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País não se prepara para a economia digital

País não se prepara para a economia digital
Escola Sesi Granbery vai aliar ensino e tecnologia | Crédito: Pixabay

A quinta edição do Ranking de Competitividade Digital 2021, realizado pelo International Institute for Management Development (IMD) em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), compara 64 nações em fatores associados às condições que um país cria para adotar, criar e promover tecnologias digitais nos setores público e privado.

Os resultados do Brasil não são bons. Estagnado, o País não acompanhou as mudanças necessárias para enfrentar o mundo que surge impactado pela pandemia. O relatório reforça a importância da adaptabilidade às novas ferramentas virtuais, que minimizaram o impacto do distanciamento social necessário para conter o avanço do vírus. Pode-se dizer que, no máximo, o Brasil andou de lado.

O Brasil se manteve em 51º, repetindo o resultado do ano anterior. Nesta edição, destacam-se os ganhos no Investimento em telecomunicações em proporção ao Produto Interno Bruto (0,5%, 21º), expresso pelas 17 posições conquistadas, e na percepção de que o treinamento dos funcionários é uma das prioridades das empresas (de 59º para 43º).

Apesar disso, o anuário não apresentou tantas mudanças em relação a alguns dos pontos em que o País se sobressai, tais como a proporção de pesquisadores do sexo feminino (49%, 8º) e a produtividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) medido pelo volume de publicações em proporção ao PIB (51.371, 8º), que se mantiveram relativamente estáveis.

As principais perdas se concentraram na quantidade de assinantes de banda larga (de 89,2% da população para 75,7%; da 23ª para a 30ª posição); no total de gastos em P&D em proporção ao PIB (de 1,26% em 2016 para 1,17% em 2018; da 31ª para a 35ª posição); e também na proporção da população usuária de internet.

Neste caso, apesar de ter crescido o número de usuários por 1.000 habitantes no Brasil (de 647 em 2017 para 724 em 2020), no ranking geral o País perdeu sete posições (de 46º para 53º) devido ao maior crescimento de outros países, a exemplo da Argentina que passou de 541 usuários por 1000 habitantes para 830, passando da 53ª para a 39ª posição.

Para o professor da Fundação Dom Cabral e diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, Carlos Arruda, do ponto de vista do acesso e do interesse da sociedade, não estamos atrasados. A sociedade brasileira tem consciência das necessidades, porém, estamos atrasados na implantação da indústria 4.0 e da infraestrutura 5G.

“Eu diria que não estamos atrasados, mas estamos lentos e isso pode impactar lá na frente. O relatório mostra que estamos avançando se comparados a nós mesmos, mas não o suficiente para nos reposicionar competitivamente no mundo”, explica Arruda.

Educação

Não existe digitalização sem tecnologia e não é possível desenvolver tecnologia sem educação. E, nesse caso, o Brasil precisa qualificar os seus investimentos. A pandemia apresentou grandes desafios à educação em todo o mundo a partir da necessidade do distanciamento social para evitar o alastramento da doença. As adaptações impuseram limites às metodologias de ensino e expuseram as fragilidades do acesso de diferentes classes sociais a equipamentos e conexões com redes de qualidade.

O relatório Education at a Glance 2021 cita o Brasil como um dos países com maior desigualdade educacional e digital entre estudantes de diferentes condições sociais. O levantamento indica ainda que o País não seguiu a tendência mundial ao não aumentar recursos destinados para o ensino fundamental. Por isso, em comparação ao último ano, houve uma perda de três posições no componente Gastos totais em educação.

Os bons resultados em concentração científica se devem ao fato de o País possuir importantes polos de pesquisas, em sua maioria Universidades Públicas, que são reconhecidas mundialmente por sua produção e representam grande parte das 59 instituições brasileiras presentes no ranking da The Times Higher Education 2022, que inclui mais de 1.600 universidades em 99 países a partir de uma análise de quatro pilares: Ensino, pesquisa, transferência de conhecimento e internacionalização.

Além disso, o Relatório Panorama da Ciência Brasileira do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), afirma que o País é o 13º maior produtor de conhecimento científico no mundo, sendo responsável por 3,2% da produção científica mundial em 2020 e com sucessivos aumentos de seu total, apesar da redução do investimento público no setor. O corte no orçamento do MCTI em 2021, em comparação com o ano anterior, foi de 29%.

No que diz respeito à presença feminina na ciência, o Brasil apresenta bons resultados, a exemplo da 8ª posição no ranking de porcentagem de pesquisadores do sexo feminino. Contudo, a representatividade das mulheres ainda se restringe a apenas alguns setores. Na área de ciência e tecnologia, as mulheres representam apenas 34% dos graduados e 20% dos profissionais atuantes com base na pesquisa realizada pelo Centro de Implementação de Políticas Públicas para Igualdade e Crescimento (CIPPEC).

Ainda que o dado geral seja bom, a Covid-19 afetou mais a produtividade acadêmica de mulheres brancas com filhos e de mulheres negras, com ou sem filhos, como mostra um levantamento do Parent In Science.

“O relatório mostra um fator crítico: a educação, a formação de pessoas. Precisamos avançar na formação técnica, nas universidades. A agenda social deveria ser prioridade para os setores público e privado, para formar, qualificar e requalificar pessoas. Já sabemos que a economia digital vai criar mais postos de trabalho do que os antigos que serão fechados, mas as pessoas não estão prontas para assumi-los ”, pontua o professor da FDC.

O Brasil está sem propósito, lamenta o professor Arruda | Crédito: Carol Reis

Sociedade precisa dialogar, cobrar e fazer mais, diz Arruda

A divulgação do Ranking de Competitividade Digital 2021 realizado pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), deu a dimensão de um problema que vem assombrando empresas de todo os setores no Brasil: a fuga de cérebros.

No estudo, dentro do fator Conhecimento, o item Talento é, certamente, o mais preocupante dentro dos resultados apresentados pelo Brasil. O País figurou no 63º lugar, ou seja, em penúltimo, atrás apenas da Venezuela. A abordagem adotada pelo Centro de Competitividade Mundial do Instituto IMD mede o talento na economia a partir de três frentes: Investimento e desenvolvimento de recursos destinados à educação, atração e retenção de talentos locais e qualidades das habilidades e competências disponíveis.

Por outro lado, a boa notícia é que observou-se uma melhora considerável do País na percepção de que o treinamento de empregados é uma prioridade nas empresas. Avançamos 16 posições, com um salto na avaliação, de 4,85 para 5,48 (em uma nota de 1 a 10). A avaliação reforça a importância das empresas de se entenderem como atores fundamentais no desenvolvimento profissional da força de trabalho de uma nação.

Segundo o professor da Fundação Dom Cabral e diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, Carlos Arruda, a sociedade precisa dialogar, cobrar e fazer mais. Todos têm responsabilidades.

“O lado bom dessa história é que as empresas já perceberam que elas precisam fazer sua parte, mas existe uma diferença entre saber e fazer. Se falta mão de obra qualificada, em vez de mudar de cidade atrás de profissionais, porque não criar uma escola? Ou apoiar ONGs que promovem capacitação? Ao mesmo tempo, precisamos de mais investimentos em pesquisa e em inovação”, afirma Arruda.

No ranking geral na América Latina, o Brasil aparece na segunda colocação, atrás apenas do Chile (39º). Em relação aos BRIC’S, grupo constituído por grandes economias, a China lidera ocupando o 15º lugar do ranking, seguida pela Rússia (42º), Índia (46º), Brasil (51º) e África do Sul (60º).

“O contexto digital é o mesmo para o mundo todo. A resposta é como o país lida com ele. O governo está, por exemplo, empenhado em facilitar a abertura de empresas mas, ao mesmo tempo, tira recursos da educação. O Brasil passa por uma perda de confiança mundial, o que afasta investimentos. A falta de pessoas tecnicamente qualificadas na direção do País também prejudica, assim como a falta de continuidade das estratégias. O Brasil está sem propósito”, lamenta o diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC.

O mundo

Os Estados Unidos permanecem no topo do ranking, com bons resultados principalmente em Prontidão Futura (1º) e Conhecimento (3º). Hong Kong assume a segunda colocação, subindo três posições em relação ao último ano, após melhoras em todos os subfatores de Tecnologia.

Suécia e Dinamarca completam os quatro primeiros lugares, nessa ordem. Singapura, que nas edições anteriores se encontrava em segundo, assume a quinta posição nesse ano após queda nos fatores Conhecimento e Tecnologia, principalmente no subfator de treinamento e educação, que obteve um declínio de seis colocações.

O destaque positivo foi conferido à Luxemburgo, avançando seis posições, enquanto a Polônia a maior queda, com perda de nove posições. De maneira geral, o ano foi de poucas mudanças, com variações de uma ou no máximo duas posições.

O estudo mostra que existem fortes relações entre a performance dos países durante a crise econômica e sanitária de 2020 com bons resultados no fator Prontidão Futura, frente a agilidade e adaptabilidades de suas economias à pandemia e da resiliência, demonstrada nas fases de recuperação econômica.

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