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Para muito além das métricas

Para muito além das métricas
Denise Baumgratz | Crédito: Acervo pessoal/Filial Capitalismo Consciente BH

Quem não mede não gerencia, nos ensinou a Administração da Qualidade. Medir é essencial para saber onde se está, aonde se quer chegar, as lacunas a preencher e as oportunidades a alavancar. Por isso, os fatores ESG têm estado no centro das atenções. Com o apoio de indicadores, busca separar o joio do trigo, identificando negócios preocupados também com o longo prazo. No S de Social do ESG, os holofotes estão virados para a Diversidade e Inclusão (D&I), um recém-nascido no berço das organizações que, embora muito paparicado, precisa ser bem nutrido para crescer de forma saudável. Dentre os vários indicadores, estão aqueles que endereçam a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. Não à toa, pois é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, o ODS 5 da ONU.

Igualdade salarial de gênero, proporção de mulheres em cargos de liderança, promoções, novas contratações, entre outras métricas, podem nos dar um retrato da situação, mas lembrando que foto é estática. Para ganhar um formato dinâmico, a qualidade das relações também precisa ser avaliada. Portanto, além de apurar números, é preciso “medir” comportamentos.

Num momento em que estamos estarrecidos com o caso de São João do Meriti, é importante trabalharmos com mais afinco para eliminarmos todas as formas de violência contra mulheres e meninas. No contexto organizacional, mais do que “macroagressões”, as mulheres enfrentam “microagressões” diárias, como interrupção da fala, tons de voz elevados, comentários discriminatórios, questionamentos pelo estado emocional, pelos cuidados com a maternidade ou realização de atividades estereotipadas pontuais, como fazer a ata da reunião, por exemplo. São os vieses inconscientes (e conscientes) minando a inclusão.

Como nos lembra o professor da BabsonCollege e cofundador do Capitalismo Consciente, RajSisodia, as raízes da liderança moderna estão nos conflitos por terras e no exercício brutal do poder. A guerra apenas saiu dos campos de batalha e foi para as salas de reuniões. Portanto, é preciso influenciar as estruturas organizacionais para abrir espaço para ambientes mais saudáveis, pautados por valores como o cuidado e a empatia, naturalmente femininos, mas não exclusivo às mulheres. Na liderança integral almejada, os polos se complementam.

De fato, a pesquisa da McKinsey Women in the Workplace 2021 identificou que, na América do Norte, as gerentes investiram mais na saúde emocional da equipe e dedicaram duas vezes mais tempo em questões de D&I do que os homens. No entanto, cuidar sem ser cuidada tem um preço. O burnout foi relatado por 42% das mulheres em 2021 na comparação com 32% em 2020, um chocante aumento de 10 pontos percentuais. Nos homens, passou de 28% para 35%. Em outras palavras, não só as mulheres estão mais esgotadas como também se esgotam mais.

Mas há uma boa notícia. Se, por um lado, a pandemia trouxe maior sobrecarga física e emocional para as mulheres, por outro, ao propiciar práticas de trabalho mais flexíveis, abriu espaço para os talentos femininos. Segundo o relatório da Grant Thornton Women in Business 2022, as mulheres agora ocupam 32% dos principais cargos de liderança em empresas de médio porte em todo o mundo. No Brasil, 38% na comparação com 25% em 2019, um avanço considerável.

Modelos híbridos e voltados para a entrega acolhem bem as mulheres, pois, ao serem mais flexíveis, permitem que as diversas atividades sejam realizadas da melhor forma. Com necessidades individuais mais bem atendidas, as mulheres têm melhores condições de permanecerem nos cargos de liderança, o que também acaba atraindo as mais jovens e alimentando um ciclo virtuoso de atração e retenção de talentos.

Mas não basta somente ocupar cargos, é preciso fazer isso de forma saudável, em ambientes mais inclusivos e trabalhando melhor o autocuidado. O senso de propósito também é um aliado importante (tanto para mulheres como para homens). Ao nos colocar de cara com a morte, a pandemia também nos despertou o desejo por uma vida com mais significado, inclusive no campo profissional. Por isso, a importância de um propósito organizacional e de valores compartilhados, capazes de conectar as pessoas e as conduzir para um lugar de pertencimento e impacto positivo no mundo.

A nova economia em ascensão, ao ressignificar os negócios, nos pede muito mais do que métricas. Para além da quantidade, a qualidade. Para além do o quê, o como. Para além do tangível, o intangível que habita o território das conexões e nos permite evoluir como seres humanos. Por isso, se quem não mede não gerencia, quem não cuida do tecido social, não prospera.

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