro Cs da nova economia

“As organizações que sobreviverão ao século 21 serão aquelas legitimadas pela sociedade”. A frase tem sido dita pelo presidente da Fundação Dom Cabral, Antonio Batista da Silva Junior, em diferentes fóruns e eventos que participa para expressar a urgência que as lideranças empresariais terão que se ajustar para operar no mundo marcado por profundas transformações.

E, realmente, não há tempo a perder. Temos visto, com frequência cada vez maior, empresas e lideranças sob o escrutínio público. E o impacto é quase imediato seja no valor de mercado, no volume de vendas dos produtos e serviços e mesmo na capacidade de atrair e reter talentos. Na era da transparência forçada, o pensamento do romano Julio Cesar (“não basta ser honesto, tem que parecer honesto”) parece fazer mais sentido se for invertido. Em tempos de super transparência, as organizações precisam, antes de tudo, ser honestas, éticas, responsáveis com o planeta e com o conjunto de partes afetadas por suas operações. Nos tempos atuais, basta uma foto ou uma frase dita até mesmo em ambientes internos, sem holofote de publicidade, para expor incoerências entre discurso e prática. E a sociedade tem dado todos os sinais de que não irá tolerar mais essas contradições.

Para conquistar legitimidade social para existir e operar, não basta ter COERÊNCIA e praticar o que fala. É preciso construir confiança com os diferentes grupos de stakeholders. Como bem colocam Elisa Prado e Tatiana Maia Lins, no livro recém-publicado pela Aberje “Reputação e Valor Compartilhado”, a agenda ESG não é nova, mas vem promovendo uma mudança de comportamento sobre investimentos e consumo, e exigindo condutas mais éticas e com visão sistêmica para a geração de valor compartilhado com todos os stakeholders. Isso significa que, no mundo atual, entregar produtos e serviços de qualidade é o básico, o mínimo esperado de qualquer organização. Não é mais fator de diferenciação competitiva. E muito menos é suficiente para construir lastro de CONFIANÇA com a sociedade.

As organizações não são partes isoladas, elas fazem parte e compõem ecossistemas: seus funcionários e suas famílias, as empresas e as pessoas da sua cadeia de suprimentos, seus investidores, as comunidades e famílias ao redor das suas unidades, etc. Cada organização pertence a um grande ecossistema, e é parte da sociedade. A pesquisa mais recente da Edelman Trust Barometer revela que todos os stakeholders cobram responsabilidades das empresas. E tem crescido a expectativa e a pressão sobre as companhias em relação ao seu papel social. O que isso significa?

As organizações precisam dialogar, compreender, captar os sinais emitidos por todas essas partes interessadas e afetadas – e que também afetam os negócios. Quais são os temas que mais importam aos seus stakeholders e que se conectam com o negócio? Quais são os grandes desafios da humanidade que, a partir do próprio negócio, poderão ser endereçados e enfrentados? Há mais de uma década, 193 nações definiram os principais objetivos que deveriam ser alcançados por todos os povos, governos e organizações. Desde 2015, são 17 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Cada empresa deve avaliar a lista dos ODS e interpretá-los a partir da óptica do negócio. E, com isso, ajudar a sociedade a evoluir e construir um planeta mais saudável e justo.

Tomar CONSCIÊNCIA do seu poder, da sua influência e do seu impacto no mundo é a chave para essa nova economia. Não é à toa que o Capitalismo Consciente tem atraído atenção das lideranças que querem fazer diferente e estão comprometidas em colocar o seu poder a favor da sociedade, regenerando o meio ambiente, promovendo ações afirmativas para maior inclusão de grupos subrepresentados e operando em modelos de negócios que contribuem com a justiça social e os direitos humanos. O Capitalismo Consciente fornece o caminho para essa transformação.

O mais interessante é que esse movimento em direção à sociedade é exatamente o que pode levar as empresas a conquistarem legitimidade para operar. Para isso, no entanto, é preciso CORAGEM, porque implica abrir-se ao diálogo, à escuta empática, e, com isso, reconhecer-se vulnerável. Para construir uma agenda comum entre o negócio e a sociedade é preciso humildade para aprender e disposição para mudar. Coragem para ousar construir novos elos, novas formas de atuar com a sociedade civil e com os governos. É essa governança colaborativa que será capaz de garantir resultados melhores, mais éticos e responsáveis para todas as partes envolvidas. Não há tempo a perder.

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