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Pandemia prejudica luta por igualdade no mercado de trabalho

Pandemia prejudica luta por igualdade no mercado de trabalho
Segundo Luciana Medeiros, da PwC Brasil, as mulheres foram mais atingidas pelos cortes | Crédito: Divulgação/PwC Brasil

A luta pela equidade de gênero no mercado de trabalho global encontrou na pandemia um entrave. De acordo com a pesquisa Women In Work Index, produzida pela PwC, a Covid-19 atrasou em, pelo menos, dois anos os avanços dessa agenda. O estudo aponta que serão necessários 33 anos para que a taxa de mulheres empregadas, hoje 69%, seja equivalente ao índice atual de homens, 80%, nas economias da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

No Brasil, o Benchmarking de Capital Humano da PwC, levantamento com empresas que representam 1/3 do PIB brasileiro, indica uma tendência similar: até 2019, houve um crescimento médio de representatividade feminina de 14% ao ano. A partir de 2020 e com um cenário de pandemia, a representatividade passou a retroceder na ordem de 12% ao ano – com uma maior queda no percentual de mulheres na liderança: -14%. Os indicadores de desligamentos demonstram o porquê: no período da Covid-19, as mulheres tinham 7% mais chance de pedirem demissão e 28% mais chance de serem dispensadas pelas empresas.

Quanto às projeções para equidade salarial, as perspectivas são ainda piores. O Women In Work Index indica que serão necessárias mais de seis décadas (63 anos) para que a remuneração delas seja igual aos ganhos deles. O intervalo para que a taxa de desemprego feminino caia para o patamar atual dos homens também não é animador: são estimados nove anos.

Ao comparar o desemprego com o crescimento das ocupações previstas antes da pandemia, descobriu-se que havia 5,1 milhões a mais de mulheres desempregadas e 5,2 milhões a menos de mulheres participando do mercado de trabalho do que seria a realidade, caso a pandemia não existisse.

A discrepância de realidades se acentua de maneira mais intensa quando colocamos sob perspectiva grupos étnicos minoritários. O mesmo estudo mostra que no Reino Unido, por exemplo, no terceiro trimestre de 2021, mulheres desses grupos estavam, em média, mais de uma década atrás das mulheres brancas em termos de desemprego e estão proporcionalmente piores do que estavam em 2011.

“Depois de uma década de ganhos lentos, mas consistentes, para as mulheres no mercado de trabalho em toda OCDE, vimos queda pela primeira vez. Essa realidade constatada pelo estudo se reflete também no cenário brasileiro. Por aqui, nossas mulheres foram mais atingidas pelos cortes e pela necessidade de deixar o mercado de trabalho afetando objetivamente a representatividade de gênero nas empresas. Há perspectivas de uma recuperação mais acelerada nos próximos anos do que vimos na última década, dado que nosso estudo de capital humano indica que as mulheres têm melhor formação – endereçando desafios como lacuna de competências – e maior engajamento. Ainda assim, serão necessárias políticas públicas e privadas para voltarmos a patamares pregressos de inclusão”, afirma a sócia da PwC Brasil, Luciana Medeiros.

Essa é a décima edição do Women In Work Index, pesquisa que avaliou resultados de empregabilidade feminina em 33 países da OCDE com base em disparidade salarial, participação delas no mercado de trabalho, taxas de desemprego e emprego em tempo integral.

Rotina doméstica e desemprego na pandemiaCuidar dos filhos e da casa contribuiu de forma significativa para que mulheres deixassem o mercado de trabalho. Um relatório da OCDE objeto de pesquisa para o Women In Work Index, da PwC, mostra que as mulheres assumiram mais responsabilidades não remuneradas durante a pandemia, o que as levou a deixar o trabalho mais que os homens.

De acordo com o estudo, as mães eram três vezes mais propensas do que os pais a assumir a maioria ou a totalidade do trabalho doméstico por conta do fechamento de escolas e creches.

“O cenário nos provocou a refletir ainda mais sobre a necessidade de mais flexibilidade no trabalho para equilibrar a rotina entre homens e mulheres no que tange os cuidados domésticos e com filhos, inclusive acerca de licenças de parentalidade iguais”, pontuou Luciana Medeiros.

Movimento Net-zero pode aumentar disparidade entre gênerosA transição para movimentos de neutralidade de carbono, como o Net-zero, pode ampliar a distância entre homens e mulheres na próxima década, segundo o mais recente Women In Work Index.

O estudo analisa que haverá mais empregos em 2030 em 15 dos 20 setores das economias da OCDE, principalmente, em serviços públicos, construção e manufatura, onde 31% da força de trabalho empregada é masculina, ante 11% de mulheres.

A PwC estima que a disparidade de empregos entre homens e mulheres nas economias da OCDE aumentará em 1,7 pontos percentuais até 2030, passando de 20,8%, em 2020, para 22,5%.

Profissionais do sexo feminino com mais de 40 anos possuem, em geral, vasta experiência | Crédito: Divulgação

Maturidade amplia comprometimento

A inserção no mercado de trabalho durante a pandemia não tem sido uma tarefa fácil, ainda mais para mulheres que estão entrando na casa dos 40 anos. Segundo o IBGE, a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou pelo 5° ano consecutivo, mas os salários ainda continuam baixos. Para elas, a remuneração é, em média, 22% menor que a de homens, que chega até 38% a mais em cargos gerenciais.

Um dos pontos positivos de contratar uma profissional mulher nesta idade é a lealdade e envolvimento, pois a chance de mudança de emprego é muito menor. O senso de responsabilidade e comprometimento também é forte, já que, na maioria das vezes, há plano de carreira dentro das organizações e estabilidade na vaga.

“Com certeza o comprometimento com as funções e as grandes responsabilidades atribuídas à essas mulheres são as principais razões da contratação”, afirma a Job Hunter e especialista em recolocação profissional, Maria Emilia Leme.

Entretanto, profissionais do sexo feminino com mais de 40 anos possuem vasta experiência, e isso para o mercado de trabalho é relativamente caro. Segundo uma pesquisa realizada pelo Linkedin em 2021, existem poucas vagas com a categoria Sênior e, com a pandemia, a contratação de mulheres para cargos de liderança regrediu. A alternativa, então, é buscar se aperfeiçoar no que já se sabe fazer, atualizar cursos e currículos, para assim subir alguns pontos na hora de uma seleção.

“O importante é buscar um especialista para descobrir o que é mais adequado ao perfil dela, porque todo recomeço exige uma definição de prioridades, planejamento e, principalmente, a prioridade do bem-estar físico e emocional”, completa Maria Emília Leme.

Nos últimos dois anos o empreendedorismo também foi uma forma de entrar no mercado de trabalho, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. No segundo semestre de 2021, o número de mulheres empreendedoras formais no País cresceu 29%, contra 16% no público masculino, um número que tende a ser bem maior em 2022.

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